Vagas para Economistas

Analista de Planejamento e Performance III
 
LOJAS RENNER
Inscrições internas até 15/04

DESCRIÇÃO DA VAGA
Estamos buscando uma pessoa Analista de Planejamento e Performance para compor o nosso time.

REQUISITOS E QUALIFICAÇÕES
  • Formação Completa em Engenharias, Economia, Contabilidade e Administração;
  • Capacidade analítica e de resolução de problemas;
  • Capacidade de síntese e de preparação de materiais executivos;
  • Domínio de Excel e Power point;
  • Familiaridade com Power BI.
 

Mulher, mercado de trabalho e pós-pandemia

 

Dirlene Silva

Economista, Mentora, Coach e Consultora de Inteligência Financeira,
CEO na DS Estratégias e Inteligência Financeira
Corecon-RS Nº  6597

 

Como está a situação da mulher no mercado de trabalho, nesse período pós-pandemia?

Historicamente, as mulheres são as mais vulneráveis no mercado de trabalho. Na pandemia, elas foram as mais afetadas. Ao longo da pandemia, o Brasil registrou 825 mil postos de trabalho encerrados, sendo que, desse número, um pouco mais de 593 mil são mulheres, significando 72% de desempregadas. Aí, quando se faz um recorte das mulheres negras, elas representam a maior parte.

E como as mulheres lidaram com essa dura realidade do desemprego ao longo da pandemia?

Quando há uma perda de renda, uma situação de desemprego, e, principalmente numa pandemia que não havia sido prevista, registrou-se uma grande corrida pela sobrevivência, onde muitas mulheres não conseguiram retornar ao mercado de trabalho. Também tiveram muitas dificuldades em relação aos seus filhos, pois creches e escolas foram fechadas, não tendo com quem deixar seus filhos e precisavam trabalhar. Então, a alternativa foi optar pelo empreendedorismo, informal ou via MEI. Mas o que aconteceu é que o empreendedorismo foi realizado, na maioria das vezes, sem qualquer tipo de planejamento, o que já começa de uma forma equivocada. Claro que muitas delas conseguiram fazer daquele empreendedorismo, mesmo que construído num ambiente de necessidade, se tornar realmente algo muito agradável. Algumas iniciaram por necessidade, buscando uma renda provisória e emergencial enquanto não conseguiam um emprego, e, ao longo do processo, acabaram percebendo que aquele método era uma alternativa absolutamente viável para sobreviver e, às vezes, até bem melhor e rentável que através de um emprego tradicional. Ou seja, descobriram pela necessidade que o empreendedorismo poderia ser uma caminho muito melhor. Claro que esse é o lado bom da história. Infelizmente, muitas mulheres ainda se encontram em situação vulnerável, de subemprego, desempenhando atividades que não as realizam, de que elas não gostam, ainda por necessidade extrema, de ter um rendimento para garantir, pelo menos provisoriamente, sua sobrevivência e de sua família. Percebe-se que agora com o retorno do presencial existem várias empresas que optaram pelo formato de trabalho home-office, híbrido e, outras, que já voltaram pelo sistema presencial de trabalho. Então, a situação está retornando aos poucos numa normalidade e, mais importante, com uma preocupação por parte das empresas muito maior com seus colaboradores, seja através de uma postura de RH mais humanitário, de preocupação com a saúde mental, enfim, com a essência do ser humano e entendimento de que os resultados que são atingidos pelas pessoas.

O que aconteceu com as mulheres que não conseguiram se adaptar com a pandemia?

