Vagas para Economistas

Professor de Economia
 
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DESCRIÇÃO DA VAGA
Estamos buscando um professor de economia para compor o nosso time.

Introdução à Economia
Curso Profissionalizante
Localidade Cachoeirinha
Horário das 19h. às 22h.
Enviar Currículo: j.pinto@terra.com.br

Os limites da Reforma Administrativa


João Bosco Ferraz de Oliveira
Economista, empresário, especialista em Gestão Pública,
Perito do Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba
e Conselheiro do Cofecon

 

Com que cara essa reforma vai se apresentar ao País?

Do ponto de vista da proposta em si, a Proposta de Emenda Constitucional 32/2020 que trata da reforma administrativa tem a cara do Governo, com o propósito de desonerar a médio prazo as atividades que não são responsabilidade do Estado, deixando-as para outros poderes ou entes federativos, para o mercado e também para a iniciativa privada, de forma livre ou por concessão. O que o governo federal espera ao apresentar tal proposta é dar curso à ideia de menos Estado na economia pois só assim enxerga o Brasil ter uma nova cara. Se os objetivos da PEC serão viáveis nessa jornada não podemos prever. A ideia é simpática e bem vista por muitos economistas que tendem a seguir uma linha mais liberal, todavia há um Congresso no meio desse caminho, muito sujeito às opiniões da população mesmo sabendo que parte da população que ora já reclama é formada por representantes de categorias de trabalhadores que estão na verdade gritando em prol de um interesse específico e não da população como um todo. Então eu faço a previsão que a reforma administrativa avança, mas me parece que com a cara do Congresso Nacional.

Quais as principais mudanças que essa reforma deve trazer ao País?

São vários pontos contemplados no projeto da Reforma Administrativa. Mas eu destacaria, como principais, as seguintes mudanças: A abrangência, já que ela atingirá os três níveis federativos, que são a União, os Estados e os municípios; a Carreira de Estado, que definirá o que é considerado atividade essência de estado e com consequência fará com que esses profissionais, ao ingressarem no serviço público, tenham sua dedicação integral ao Estado, não podendo exercer qualquer outro tipo de vínculo, com exceção apenas para a docência e determinadas profissões ligadas à saúde; Aposentadoria compulsória, que será extinta e que servia de uma espécie de refúgio àqueles que cometiam algum crime e se viam “punidos” somente com o benefício da aposentadoria; Estabilidade, que sofrerá flexibilização no seu conceito e aplicação; e mais poderes ao chefe do Executivo federal, onde ele passa a ter mais poder permitindo mexer mais livremente na estrutura da administração pública extinguindo ou renomeando órgãos e ministérios. Não está claro se isso será modelo também para os governadores e prefeitos.

Qual a importância da Reforma Administrativa para a economia brasileira?

Eu vejo sob dois aspectos. Um, que seria um propósito de plano de governo, desenhado desde a campanha do presidente Jair Bolsonaro, ao dar valor a “menos presença do estado em atividades de mercado”. Prometeu e parece perseguir esse propósito dentro da sua política liberal, além de mostrar para a sociedade que o governo não pode mais gastar em áreas não prioritárias quando outros poderiam executar essas tarefas com recursos privados. Diminuir a estrutura administrativa é um segundo propósito, concentrar as diretrizes de governo e poder decisório no que interessa ao Estado e nas mãos de poucas pessoas, como uma estratégia de atuação do governo, de forma a ter um maior controle dos gastos públicos.

Que ponto o senhor considera mais nevrálgico e impactante da Reforma?

Apesar da PEC 32/2020 e das afirmações da equipe econômica de que não vai mexer no que já está posto, quando se coloca no meio da discussão o tema “estabilidade”, por si só já gera uma polêmica e mexe com estruturas seculares do serviço público, no caso, a estabilidade no emprego do servidor público. E, se o governo não convencer que os mecanismos de avaliação de desempenho – que pretende ser o mecanismo de afirmar se o servidor merece ou não continuar na carreira – serão seguros, justos e transparentes, esse tema será polemizado demais nos embates no Congresso. Outro ponto interessante é a convivência, estimada em 10 anos de transição, entre os servidores públicos regidos por uma lei antiga e os novatos, ambos exercendo a mesma atividade. Isso dará margem para muitas interpretações e até para questionar a sua eficácia.

O senhor acredita que a Reforma resolverá definitivamente o problema do equilíbrio fiscal brasileiro?

