Vagas para Economistas

Professor de Economia
 
Inscrições até 08/05/2024

DESCRIÇÃO DA VAGA
Estamos buscando um professor de economia para compor o nosso time.

Introdução à Economia
Curso Profissionalizante
Localidade Cachoeirinha
Horário das 19h. às 22h.
Enviar Currículo: j.pinto@terra.com.br

Novos cenários para a Região Sul do Estado


Marcelo de Oliveira Passos

Economista, Coordenador do Curso de Ciências Econômicas
Universidade Federal de Pelotas (UFPel)

 

 

Qual o perfil da economia da região Sul do Estado do RS?
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Gostaria de enfatizar que muitas dessas informações sobre a economia da Região Sul do Estado do RS estão presentes em artigo sobre uma rede complexa, baseada na Matriz de Insumo Produto da Região, que estou produzindo, junto com os pesquisadores Rodrigo Rocha Gonçalves, da FURG, e Gabrelito Menezes, aqui da UFPel. Nós fizemos uma análise com todos os setores produtivos dos 28 municípios que fazem parte da região do Conselho Regional de Desenvolvimento da Região Sul do Estado (Corede Sul). Encontramos um indicador chamado “Encadeamento para a Frente”, isto é, o quanto um setor produtivo é demandado pelos outros. E ranqueamos os setores mais demandados por outros setores da região. Constatamos que, de longe, o mais importante é o comércio, com um índice de 3.8, seguido por agricultura e silvicultura, com 2.14, abate produtos, com 2.01, construção, com 1.8, transporte de carga rodoviário com 1.73, outros produtos alimentares, com 1.5 , manutenção recuperação e instalação de máquinas e equipamentos, além de produção de madeira, armazenagem, intermediação financeira, entre outros.

E, dentro desse cenário, que segmentos mais demandaram insumos de outros setores?

É o que, no estudo, chamamos de “Encadeamento para Trás”. Em primeiro lugar abate e produtos, com um índice de 1.63, o que demonstra que a a economia da região ainda é fortemente baseada no setor tradicional da pecuária. Depois, o setor da alimentação, com um índice de 1.3; outros produtos alimentares, com 1.26; produtos de madeira, com 1.23; outros equipamentos de transporte, 1.22; perfumaria higiene e limpeza, 1.22, entre outros. Simultaneamente, aqueles setores que tiveram os maiores índices de encadeamento para a frente e para trás, maiores que um, são os mais importantes. São os que mais demandam e são mais demandados. Pela rdem, são os seguintes: pecuária e apoio; abate e produtos; outros produtos alimentares; produtos de madeira, excluindo móveis e fabricação de químicos, resinas etc.

Como os diferentes setores da economia regional vêm reagindo a esse período de pandemia?

O comércio, que é o setor mais dinâmico da região, sofreu bastante com os lockdowns. E também com a própria queda da demanda, mesmo nos períodos em que não ocorreram o lockdowns. O comércio sentiu porque uma boa parte do setor de comércio e serviços gira em torno das atividades, como o caso de Pelotas e Rio Grande, que envolvem escolas e universidades. Cabe lembrar que Pelotas é o terceiro pólo universitário do RS. Tem uma série de bares, comércio de alimentação, casas de festas, papelarias, imóveis de aluguel etc. que sentiram muito a queda da demanda. Muitos alunos saíram da região, retornando às suas casas, às suas cidades, ficando com aulas à distancia. Já outros setores, como agricultura, silvicultura, produtos de madeira e atividades ligadas a abates e produtos defensivos agrícolas, tintas e químicos tiveram um impulso decorrente principalmente da maior demanda externa, com a recuperação das economias chinesa, indiana e europeia. Estamos vivendo um superciclo de alta da demanda e de valorização das commodities. Isso de certa forma atenua os impactos nocivos da pandemia no comércio e serviços. Na área de construção, também houve uma recuperação notável na região, desde o ano passado, com pessoas, sobretudo famílias de renda mais alta, buscando imóveis maiores para adaptar-se ao novo momento de trabalho em home office. Mas isso ocorreu em meados do ano passado. Agora, os preços do material de construção subiram bastante e também a mão-de-obra do setor encareceu, o que reduziu um pouco o ciclo de expansão do ano passado. Mas o setor ainda está aquecido na região.