Neste momento de pós-pandemia, as mulheres optam por retornarem ao mercado de trabalho. Temos que entender que passamos por um momento muito delicado, comparado a uma guerra, que não foi previsto e que as pessoas tiveram que se ajustar rapidamente. Importante entendermos que nós não somos mais os mesmos. As pessoas não são mais as mesmas e a s empresas também não são mais as mesmas. E as empresas são feitas pelas pessoas. Então, existe aí nesse novo modelo de trabalho, home-office ou presencial, essa busca das mulheres para se ajustarem a essa nova realidade. Só que muitas delas, como foram picadas pelo empreendedorismo, mesmo que retornem ao mercado de trabalho, o fazem de maneira muito mais responsável, planejada, com mais conhecimento, com aquela ideia de que vai planejar melhor seus negócios, de fazer reserva financeira para o futuro, para posteriormente, se for o caso, retomar àquela ideia de empreendedorismo mais racional e consciente. Mas claro que a situação hoje é muito melhor do que na época da pandemia, de 2020, já que, agora, existe uma retomada dos novos postos de trabalho. Muitas mulheres estão se dando bem, mas outras tantas ainda continuam por aí, sobrevivendo de trabalhos informais, sem alternativas, já que têm que garantir o seu dinheiro imediato para a sua sobrevivência.

Que classes sociais foram mais impactadas pela pandemia?

A gente sabe que nessas situações as classes mais pobres sempre são as mais afetadas. Os dados revelam que 81% dos desempregados pertencem às classes D e F. Na maioria, são trabalhos operacionais, sem muita especialização, e, considerando que a maioria dos desempregados são mulheres e mulheres negras, as atividades que essas pessoas exercem, são trabalhos domésticos, em que, durante a pandemia, com o modelo de trabalho home-office, em que os trabalhadores ficavam mais tempo em casa, muitas, por não haver mais necessidade, foram dispensadas de suas atividades, agravando mais ainda o que já era considerada uma situação precária de trabalho. Não é à toa que chamamos de segmento mais vulnerável. E também não é à toa que o índice de pobreza aumentou e muito. Para se ter uma ideia, em 2014, tínhamos 16% da população brasileira consideradas pobres, e hoje temos 23,7%. Naquele ano, 2,7% das pessoas estavam classificadas como na linha de extrema pobreza e hoje temos 6,3% da população. Significa que 5,2 milhões de brasileiros vivem atualmente em situação de extrema pobreza. E, quando se fala em extrema pobreza, falamos também em segurança alimentar. Tem tudo a ver com pandemia e tudo a ver com desemprego também. Podemos ainda falar em encolhimento da classe C, já que hoje, no Brasil, existe um percentual maior de pobres, composto por pessoas que haviam ascendido para a classe C e que agora retornaram para as classes D e E.

Qual a importância da educação financeira para as pessoas que estão passando por essa situação de vulnerabilidade?

Eu acredito de mais no poder da educação financeira e da educação propriamente dita, que é o que vai transformar as pessoas que vão mudar o mundo, como diz Paulo Freire. Então, a minha empresa, que é de consultoria e mentoria, é norteada por um pensamento que a rege, com base nas propostas de Augusto Cury, que diz que “sem sonhos a vida não tem brilho, sem metas os sonhos não têm metas e sem prioridades os sonhos não se realizam”. Sigo essa filosofia porque faz sentido para mim, pois eu transformei o meu grande sonho, que era ser economista, no meu objetivo de vida, mesmo num ambiente familiar de muitas dificuldades financeiras. A partir desse grande objetivo, passei a traçar metas. E, para conseguir atingir essas metas eu precisei priorizar o controle do consumo. Então, na vida pessoal ou da empresa, têm que existir priorizações. Ou seja, a gente pode transformar sonhos em objetivos e, a partir daí, transformar esses sonhos em metas e, assim, priorizar o consumo para atingir as metas e, consequentemente, nossos objetivos, que são o nosso sonho.

Ainda existe preconceito de que a educação financeira serve apenas para quem tem recursos sobrando?