Antes devemos nos perguntar: a reforma é necessária? Isso eu entendo que tem a simpatia da maioria da população e ela concorda que até deveria ser mais profunda e estendida a outros poderes. Mas será justa? Bom, sua eficácia só poderá ser medida após implementada e testada. Mexe com conceitos e preconceitos. E do ponto de vista fiscal, o que se desenha é que em quase 10 anos o governo federal economizaria quase R$ 1 trilhão de reais, o que é um apelo enorme de convencimento, pois grande parte desses recursos iriam ser irrigados para sanar dívidas internas e outros tantos para novos investimentos e pavimentar um novo tempo na economia do País. Mas tudo isso precisa ser colocado e já, de forma clara para que a nação tome conhecimento e tenha a convicção de que o Brasil tem tudo para conquistar esses ganhos e entrar em um novo patamar de desenvolvimento. E se ajudar a implementar uma nova força no desenvolvimento regional de forma que todos saiam ganhando, trazendo junto Estados e Municípios, com isso o Congresso não terá muito o que fazer e nem forças suficiente para descaracterizar a essência da PEC no que ela pretende trazer junto com essa Reforma Administrativa.

Investimentos na base e as aspirações futuras

 

Paulo Ricardo Ricco Uranga
Economista, Menção Honrosa Prêmio Corecon-RS 2019,
Categoria Dissertações de Mestrado
Corecon-RS Nº 7597

 

Qual a proposta do trabalho “Aspirações Educacionais e Profissionais: um Estudo Sobre a Adaptação de Preferências”, Menção Honrosa do “Prêmio Corecon-RS 2019”, categoria Dissertações de Mestrado?

O trabalho procurou identificar quais os condicionantes das aspirações educacionais e profissionais dos alunos de escolas privadas e estaduais de Porto Alegre. Também verificou como esses condicionantes se comportam quando dividimos a amostra grupos determinados por diferentes características como a etapa de ensino dos alunos, o tipo de unidade administrativa, se privada ou estadual, e diferenças socioeconômicas.

Qual o universo pesquisado?

Eu e alguns amigos, que se dispuseram a me ajudar, percorremos 32 escolas, 19 estaduais e 13 privadas, aplicando 3.723 questionários em alunos do nono ano do Ensino Fundamental e segundo ano do Ensino Médio. Após a tabulação, a amostra resultou em 3.714 questionários validados de jovens entre 13 e 20 anos. Uma preocupação foi tentar garantir a representatividade das escolas conforme o nível de Desenvolvimento Humano das regiões das escolas. Então calculamos a amostra proporcionalmente ao número de matrículas nas séries anteriores no ano de 2018, para cada nível de desenvolvimento (Baixo, Médio, Alto e Muito Alto).

O que foi determinante para a definição do nível de aspiração dos estudantes?

Características de nascença, como ser mulher e branco aumentam a chance de aspirar mais, e a diferença é mais acentuada em grupos com maiores privações. A trajetória escolar também se mostrou importante, para aspirar mais foi importante ter iniciado os estudos na Educação Infantil e não reprovar. A família também assume papel importante nos sonhos dos alunos, pois a escolaridade dos pais, os pais que possuem profissões mais reconhecidas e o incentivo ao hábito da leitura aumentaram as chances dos alunos aspirarem além. Outra variável importante para moldar o desejo por mais educação e profissões mais destacadas foi a maior autoeficácia acadêmica percebida. A autoeficácia é a crença que as pessoas têm sobre as suas capacidades para enfrentarem os eventos que afetam a sua vida. Já, a autoeficácia acadêmica é a crença dos alunos na capacidade de realizarem as atividades escolares.

Quais as principais conclusões do teu estudo?

Incentivar as aspirações dos jovens pode ser um instrumento para retirar os indivíduos da armadilha da pobreza. Por outro lado, os sonhos desses jovens podem ser condicionados pelo status socioeconômico de suas famílias. Particularmente para os mais pobres, as preferências podem sofrer um processo de adaptação, em que passam a optar por algo mais modesto do que poderiam se não estivessem em uma situação de privação. Uma evidência das preferências adaptativas encontrada nesse estudo foi que, para os mais pobres, a estabilidade emocional e a maior socialização diminuem as aspirações pela educação superior, provavelmente por levarem a decisões que pareçam mais realistas a esses indivíduos, próximas ao ambiente em que vivem. Para ultrapassar essas barreiras deve se investir nos mais pobres, como em políticas de transferência de renda e aumento da escolaridade dos pais, e em políticas educacionais que incentivem o início da escolarização na Educação Infantil, diminua a repetência e práticas pedagógicas que privilegiem o aumento do senso de eficácia acadêmica dos alunos, da sua vontade por ingressar no Ensino Superior e e da importância de estudar para ingressar no mercado de trabalho.