Que cenários esse crescimento de 1,2% do PIB brasileiro no primeiro trimestre deste ano, recentemente divulgado pelo IBGE, sinaliza para a economia da região?

É um indicador muito importante, embora, para a nossa região, o que vai realmente afetar positivamente a atividade econômica é a vacinação em massa e a retomada de exportações de commodities. Felizmente, o RS vem liderando as estatísticas de vacinação, e a tendência é que tenhamos uma recuperação maior em nosso Estado. Com a vacinação, espera-se que gradativamente o consumo das famílias volte a crescer, o que pode reduzir os estragos que a pandemia causou ao comércio da região.

O reconhecimento por parte da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), que coloca o RS como uma das novas zonas livres de febre aftosa também traz grandes espectativas à Região Região Sul do Estado?

A região tem o setor pecuarista como uma atividade tradicional e ainda muito importante, como foi dito. Então, os efeitos desse indicador tendem a ser muito positivos, já que impacta diretamente no setor de abates e produtos, assim como na agricultura e em todos os setores relacionados. Lógico que, num primeiro momento, haverá uma tendência natural de aumento do preço da carne, em função da aceleração das exportações, mas que, logo depois deverá ocorrer um aumento da oferta, com maiores investimentos, e aí o preço volta a estabilizar-se no médio e longo prazos.

Passados os piores momentos, quais os grandes desafios para a Região?

Um dos principais desafios para região é a questão dos transportes. Estamos, há muitos anos, tentando uma melhora de infraestrutura para as nossas rodovias que ligam a capital à região do extremo sul do estado. Somente agora isso vem acontecendo, desde o início do atual governo, com as obras do trecho da BR116 que vai de Porto Alegre à Rio Grande sendo retomadas pelo Exército. É uma obra importantíssima para a economia de Rio Grande, que depende muito da atividade portuária, e também para o escoamento da produção agrícola e redução dos custos de transação no setor. Outro grande desafio é a questão da desindustrialização. Essa região, sobretudo Pelotas e Rio Grande, já foram regiões industrializadas, com indústrias alimentícias importantes regionalmente nos anos 80. Mas que entraram em crise após essa década. Muitos ainda vêem a desindustrialização como um problema que só se resolve com um novo ciclo de investimentos industriais. Mas isso não é mais assim, hoje em dia. Já há sinais em Pelotas e em outras cidades como Florianópolis e Buenos Aires, de investimentos importantes na chamada economia criativa, baseada na produção de serviços e bens com conteúdos tecnológicos, startups, aplicativos, games etc. Nós temos duas universidades federais e outras privadas com bons cursos de ciência da computação, com ótimos professores e pesquisadores, estrutura adequada de laboratórios, mas que, infelizmente, exportamos cérebros para outras cidades. Muitas pessoas se qualificam aqui e saem pra trabalhar em outras regiões do País porque não encontram emprego na região.

E como mudar essa realidade?

Os sinais já apontam para uma mudança e um caminho para melhorar isso seria fomentar o empreendedorismo voltado para startups, para a economia criativa, para o lazer, para a produção de games, enfim, uma série de atividades voltadas para domínios de informática, de programação, ciência de dados e, também, o domínio de atividades mercadológicas, como empreendedorismo, marketing digital, enfim, habilidades que levem a uma expansão desses setores. O fato de uma economia se desestabilizar não significa a sua sentença de morte. Buenos Aires, que foi uma cidade que no passado teve uma indústria importante, desindustrializou-se, e hoje encontra-se muito focada na economia criativa, com uma ótima produção de cultura, cinema, aplicativos, música. Outra cidade é Florianópolis, que não tem uma base industrial comparável à Joinville, mas que possui uma economia criativa e polos tecnológicos relevantes. Então, é um caminho para a economia aqui da região, especialmente Pelotas e Rio Grande. Mas isso depende de um apoio governamental, de iniciativas empresariais, e do fortalecimento de uma cultura voltada para o empreendedorismo e para a inovação.

A arte como investimento e valorização da cultura

Maria Fernanda Santin

Economista, mestre em desenvolvimento econômico,
MBA em finanças e gestão de negócios, empresária
Corecon-RS Nº 6864

 


Por que resolveste migrar da área de consultoria para empreender?