Sim, existe. Mas, agora, de forma bem menor do que já foi. Educação financeira é importante para todas as classes sociais, das mais ricas às menos favorecidas. Ao longo da minha vida ouvi muito isso, especialmente por pertencer a uma classe social menos favorecida. As pessoas me diziam que eu deveria buscar determinado tipo de trabalho e não perder tempo investindo em estudo, educação. Quando decidi empreender, num primeiro momento meu foco era voltado às pessoas jurídicas e mais tarde entendi que poderia ajudar as pessoas também. Pois encontrei um diferencial... que seria justamente mostrar às pessoas que finanças é para todos. A proposta de minha empresa é desmistificar economia e finanças, estendendo-as para as pessoas e para as empresas, já que a economia está em nosso dia a dia. Existe sim um tabu muito forte de que economia e financeira são assuntos de elite, somente para quem tem dinheiro. Entretanto, educação financeira não é apenas para fazer investimentos. Educação financeira é para vida. Seja na hora de juntar dinheiro para comprar uma casa, um carro, pagar o aluguel, ir no supermercado, enfim. Não nos damos conta de que tudo isso é economia que está presente em nosso dia a dia. A educação financeira é conhecimento sobre finanças que, se eu não colocar em prática, não conseguirei administrar de forma ao menos responsável minha vida. Se alguém recebe mensalmente dois salários mínimos, o conhecimento da educação financeira não vai fazer render esse valor, mas seguramente vai proporcionar condições de melhor analisar e gerir esse valor ao longo do mês. Os conceitos e conhecimentos de educação financeira são uma ferramenta que nos permite aplicar recursos da melhor forma possível. Então, educação financeira é para todos, sim. E, especialmente para as populações mais pobres, mais carentes, ela pode fazer uma diferença ainda maior.

Gostaria de deixar alguma mensagem?

Além de deixar o convite para que as pessoas prestem mais atenção à educação financeira como uma forma de vida mais confortável e responsável, deixo aqui os meus contatos nas redes sociais e convido a todos para seguirem @dirlenesilva, no linkedin, e @dirlene.economista, no instagram. Lembrando, ainda, que recentemente lancei meu site, que é o www.dirlenesilva.com.br , através do qual disponibilizo muito material interessante, não apenas sobre educação financeira, mas sobre economia social, como um todo.

Adelar: “Tudo pronto para as nossas eleições”



O Conselho Regional de Economia do RS realiza, de 27 a 31 de outubro próximo, as eleições para a renovação de um terço de seus Conselheiros. A votação acontecerá das 8 horas do dia 27 até as 20 horas do dia 31, e será realizada novamente pela internet, através do site
www.votaeconomista.org.br. O processo eleitoral é totalmente seguro e verificado por auditores externos, o que, além de legitimá-lo, o torna mais democrático, fortalecendo ainda mais a representatividade da categoria. A participação de todos os economistas é muito importante!
Sobre este assunto, conversamos com o presidente da Comissão Eleitoral, economista Adelar Ferreira.

 

 

Como estão os preparativos para mais uma etapa do processo eleitoral, que é a preparação da estrutura necessária para atender à votação?

Os preparativos estão sendo obedecidos nos seus prazos, tendo já sido efetuada a publicação no Diário Oficial, definidas as datas das eleições, que vão do dia 27 a 30 de outubro, e o Colégio Eleitoral também já foi definido e será divulgado no dia 20 de outubro próximo. Enfim, os prazos normativos do Cofecon e do Corecon estão sendo observados e a estrutura e os procedimentos também estão sendo obedecidos de forma regular.

Qual a importância de o economista participar da votação?

A participação do economista é essencial porque o seu voto define os rumos e o enfoque a ser seguido pelo nosso Corecon-RS. O economista pode ter certeza absoluta que sua participação no processo está sendo reconhecido e será reconhecido no decorrer da gestão desse um terço de conselheiros que será eleito neste pleito de outubro e que virá a se somar aos demais. Então, esta é a grande relevância do pleito, principalmente porque há uma oxigenação, uma substituição, uma troca permanente gradativa e periódica. E essa é a essência da democracia neste ano de 2022.

Este ano novamente as eleições serão pela internet?