 

Economia da Serra gaúcha no pós-pandemia e as lições que ficam


Mosar Leandro Ness

Economista, professor da Universidade de Caxias do Sul (UCS),
Assessor Econômico da Câmara de Dirigentes Lojistas de Caxias do Sul (CDL-Caxias do Sul)
Corecon-RS Nº 6304


 

Qual o perfil da economia da região de Caxias do Sul?

O perfil da economia da região serrana vem se alterando nos últimos anos. Até o início dos anos 2000, o principal setor era a Indústria, que puxava o crescimento da região. A mesma nasceu e ganhou força, embalada pelo processo de substituição de importações. Com a reestruturação produtiva, iniciada no início dos anos 90, o modelo de crescimento foi posto à prova. Nos anos que se seguiram, em especial nos governos trabalhistas, a indústria começou a perder força. Atualmente, o setor que emerge com vigor são os serviços. No caso de Caxias do Sul, já se nota um seguimento financeiro bem consolidado e que vem demandando profissionais com formação específica para esse. Note que a indústria ainda é relevante na formação do produto do município, mas, os serviços tem aumentado sua participação e já ultrapassou o comércio, outro setor tradicional da economia local.

A economia da região de Caxias do Sul já vinha dando sinais claros de recuperação antes da crise do coronavírus. Como está agora?

De fato, antes dessa crise, a economia local já ensaiava uma decolagem para um voo mais alto. Havia pedidos em carteira nas indústrias, e tanto os serviços, quanto o comércio, esperavam aproveitar essa tendência de crescimento. Note que, no mês de fevereiro, a utilização da capacidade instalada da indústria local, atingiu 79,3% um dos níveis mais altos dos últimos anos. Com a crise e o isolamento, tanto a produção, quanto o consumo, caíram abruptamente. O recuo em abril foi de mais de -27,0% nos três setores. Essa situação encontrou empresas e famílias em diferentes momentos em termos econômicos. Muitas empresas que se encontravam alavancadas acabaram por encerrar suas atividades. Já, outras tantas famílias tornaram-se inadimplentes em um primeiro momento.

Quais os setores mais atingidos pela crise?

Chama atenção é que passado o baque inicial, a economia local começa a dar sinais de recuperação. A indústria conseguiu passar ao largo das dificuldades e voltou a produzir, inclusive lançando novos produtos. O comércio vem apostando no meio eletrônico como agente de vendas e tem conseguido manter, a duras penas, a sua estrutura de funcionamento. O setor de alimentação, especificamente supermercados, mercados, mercearias, está vendo seu faturamento aumentar. Em contra partida, o segmento de restaurantes, bares e similares, foram os mais atingidos. Casas tradicionais da região encerraram suas atividades. Outras tantas, tiveram que se adaptar à tele-entrega e ao pegue-e-leve. Tempos difíceis para todos, não há dúvidas.

Como está o nível de desemprego na região?

O mercado de trabalho demitiu mais de 6000 trabalhadores nos últimos meses. É bem verdade que poderia termos tido um número maior de desempregados, se não fossem as medidas adotadas para preservar o mesmo, pelo Governo Federal. O setor que mais desempregou foi a indústria, -3.205 postos, seguida dos serviços, com -1.990, e do comércio, com -1.435. A variação negativa é de -6.630 trabalhadores no mês. Quando se observa em um horizonte maior, percebe-se que, em 2013, o mercado formal de trabalho ocupou 183.173 trabalhadores nesse período, enquanto que agora, em 2020, a ocupação caiu para 144.032 trabalhadores. Ou seja, nesse período foram fechados quase 40.000 postos de trabalho.

Quanto tempo deve levar para recuperar o nível de emprego de antes da crise da pandemia?

Para recuperar o nível de emprego serão necessários pelo menos um ano de crescimento forte, de forma a recompor a base e recontratar esses mais de 6.000 trabalhadores demitidos na pandemia. Já, para voltar ao nível de 2013, será necessário um crescimento do PIB brasileiro acima dos 4,0% ao ano por pelo menos quatro anos seguidos para que o mercado de trabalho em Caxias do Sul volte a ter acima de 180.000 trabalhadores formais. Uma das razões para essa demora reside no fato de que a tecnologia na indústria cada vez mais poupa mão de obra.

Quais os grandes desafios neste momento?