Desde muito cedo, sempre me interessei por atividades empreendedoras. Aos 16 anos, fui emancipada juridicamente para poder ter meu próprio negócio. A partir daí, sempre gostei de descobrir nichos que tivessem a ver com meu perfil, o que é muito importante no momento de empreender, visto que a dedicação precisa ser grande. Por isso, considero que fazer algo que se gosta é um dos fatores para ter sucesso. Ao longo da minha carreira de economista, sempre trabalhei em grandes empresas, e, em paralelo, atuava como consultora econômica, produzindo análises, estudos de viabilidade, avaliações econômicas. E a vivência nas grandes empresas foi muito importante para que eu aprendesse novos temas e os colocassem em prática, seja nas próprias empresas ou nas consultorias que eu praticava ou mesmo nos meus próprios negócios. Com meu amadurecimento, percebi que dificilmente me encaixaria 100% no mundo corporativo, como funcionária. Sempre fui muito questionadora. Aprendi que tudo na vida precisa ter um propósito. E, muitas vezes, trabalhando como funcionária, você trabalha pelo propósito dos acionistas ou proprietários das empresas e não pelo seu próprio.

De onde saiu a ideia de empreender através da galeria?

A oportunidade de trazer a Galeria Clima de arte contemporânea para Porto Alegre partiu de um convite do meu primo, que fundou a Galeria em Brasília há mais de 20 anos. A Galeria, que, atualmente possui unidades em Brasília, Rio de Janeiro, Miami e agora em Porto Alegre, trabalha com artistas que possuem visibilidade no mundo das artes, apresentam um trabalho consistente e potencial de valorização ao decorrer do tempo. Isso foi um fator que me motivou bastante: oferecer arte de qualidade como uma alternativa de diversificação de investimento. E, por coincidência, ainda na época da faculdade, sempre pesquisava o tema da arte como investimento. Então, fiquei bem animada em poder colocar isso em prática.

Como conciliar investimento e acesso à cultura?

Em países mais maduros, a aquisição de obras de arte como alternativa de diversificação da carteira de investimento já é algo muito comum. No Brasil, temos o desafio de aculturar o investidor neste sentido. Por exemplo, obras de arte com potencial de valorização são relativamente caras, pois são precificadas considerando diversos fatores, tais como as técnicas e os processos criativos utilizados pelos artistas, consistência da carreira, exposições realizadas, obras em acervos, dentre outros fatores. O investidor não precisa necessariamente entender destes fatores para investir em arte. Para isso, basta se assessorar com especialistas no assunto, como se faz ao investir em ações. No entanto, para que haja o interesse em dar o primeiro passo, é necessário despertar e ampliar o olhar e isso passa por consumir mais cultura. A boa notícia é que acesso à cultura nesta perspectiva está cada vez mais fácil graças à internet. Hoje, você consegue visitar os grandes museus virtualmente, há centenas de vídeos disponíveis no youtube, dezenas de filmes nos canais de streaming, todos os conteúdos das redes sociais... Então, se torna mais fácil o mergulho neste mundo fantástico. Inclusive, nós temos um blog em que falamos sobre a história da arte, quem são nossos artistas, como investir em arte, etc. (www.galeriaclimapoa.com.br)

Qual o próximo passo da Galeria Clima?
A Galeria Clima tem um braço institucional forte, no sentido de buscar parcerias com instituições locais para desenvolver o mercado da arte local e assim, contribuir para ampliar o acesso à cultura e desmistificar a ideia de que as artes plásticas é acessível apenas à elite. Atualmente, temos uma parceria forte com o Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul e ainda para este ano, queremos trazer uma exposição de arte que acontecerá na sede própria do MAC-RS, no IV Distrito, que visa colocar o museu no circuito de arte da Capital e também arrecadar fundos para a continuação da reformada do espaço.

Como é empreender neste setor no Brasil?
O Brasil é considerado um país criativo por natureza. São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e o Rio Grande do Sul são os estados que possuem mais trabalhadores nos setores considerados criativos. Isso dá uma dimensão da efervescência do tema. Em específico, sobre o segmento de arte contemporânea no país, o mercado primário (quando a obra é vendida pela primeira vez) ainda é jovem. Porém, dinâmico e está em processo de expansão e internacionalização. Em torno de 75% das vendas acontecem no mercado primário. Neste mercado, as galerias possuem o desafio de identificar os artistas que julgam relevantes para representarem.