Sim. Neste ano, mais uma vez, as eleições ocorrerão exclusivamente pela internet. Procedimento este que o Corecon já vinha adotando antes da pandemia, embora não de forma exclusiva. Um procedimento que se mostrou eficiente e absolutamente seguro diante da pandemia e, também, em função das agendas dos profissionais economistas eleitores. O Cofecon observou todos os aspectos da modernidade, do distanciamento social, da agenda dos colegas, que se encontram permanentemente ocupados, e, de uma forma moderna, precisa, justa e segura, já que o Cofecon e os Corecons foram se aprimorando no decorrer do tempo e criando mecanismos de absoluto controle.

Quais as exigências para o economista poder participar do processo de votação?

Via de regra, são aquelas típicas de uma entidade como a nossa, que todos os anos se repetem, mas faço questão de lembrá-las. O economista deve estar devidamente registrado no Corecon, adimplente junto à Secretaria do Conselho até o dia 17 de outubro de 2022, e, então, acessar o site WWW.votaeconomista.com.br para recuperar a sua senha e exercer o seu direito, que é muito importante e é uma espécie de prestígio à classe.

Quais as expectativas com essas eleições?

A gente sempre espera que a participação dos colegas seja maior que os anos anteriores. Porque, como eu disse, é um prestígio à classe, aos colegas e à sua própria participação dentro deste Conselho. Ou seja, o economista do corecon-RS é que vai votar nos economistas que nos representarão junto ao mercado, às entidades regularmente estabelecidas e junto à sociedade como um todo.

Quando conheceremos os resultados?

A publicação dos resultados, de uma forma geral, tem sido no mesmo dia em que se encerra a votação, tendo em vista a modernidade do procedimento, a sua segurança, que é observada permanentemente. Existe um procedimento chamado Zerésima, que a gente adota no início e no fim. Efetuado esse procedimento de Zerésima no final, imediatamente é feita a tabulação dos votos e, com isso, também num prazo bem razoável e bem rápido, é publicado o resultado da votação. No RS, no caso do Corecon, teremos uma chapa. Então, espero que, se tudo der certo, até o dia 31 de outubro, à noite, será informado o resultado da votação, com todos os números que a compõem. Esperamos que esta eleição tenha uma grande participação dos colegas.

Violência por parceiro íntimo no Brasil é tema de Doutorado Sanduíche nos EUA


Júlia Sbroglio Rizzotto

Economista, Doutoranda na PUCRS e pesquisadora visitante na San Diego State University (SDSU)
e University of Illinois Urbana-Champaign (UIUC), nos EUA, vencedora Prêmio Corecon-RS 2021
Corecon-RS Nº 8625

 

Qual o objetivo do trabalho “Does the existence of a women's police station increase the costs of committing aggression”?

O estudo busca calcular a distância da unidade de saúde até a Delegacia da Mulher (DEAM) mais próxima. O passo seguinte foi estimar o efeito dessa distância sobre a violência, uma vez que essa distância pode reduzir os incentivos à agressão porque a proximidade facilitaria a denúncia e dessa forma, o agressor teria mais chance de ser punido. O trabalho apontou, através dos dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) do Ministério da Saúde para o período de 2010 a 2019, que as mulheres que estão mais afastadas da delegacia têm maior probabilidade de sofrer violência. Nesse arcabouço, facilitar os mecanismos de acesso a órgãos de denuncia como a delegacia da mulher assim como preparar os profissionais de saúde para acolherem essas mulheres e realizar os encaminhamentos necessários são medidas importantes para a proteção dessas vítimas.

Como está a situação no Brasil comparado a outros países?

O Brasil é o quinto país com mais assassinatos de mulheres entre 83 países pesquisados pela Organização Mundial da Saúde. Um estudo feito pela Organização das Nações Unidas apontou que 34% das brasileiras já sofreram violência de parceiro íntimo.

Quais as principais causas da violência contra a mulher?