Tanto para as pessoas quanto para as empresas, o desafio é literalmente sobreviver. Não há como pensar diferente. O vírus ainda está ativo e a vacina vai demorar uns seis meses para vir e ser aplicada. Isso faz com que as restrições de mobilidade aconteçam, o que inviabiliza muitos negócios. Já, quanto às empresas, as mesmas precisam de capital de giro para suportar essa fase de baixo nível de atividade. Assim, não se descarta que muitos negócios vão precisar de algum tipo de incentivo para sobreviver. Outros tantos deverão ter sua capacidade reduzida para, assim, passar pela pandemia. A redução do tamanho é uma possibilidade que tem por objetivo tornar as empresas menores, e, portanto, mais aptas a sobreviver em um cenário adverso como o que teremos até fevereiro de 2021.

Quais as expectativas do empresariado local?

Os empresários da Serra são resilientes. Estão conseguindo assimilar o atual contexto e estão sobrevivendo, se reinventando. Toda crise é composta de três partes, um problema, o tempo a ser vivido em meio à crise e uma lição a ser aprendida. Na atual crise não é diferente e, seguramente, vamos emergir dessa muito melhores do que entramos. Vamos aprender com ela e construir uma nova ordem econômica. Vamos produzir e consumir localmente e reduzir o nosso grau de dependência da China. Isso será muito interessante para a economia global, brasileira e regional.

Os novos horizontes da Economia Comportamental


Patrícia Alves Schütz

Graduada em Economia, MBA Economia Comportamental,
Consultora em Finanças e Arquitetura de Escolhas/Irlanda

Corecon-RS Nº 7503

 

O que estuda a Economia Comportamental (EC)?

A Economia Comportamental transformou em objeto de estudo o pressuposto da Economia tradicional, que afirma que as pessoas são racionais e agem em benefício próprio. A esses estudos, são incorporadas teorias multidisciplinares vindas da psicologia, antropologia e neurociências, com o objetivo de tornar mais realistas as teorias de tomada de decisão. E, para atingir este objetivo, a EC utiliza-se de técnicas experimentais, dentre as quais os testes de controle randomizados (randomized controlled trial - RCT). Com a possibilidade de pesquisas online, este é um campo em desenvolvimento na economia como um todo, mas sendo bastante útil para a EC.

O que te atraiu para essa área da economia?

O que me atraiu para o estudo da EC foi esse carácter inovador e, de certa forma, revisor das ciências econômicas. Acredito que a profissão do economista tem muito a contribuir com a sociedade, porém é preciso incorporar novas metodologias e teorias para que tenhamos um papel cada vez mais relevante na sociedade atual. Entender comportamento humano e ferramentas de análise de dados são imprescindíveis para enfrentar os problemas atuais e do futuro.

Como funcionam as intervenções na teoria de escolhas?

As intervenções são parte da metodologia aplicada na EC, pois precisamos testar se o comportamento previsto pelo modelo é de fato o que acontece. Utilizamos o termo Arquitetura de Escolhas para desenhar essas intervenções. Uma intervenção é criada para resolver um problema. Por exemplo, aumentar a arrecadação de impostos sem aumentar tributos. No Brasil, isso ainda é muito novo, mas já temos um exemplo na prefeitura de São Paulo, que possui um Laboratório de Inovação e, dentro dele, existe o Nudge/SP, que já realizou uma intervenção alterando apenas o conteúdo das cartas de cobrança de IPTU em atraso, como já utilizado em outros países, e tiveram um aumento de 8,4% de regularização de dívidas, com uma arrecadação em potencial para o município, de 60 milhões a custo quase zero, uma vez que as cartas de cobrança seriam enviadas de qualquer forma. O que mudou foi apenas o seu conteúdo das mensagens. Pode-se constatar em https://drive.google.com/file/d/1q0PgIQiN_GdoICPu7lXb690RUb-vhA7A/view .

Como funcionam essas intervenções?

Esse tipo de intervenção, visando aumentar a predisposição dos contribuintes a pagar suas taxas em dia, é aplicada em diversos países, utilizando diferentes abordagens. Esses exemplos podem ser encontrados na página do Behavioural Insights Team (www.bi.team), grupo que teve origem no governo britânico e que hoje aplica EC em diferentes países, com escritórios espalhados pelo mundo. Nessas intervenções, são aplicadas diferentes metodologias, que podem variar regionalmente. Quando é desenhada uma arquitetura de escolhas precisamos identificar o problema e definir qual o comportamento que queremos incentivar ou impedir que aconteça, sem gerar proibições ou multas, e sim, utilizar os próprios vieses comportamentais que temos para nos conduzir a tomar tal decisão. É nesse momento que entra o famoso nudge, ou “empurrãozinho” ou “cutucada” (a tradução para o português não define da melhor forma, por isso utilizamos o termo original em inglês). Os nudges são o ponto de contato entre a arquitetura de escolhas e o agente a ser influenciado. As principais premissas dos nudges são que eles devem ser simples, de baixo custo e escaláveis, e podem ser aplicados em diversos setores, não só em políticas públicas, mas também no incentivo à poupança, planos de pensão, doação de órgãos, etc. Somos constantemente bombardeados pela arquitetura de escolhas pelo marketing, porém a EC nos mostra que é possível aplicar para os mais diferentes setores.