Quais os grandes desafios do setor?
No caso da Galeria Clima, o desafio de encontrar novos integrantes para compor nosso portfólio é um pouco maior, pois precisamos identificar os artistas que apresentam trabalhos consistentes, que possuem potencial de valorização ao longo de sua carreira, visto que um dos nossos direcionadores é oferecer arte como alternativa de diversificação de investimentos. Além de quê, a convergência entre a linha curatorial da Galeria e os artistas é muito importante. Em relação ao mercado secundário (quando a obra foi adquirida no mercado primário e está sendo revendida) este só é relevante quando falamos em obras de artistas de renome. Ao contrário, o valor das obras é baixo. Neste caso, ainda temos o desafio de lidar com a falsificação. Quanto maior o valor de uma obra, maior é o interesse dos falsificadores. Ao comprar uma obra falsificada, o investidor tem seu investimento reduzido a zero. Por isso, sempre é importante a aquisição por meio de galerias sérias, que se responsabilizam pela procedência das obras.

De que forma o curso de economia ajudou a entender melhor esse mercado?
O curso de economia me deu as bases para analisar e entender quaisquer mercados que eu venha a me interessar. Análises setoriais e concorrenciais, tendências de médio e longo prazo, retorno do investimento, formação de preços e tantos outros temas abordados pela economia são essenciais para se entender o setor que se pretende entrar e também para estruturar o negócio, que precisa ser viável do ponto de vista financeiro. A abrangência dos temas econômicos me deu base para expandir em diversos outros temas correlatos, uma vez que ensina a pensar nas relações entre agentes em diversos contextos. Se eu tivesse que escolher novamente um curso, com certeza, seria a economia.

 

De Circense à Economista

Amanda Schmidt Stevanovich
Economista, Especialista e Assessora de investimentos
na InvestSmart - XP Investimentos


De onde saiu o gosto pela economia?

A minha família é circense e vive da arte e da cultura há cinco gerações. Quando eu era criança, tinha vergonha de me apresentar no palco e o que eu gostava mesmo era de ficar escondida na bilheteria do circo e nos caixas da praça de alimentação, mexendo com dinheiro e atendendo o público. Buscando um caminho diferente da minha família e unindo a minha paixão por números, dinheiro, pessoas e estudos, escolhi o curso de Economia na Universidade Federal de Santa Catarina.

Como surgiu o projeto de trabalho, o Push Econômico, que você chegou a desenvolver?

O Push Econômico surgiu há um ano atrás, quando começou a pandemia e tínhamos muitas mudanças econômicas e políticas acontecendo no Brasil e no mundo. Quando vi que as pessoas não estavam entendendo por que a taxa de juros estava caindo, o dólar subindo e muitas outras mudanças acontecendo, senti a necessidade de expor meu conhecimento sobre economia nas redes sociais. O Push Econômico também serviu como um desafio. Queria vencer meu medo de me expor em público, e as redes sociais funcionaram como um palco, que eu não tinha vivido no circo. Em pouco tempo, mesmo sem ir atrás, recebi várias propostas de trabalho na assessoria de investimentos.

Por que a Assessoria de investimentos?

Três palavras definem a assessoria de investimentos e me instigam como profissional: dinâmica, conhecimento e desafios. Você precisa estar sempre informado e estudando o que está acontecendo nos mercados, e ainda precisa estar envolvido com o dinamismo de prospectar e conquistar novos clientes. Vejo, também, como a profissão do futuro. A profissão do assessor de investimentos é uma das mais nobres nos Estados Unidos. Cerca de 90% dos americanos investem com os “Financial Advisors”. Aqui no Brasil, os números ainda são o contrário, onde cerca de 90% das pessoas ainda investem em bancos tradicionais. Porém, existe o crescente interesse do brasileiro por investimentos e a mudança de mentalidade sobre o mercado financeiro. Esse movimento chegou para ficar e não tem mais volta.

O que faz o assessor de investimentos?

O assessor de investimentos é um elo entre o investidor e o mercado financeiro. Ele identifica as necessidades e objetivos de pessoas e de empresas, direcionando aos investimentos e produtos mais adequados de acordo com cada perfil e objetivo.

O que é necessário para a pessoa que quer investir?