A violência ocorre por diversas maneiras, seja a mulher desafiando o papel do homem ao conseguir um emprego de maior prestígio, seja por ciúmes dela. O grande problema da violência contra a mulher é a questão da denúncia. As mulheres demoram a quebrar o silêncio, ou pela falta de segurança no sistema judiciário, ou por acharem que o marido irá mudar, ou, mesmo, porque ele é o pai dos filhos e não, naquele momento, julga que não deveria seguir adiante. Além disso, a distância até o mecanismo de denúncia é extremamente importante. Até porque as mulheres que moram mais longe têm mais dificuldade de acesso a esses mecanismos.

Existe forma de mensurar o impacto econômico resultante desse tipo de violência?

A literatura aponta que a mulher vítima de violência tem mais problemas de saúde físicos e mentais, além de perda de produtividade no trabalho. Além disso, elas possuem históricos de trabalhos inconsistentes e a perda de produtividade pode acarretar uma perda salarial ou uma não promoção por parte da empresa. Portanto, uma forma de mensurar esse impacto seria analisando questões relacionadas ao mercado de trabalho ou a saúde da mulher.

Como foi sua motivação em trabalhar com a economia da família e com a professora Shoshana Grosbard, uma das líderes e criadora deste campo na Economia?

Entrei em contato com a professora Shoshana justamente por ela ser referência no tema de Economia da Família. Sempre tive interesse em me aprofundar nessa área, uma vez que está extremamente correlacionada com a questão da violência doméstica. A professora Shoshana desenvolveu um modelo de economia da família chamado Work-in-Household (WIHO), que busca analisar o serviço prestado por um membro da família em benefício de outro. Na San Diego State University (SDSU), tive a oportunidade de participar das aulas da professora Shoshana e compreender mais a fundo as dinâmicas familiares. Com certeza, foi uma experiência fundamental para a minha carreira acadêmica.

Qual a importância desta área para a economia, tanto do ponto de vista teórico, como para a formulação de políticas públicas?

A área de economia da família lida com as dinâmicas e as decisões familiares. E claro, economia da família engloba as questões de violência contra a mulher, uma vez que na maioria das vezes os agressores são pessoas do círculo familiar da mulher, seja o marido, ex-marido ou até o pai e os filhos. Portanto, entender o âmbito familiar é importante, não só para compreender as teorias da violência doméstica, como também para formular políticas públicas a fim de reduzir e tornar as denúncias seguras. No Brasil, em 2018, tínhamos uma delegacia da mulher para aproximadamente 12 municípios. Essas delegacias foram formuladas com o intuito de deixar a mulher mais seguras na hora de realizar a denúncia, uma vez que todo o staff deveria ser composto por policiais mulheres e ter uma sala separada para as crianças. Entretanto, sabemos que as delegacias não conseguem cumprir com os requisitos estabelecidos na Norma Técnica de Padronização das Delegacias Especializadas de Mulheres (DEAMs). Sendo assim, é necessário entendermos a importância desses mecanismos para que possamos cada vez mais desenvolver e aprimorar as questões protetivas relacionadas a violência contra a mulher.

Como tem sido sua experiência acadêmica nos EUA e quais as principais diferenças que você tem visto?

Minha experiencia tem sido extremamente positiva. No primeiro semestre, fiquei na San Diego State University (SDSU), sob supervisão da professora Shoshana Grossbard, e, no segundo semestre estou na University of Illinois Urbana-Champaign (UIUC), sob supervisão da professora Mary Paula Arends-Kuenning. A principal diferença para o ensino no Brasil é a diversidade dos cursos ofertados aos alunos, desde programação até temas específicos como Mulheres na Economia e Economia do trabalho e da Família. Além disso, nos EUA eles ofertam diversos seminários para que os alunos possam apresentar suas pesquisas e assistir outros pesquisadores.

Renúncia de receita e crescimento econômico


Rosa Angela Chieza

Economista, Professora da Ufrgs, Pesquisadora e Diretora
de Educação Fiscal do Instituto Justiça Fiscal (IJF)
Corecon-RS Nº 5093

Sobre o que aborda a pesquisa "Renúncia de receita e desigualdades: um debate negligenciado", vencedor do “I Prêmio Orçamento Público, Garantia de Direitos e Combate às Desigualdades”, que receberam em junho último, na Escola de Administração da FGV, em São Paulo?