Como defines o viés do presente ou o imediatismo?

Para falarmos de viés do presente, precisamos pensar em desconto temporal. O viés do presente trata da nossa predisposição em privilegiar a gratificação imediata. O desconto é aquilo que abrimos mão por ter algo agora e não depois. A economia tradicional trata essa diferença como um desconto exponencial, isto é, uma taxa fixa proporcional ao tempo da espera. Enquanto a economia experimental percebeu que a preferência das pessoas na verdade varia dependendo do quão distante essas escolhas estão no tempo, não necessariamente a essa taxa fixa, o que é conhecido como desconto hiperbólico. Podemos ver o viés do presente nas nossas escolhas financeiras, como, por exemplo, tomar um empréstimo para comprar algo e pagar juros, gastar agora e não poupar para o futuro, e até nas nossas escolhas alimentares, como comer pizza agora e ter um aumento de peso no futuro.

Qual a importância da EC para a elaboração de políticas públicas?

A Economia Comportamental e experimental tem muito a contribuir para as políticas públicas. Não se trata apenas na construção de nudges, mas sim de se envolver com o público-alvo destas políticas, pois, para usar uma abordagem comportamental com eficiência, você precisa entender o comportamento de quem vai receber a intervenção. É preciso adaptar a intervenção para o ambiente social no qual ela vai ocorrer e, para isso, é preciso de envolvimento com a comunidade. Para mim, este é o maior legado que essa abordagem pode trazer.

Qual a importância da ECl no atual momento de pandemia que o mundo está vivendo?

Ela poderia ter sido utilizada para melhor comunicar os novos comportamentos, que devem ser incorporados na rotina todos nós. O problema é que não existe consenso sobre tais comportamentos. Acredito que a única unanimidade seja a limpeza das mãos. Até sobre o uso de máscaras existem controvérsias e pessoas que não defendem a sua utilização. Qualquer mudança de comportamento, principalmente de forma tão brusca, como ocorreu devido à pandemia, precisa de uma grande motivação. Aparentemente, a ameaça do vírus não impacta as pessoas da mesma forma, por isso existe essa diferença entre alguns que mudaram seus hábitos e outros que nem tanto. Além disso, o governo precisa proporcionar o ambiente para que as pessoas possam realmente mudar seus hábitos. Não estou aqui julgando o que foi feito pelo governo brasileiro e o que deixou de ser feito, apenas constatando que, quando existe um ambiente favorável para que as pessoas fiquem em casa, quando têm casas adequadas e alguma garantia financeira, a predisposição das pessoas a realizarem o isolamento social é maior. Mesmo com o crescimento de casos em algumas regiões do Brasil, como é o caso do Sul, estamos com dificuldades de manter o isolamento social, pois o que acontece agora é uma fadiga comportamental. Uma analogia seria uma dieta alimentar muito radical, com muitas restrições, por alguém que precisa muito perder peso. Porém, sabemos que essas restrições não são suportadas por um longo período de tempo. Da mesma forma, acontece com o isolamento social. Aqui no Sul estamos, desde março, sem poder ter contato com as pessoas, lidando com o abre e fecha do comércio. Estamos enfrentando o momento mais crítico na nossa região, tendo também que lidar com essa fadiga comportamental, o que nos desafia ainda mais.

Qual a tua sugestão para os estudantes ou profissionais que têm interesse em seguir essa área de estudo?

A EC é uma excelente ferramenta para ser inserida no arsenal de ferramentas do economista, bem como a análise de dados. As atividades do economista são muito variadas e a EC pode ajudar a ter uma visão mais realista de diferentes áreas, não só na microeconomia, mas, também, em elaboração de políticas públicas e finanças, por exemplo. Existem excelentes pós-graduações no Brasil que já tratam do tema (inclusive em EAD), assim como alguns cursos desenvolvidos por universidades e instituições estrangeiras, que podem ser realizados de maneira gratuita. Acho importante que não apenas os estudantes se interessem em aprender sobre o tema, mas, também, os profissionais experientes, que poderiam enriquecer demais os debates, já que a tendência é que profissionais de outras áreas se interessem pelo assunto, deixando, assim, o debate teórico, do ponto de vista econômico, relativamente raso.

 

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