Saber se planejar financeiramente é essencial. Saber suas receitas, despesas, capacidade de poupança e objetivos pessoais são essenciais para começar a traçar uma carteira e um plano de investimento. Não existe uma fórmula mágica de uma carteira de investimentos ou de um investimento em si. A pessoa tem que levar o valor que ela quer, mais o prazo e a finalidade, para resultar no objetivo. Essa é a fórmula. Claro que se tiver um excelente profissional que faça isso para você, certamente vai fazer muita diferença lá na frente. A ideia de procurar um médico especialista em joelho quando ele dói é a mesma de quando você procura um especialista nas finanças quando você tem necessidade de investir.

E o risco, onde entra?

É muito importante a pessoa identificar o tipo de investidor que é. Se você é do tipo conservador, moderado ou agressivo. Basicamente: “qual o tipo de restaurante você quer frequentar?”. O perfil conservador é aquele em que a pessoa aceita perdas, quer sempre rendimentos constantes. O moderado é um investidor que gosta de preservar a parte conservadora, mas aceita tomar um investimento com um pouquinho de risco. Não é avesso a perdas, mas gosta de manter a parte do seu perfil conservador. O perfil agressivo é o investidor que aceita melhor o risco para buscar maior retorno. Todo investimento tem risco, até mesmo comprar um imóvel ou colocar o dinheiro na poupança. Por isso é importante você entender em qual tipo de perfil você se encaixa para entender qual tipo de risco tomar.

Nesse período de pandemia, que tipo de investimento é mais interessante. A compra de um imóvel pode ser uma alternativa?

Existem investimentos interessantes no mercado financeiro o tempo todo. Tudo depende do que você quer. O investimento financeiro mais adequado faz parte do perfil e da finalidade de cada pessoa. Os juros baixos e as incertezas econômicas desencadearam o movimento da busca pelos imóveis e o investimento na economia real. Agora, entre comprar um imóvel ou aplicar o dinheiro, também vai depender do custo de oportunidade. Você pode comprar um imóvel ou um terreno em determinada região que vai dobrar, triplicar ou quadruplicar de valor em pouco tempo. Também tem que levar em consideração os planos pessoais. Muitas pessoas tem o sonho de ter a casa própria e não vejo nada de errado com isso. Hoje, com conhecimentos no mercado, não sinto a necessidade de ter um imóvel. Sei fazer uma carteira de investimentos com fundos imobiliários que me gera um aluguel mensal, com liquidez e isento de imposto de renda.

Qual a sugestão que deixas para estudantes de Economia que pretendem conhecer e aprender a trabalhar com assessoria de investimentos?

Estude e tenha bons relacionamentos. Certamente, essas duas qualidades te levarão ao caminho do sucesso na assessoria de investimentos.

As lições de Mundell, Nobel de Economia e “pai” intelectual do euro


Ernani Hickmann
Professor da Escola de Pós-Graduação em Economia (EPGE) Fundação Getúlio Vargas (FGV),
Coordenador dos Cursos de Graduação Latus Sensu da FGV

 

 

Qual o legado para a economia contemporânea, deixado pelo economista canadense Robert Alexander Mundell, Nobel de Economia em 1999 e considerado o “pai” intelectual do euro, falecido na última semana, na Itália?

Mundell nasceu em 24 de outubro de 1932, em Kingston/Ontário, no Canadá. Graduou-se pelo Departamento de Economia da Universidade Britânica de Colúmbia (UBC), em Vancouver. Obteve seu mestrado na Universidade de Washington, em Seattle, e frequentou o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), onde obteve seu doutorado em economia. Suas principais contribuições foram, por um lado, a chamada economia da oferta, corrente econômica surgida na década de 70, por influência de Mundell e de Arthur Laffer, que analisava o efeito de diminuições da carga fiscal sem que houvesse necessariamente cortes na despesa pública. Em segundo lugar, a contribuição dele para a macroeconomia internacional, ao colocar seus modelos macroeconômicos para o desenvolvimento de economias fechadas, provocando uma mudança de comportamento de ideias nos demais países. E, depois, a própria criação, junto com Marcus Fleming, do chamado Modelo Mundell-Fleming, de economia aberta, e a criação dos desenvolvimentos das áreas ótimas de moedas. Uma análise sobre que condições e características devem ter determinados países, estados ou regiões, para que uma moeda única entre eles ofereça o que se espera de uma moeda.

Nos anos 70, ele teve uma participação muito direta junto ao governo Reagan. Como foi essa ação?