Essa pesquisa, elaborada entre 2020 e 2021, foi desenvolvida por mim e pela Anne Kelly Linck, acadêmica de Economia e bolsista de iniciação cientifica da Ufrgs durante 12 meses. A pesquisa foi uma das premiadas no Iº Prêmio Orçamento, garantia de Direitos e Combate às Desigualdades. O Prêmio, promovido pela Associação Nacional dos Servidores de Carreira de Planejamento e Orçamento (Assecor) e a Fundação Tide Setúbal, tem por finalidade reconhecer trabalhos e pesquisas que abordem o tema das Finanças Públicas, não só a partir de uma perspectiva de sustentabilidade fiscal, mas, também, de forma comprometida com o desenvolvimento social do país e o combate à desigualdade de raças, de renda e da garantia dos direitos para a população brasileira.

Qual o objetivo da Pesquisa?

A pesquisa faz uma análise da renúncia de receita, que é um gasto público indireto, pois ocorre por meio do sistema tributário, e que a Receita Federal do Brasil, para se adequar à nomenclatura internacional, chama de “gastos tributários”, embora não passem pelo orçamento público. E não passando pelo orçamento, não se subordinam à norma constitucional do teto de gastos e a várias outras normas e regras exigidas para a execução do gasto público.

Qual a dimensão desse valor?

Estudamos a renúncia de receita, no período de 2004 e 2020, que representa em torno de 4,5% do PIB e em torno de 22% da arrecadação, que é um montante muito significativo, já que, em pouco mais de quatro anos ocorre renúncia equivalente a uma arrecadação anual. Analisamos a política de renúncia de receita da União à luz das normas legais, em especial, da Lei de Responsabilidade Fiscal, que já era uma Lei que eu havia estudado em minha tese de Doutorado, mas que, agora, focamos apenas no que ela trata sobre renúncia de receita.

Como ocorre essa disparidade?

Ao analisarmos o Artigo 14 da LRF, constatamos que não há aderência entre a referida Lei e a política de renúncia de receita da União. Em especial, em relação ao Artigo 14 que estabelece que para a concessão renúncia há que atender a um dos dois requisitos, que a renúncia de receita não afete os resultados fiscais previstos na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e que, caso a renúncia de receita afete esses resultados - e afeta, já que a renúncia de receita da União é superior ao déficit primário, portanto extrapola o resultado fiscal -, então faz-se necessário adotar compensações, conforme o Artigo 14, Inciso II da Lei de Responsabilidade Fiscal.

Que tipo de compensações seriam estas?

Segundo a LRF, a compensação da perda de arrecadação decorrente da renúncia deve ocorrer através da "elevação de alíquotas, ampliação da base de cálculo, majoração ou criação de tributo ou contribuição". É importante frisar que a lei que autoriza esta compensação deve vigorar durante o período de vigência da lei que aprovou a renúncia. Ou seja, a concessão da renúncia só pode entrar em vigor quando implementadas as medidas de compensação. Você conhece algum caso, onde o Parlamento aprovou renúncia de receita e ao mesmo tempo, aprovou também, aumento de tributos para compensar àquela renúncia? Se a LRF fosse cumprida, o cidadão tomaria conhecimento de que precisou pagar mais tributos, porque o Poder púbico, abriu mão de arrecadação em favor, de determinadas empresas/grupos. Pessoas Jurídicas beneficiadas sobre os quais, não temos acesso ao nome e o valor “recebido”. Tampouco os Tribunais de Contas monitoram e avaliam os resultados destes gastos tributários, ou seja é um política pública, financiada com recursos públicos, cuja opacidade impede mensurar a qualidade/resultados deste gastos tributários/renúncias, em oposição aos demais gastos executados através do orçamento público.

Por isso vocês se referem, no título do trabalho, a um debate negligenciado?

Sim. Basicamente porque o País tem escassez de recursos e vem enfrentando uma crise sanitária, econômica e social, com indicadores sociais bastante preocupantes, onde 33 milhões de pessoas estão passando fome, sendo que dessas, sete milhões são crianças. E, de outro lado, nós temos R$ 400 bilhões de renúncias, que nós sequer sabemos quem são os beneficiários porque se utiliza uma interpretação do Artigo 198 do Código Tributário Nacional, para negar ao acesso de dados, em especial sobre quem são os beneficiários das renúncias e quais os resultados que são entregues por estes beneficiários. Toda a política pública deve ser avaliada e monitorada. E, no caso da política pública de renúncia de receita, isso não ocorre. Não é possível identificar a qualidade desta política pública que “gastamos” por meio de gastos indiretos de R$ 400 bilhões. Veja este valor é maior que os orçamentos da União em saúde e da educação juntos. O acesso aos dados deveria ser do interesse de toda a sociedade, desde os empresários, pois alguns estão se beneficiando e outros não; o cidadão que demanda serviços do SUS, e às vezes precisa esperar 01 ano ou mais, para fazer uma cirurgia; os cidadãos que demandam educação pública, que se deparam com falta de professores, de vagas em creches, de bibliotecas, ou seja, serviços básicos, essenciais ao desenvolvimento econômico e social do país. E isso ocorre sem o rigor de cumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal, em especial do artigo 14.

Trata-se de uma “brecha” na legislação?

No caso da LRF, não há brecha. Ela efetivamente não é rigorosamente cumprida quando o tema é renúncia de receita. Quanto à transparência, até dezembro de 2021 vigorava uma interpretação do artigo 98 do CTN que privilegiava a opacidade, pois a demanda do cidadão junto ao Poder Público, é no sentido de receber a informação sobre: para quem o Estado entregou recursos públicos e quanto? A interpretação era de que o Poder Público, não podia divulgar o nome da empresa e quanto recebeu de renúncias, com o argumento de que afeta(va) a competição empresarial. Ora, por que o nome de uma empresa divulgada no site do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no caso da realização de operação de crédito, não afeta a concorrência empresarial, e a divulgação de uma empresa que é beneficiada por renúncia afetaria? No entanto, eu espero que este tema esteja superado, com a Lei Complementar 187, aprovada em dezembro de 2021, que insere o inciso IV no parágrafo 3º do Artigo 98 do Código Tributário, que diz que não é vedada a divulgação de informações relativas à renúncia, ou benefício, à imunidade de natureza tributária cujo beneficiário seja pessoa jurídica. Então, o que a cidadania, pesquisadores de universidades e de outras instituições esperam é que, de fato, se tenha os nomes das pessoas jurídicas beneficiadas, o montante de renúncia concedida, para que, assim, se possa identificar o que efetivamente cada instituição beneficiada entregou em troca, para à sociedade, pois é necessário, também mensurar a qualidade o gasto tributário, além, todos os demais gastos que passam pelo orçamento público. Assim, espero que a Lei Complementar nº 187/2021, seja efetivamente cumprida, através da transparência ativa. Caso não seja, que providências sejam tomadas pelos Órgãos de Controle e fiscalização e pela sociedade civil organizada. Gostaria de frisar que não somos contrários a política de renúncia, no entanto, a diretriz de mensurar os resultados do gasto público, deve incorporar todos os gastos, inclusive o gasto tributário/renúncia.

Que tipo de impactos a renúncia de receitas pode causar na promoção de desigualdades sociais?