A maior contribuição de Mundell aconteceu, a meu ver, na época do presidente Reagan, nos EUA. Eu credito a ele boa parte do desenvolvimento da tecnologia a partir da década de 70. Ele, com suas recomendações ao presidente Reagan, criou as condições para que houvesse toda a grande revolução da informática, de internet, enfim, de tudo o que se seguiu em termos de modernização tecnológica do mundo.

Que mudanças foram propostas?

Até a época do presidente Reagan as empresas e grandes corporações dos EUA, eram taxadas pelo imposto de renda da pessoa jurídica, com uma alíquota marginal de mais de 70%. Isso quer dizer que os lucros superiores a um patamar relativamente baixo, o lucro adicional era tributado em 70 a 75%, o que levava a ausência total de investimentos. Se você vai fazer um investimento que vai ter que entregar 75% dos seus resultados para o governo, você não vai investir. E foi a recomendação dele, juntamente com Laffer, ao então presidente Reagan, sobre a necessidade de reduzir esta alíquota para uma faixa de tributação considerada normal, que era de 25%. Então, os lucros das empresas, que eram tributados em 75% baixaram para 25%, gerando um grande fluxo de investimentos privados no desenvolvimento de novas tecnologias. E foi por isso que as grandes empresas surgiram, investiram e criaram a revolução da informática, que mudou o mundo. Por isso, considero a principal contribuição dele à economia. Com esse ativo aos investimentos, e isso está ligado à economia da oferta, a qual Mundell era talvez o principal teórico.

O senhor, como amigo dele, discutia seguidamente esses pensamentos e contribuições?

Discuti longamente com Mundell essas contribuições, já que ele foi o meu orientador no Pós-Doutorado na Universidade de Columbia, lá pelos anos de 1991, 92, 93. Depois disso, o acompanhei em organizações de eventos internacionais. Participamos juntos do Reinventing Brettonwoods Commitee, que reunia algumas vezes por ano, em diversos países, um grupo de economistas do mundo inteiro, para discutir políticas cambiais e uma nova arquitetura financeira internacional para substituir a que tinha sido criada após a segunda grande guerra. O grupo se chamava Reinventando Brentwoods. Viajava pelo mundo todo, todas as semanas um país, ministrando aulas, dando conferências, assessorando governos e organizações privadas. Estava com ele no dia de seu aniversário, em 2014, e nos encontraríamos novamente no dia seguinte para almoçar com seus filhos. Só que, à noite, sofreu um grave AVC, fato que acabou tirando-lhe a capacidade de se locomover e de se comunicar, afastando-o definitivamente das reuniões e conferências, até o momento em que veio a falecer, na semana passada, aos 88 anos de idade.

Qual a relação do Modelo Mundell-Fleming com o keynesianismo?

Basicamente o modelo keynesiano, assim como as popularizações do mesmo, que a maioria das pessoas conhecem como sendo o modelo IS/LM, é um modelo de uma macroeconomia fechada, onde foi introduzido o setor externo. Mundell internacionalizou o modelo keynesiano, que tinha sido popularizado por John Hicks, passando a incluir as variáveis externas, permitindo formular políticas monetárias e fiscais adequadas para um mundo globalizado.

Como chegou ao Prêmio Nobel de Economia?

Mundell recebeu o Prêmio Nobel de Economia em 1999, por suas contribuições na área das políticas monetária, fiscal e cambial, e por ter criado a teoria das áreas monetárias ótimas, que serviu de base para a criação de moedas de âmbito multinacional, como o euro.

O professor Mundell esteve em Porto Alegre no ano 2000. O que o trouxe aqui?

Eu e ele organizamos, em abril e maio de 2000, pela Escola de Pós-Graduação em Economia da Fundação Getúlio Vargas, uma grande conferência internacional, "Mercosul - O Desafio de uma União Monetária”. Foi realizada no Hotel Plaza São Rafael, onde se discutiu as possibilidades da criação de uma moeda única para os países do Mercosul. Além da capital gaúcha, a conferência teve extensões no Rio de Janeiro e em São Paulo, e contou com a presença do então presidente Fernando Henrique Cardoso e de diversos economistas do mundo todo, inclusive o então todo poderoso ministro da Economia argentino, Domingos Cavalo. Foi o evento comemorativo ao lançamento do primeiro número do Jornal Valor Econômico.

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