Em nossa pesquisa, apontamos que a política de renúncia de receita tem ampliado as desigualdades, pois toda a renúncia de receita reduz o valor da base de cálculo sobre a qual incidem os gastos mínimos constitucionais em saúde e educação, por exemplo. Assim, considerando o total de renúncias da União e os gastos mínimos constitucionais, os orçamentos da saúde e a educação deixaram de receber R$ 43,68 bilhões e R$ 65,52 bilhões, respectivamente, em 2020, primeiro ano da pandemia que vitimou naquele ano 194.949 brasileiros e registrou aumento da desigualdade. São os gastos públicos em educação, (em 1º lugar) e em saúde (em 2º lugar) as políticas responsáveis pela redução da desigualdade de renda no Brasil, conforme apontam várias pesquisas, dentre elas, a da Cepal (2015). De outro lado, a política de renúncia, ao reduzir a base de cálculo sobre o qual incide a definição do orçamento mínimo constitucional da saúde e da educação, reduz o orçamento destas duas áreas. Assim, a política de renúncia, ao retirar recursos de direitos sociais redutores de desigualdades, e transferir para grupos de maior poder e não passíveis de efetiva mensuração de resultados, tende a ampliar desigualdades. Ainda, apesar de os gastos sociais em saúde e educação, serem os responsáveis pela redução da desigualdade no Brasil, o Estado brasileiro submete os gastos sociais ao corte de gastos, visando atender aos limites fiscais preconizados pela LRF e, ao mesmo tempo, submete-os à política de austeridade fiscal, concebida pela EC nº 95/2016. Enquanto isso, a LRF, não é rigorosamente cumprida quanto as medidas de compensação da renúncia de receita, por exemplo, e tampouco se subordina ao teto de gasto, ficando assim, a obtenção do equilibro fiscal por conta dos cortes de gastos sociais.

Então, a Pesquisa de vocês joga por terra a ideia de que renúncia de receita gera desenvolvimento?

Para poder fazer esta afirmação, ou refutar esta afirmação, precisamos dos dados abertos sobre quem recebe e quanto recebe de renúncias fiscais, para podermos medir os resultados de cada beneficiário Pessoa Jurídica sobre o desenvolvimento econômico. E isso, efetivamente não temos no Brasil. Alguns afirmam que renúncia de receita gera crescimento e desenvolvimento, mas onde estão as pesquisas que mostram isso? Temos uma pesquisa de Orair, Siqueira e Gobetty, de 2016, que mostra que o efeito multiplicador das renúncias das receitas da União de 2002 a 2016, não é significativo em qualquer posição do ciclo econômico (expansão ou depressão). Enfim, aguardamos que o artigo 198 do CTN, alterado pela Lei Complementar 187 de dezembro de 2021, seja cumprido de forma que todas as universidades e institutos de pesquisa possam fazer análises e avaliações mais robustas sobre esses resultados. Lembrando apenas que, na esfera federal, o próprio Tribunal de Contas diz que cerca de 84% das renúncias fiscais são concedidas por tempo indeterminado. Isso acontece de forma não transparente, sob a alegação de que afeta a competição empresarial. Sem a transparência, problemas como a ineficácia da política de renúncia, inexistem. Numa democracia, quando a transparência ganha terreno sobre o segredo, os problemas se tonam mais aparentes. E, no caso da renúncia fiscal (ou gastos tributários), passados 22 anos de vigência da LRF, o art. 14 anda não é rigorosamente cumprido e não há registro da não aprovação das contas do Poder Executivo pelos órgãos de controle, por essa razão. Tampouco o legislador inseriu os gastos tributários no rol de cortes previstos na EC do teto de gastos, aprovada em 2016. Enfim, nossa contribuição é no sentido de provocar reflexão e avanços nesta temática. Além da necessidade de rigor quanto ao cumprimento das normas, também quando se refere à renúncia fiscal, propõe-se, dada a relevância social e econômica das políticas em saúde e educação, que se leve em conta, a totalidade das renúncias de receitas, na base de cálculo que define os orçamentos mínimos nestas duas áreas, pois a renúncia fiscal, reduz os respectivos orçamentos, cujos dados são transparentes e passíveis de mensuração, como por exemplo, o Índice de Desenvolvimento em Educação Básica, (IDEB) e o custo mensal per capita do Sistema Único de Saúde (SUS), politica esta, com reconhecimento mundial.

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