Vagas para Economistas

Professor de Economia
 
Inscrições até 08/05/2024

DESCRIÇÃO DA VAGA
Estamos buscando um professor de economia para compor o nosso time.

Introdução à Economia
Curso Profissionalizante
Localidade Cachoeirinha
Horário das 19h. às 22h.
Enviar Currículo: j.pinto@terra.com.br

Mais do que nunca, investimentos!


Antonio Carlos Fraquelli

Economista, Advogado, professor
Corecon-RS Nº 1108 

 

Pode-se dizer que Donald Trump perdeu as eleições nos EUA por causa do desemprego?

Antes da chegada da pandemia, o mundo estava numa desaceleração global, e quem vinha dando suporte ao cenário econômico mundial era a economia americana, que, naquele momento, crescia a pleno emprego. É bom lembrar que, naquele momento, a China também continuava crescendo, mas em ritmo de desaceleração. Então, o cenário era o mundo numa desaceleração, a China numa desaceleração e os EUA, crescendo a pleno emprego. Naquela situação da economia norte-americana, com uma taxa de desemprego de 3,6% ou 3,7% ao ano, o presidente americano Donald Trump estava apto a se candidatar à reeleição ou, no mínimo, tinha excelentes condições para se reeleger. É que, com uma taxa de desemprego abaixo de 4%, os presidentes tendem a se reeleger nos EUA. O que não acontece quando a taxa está superior a 6%. Apenas para lembrar, na grande recessão de 2009, o desemprego nos EUA chegou a 10% e o então presidente Obama demorou muitos e muitos meses para reduzir a taxa a patamares aceitáveis. Quando Trump assumiu, beneficiado por esse cenário de baixo desemprego, alcançou o pleno emprego e passou a trabalhar de forma unilateral, atropelando a tudo e a todos, e gerando atritos e rupturas com os parceiros históricos, como os europeus e o México. Veio a pandemia, que acabou elevando a taxa de desemprego nos EUA às alturas, em torno de 14%, o que fez com que ele perdesse a âncora que mantinha na economia.

E isso acabou sendo decisivo para a chegada de Joe Biden ao governo?

Sim, sem dúvida. Com a taxa de desemprego nas alturas, ele perdeu a âncora e passou, então, a negar a crise sanitária, acreditando que logo passaria e que a situação econômica se reverteria em seguida, a tempo das eleições de 03 de novembro, o que acabou não acontecendo.

Que mudanças o governo de Joe Biden traz ao cenário internacional?

Estou otimista porque creio que o Biden vai partir para retomar as tradicionais alianças políticas que os EUA mantinham, como se reaproximar dos europeus, dos asiáticos, das lideranças que forem convergentes às ideias dele. Ao mesmo tempo, vai injetar um novo auxílio na economia, algo em torno de um trilhão de dólares. Com Biden, além de alianças pela democracia, suas ações convergirão em novos auxílios, em harmonia com o Federal Reserve System (FED), o Banco Central dos norte-americanos, que tem como presidente o Jerome Powell que, embora tenha sido indicado por Trump, é absolutamente independente, e que tem sinalizado sobre a necessidade de injeção de novos recursos na economia.

Qual a importância desses recursos para o novo cenário econômico?

A injeção de recursos, que também deverá passar pelo novo Secretário do Tesouro norte-americano, que assumirá o cargo com a posse do novo presidente americano, é importante porque, junto com as alianças políticas e o alinhamento econômico, o governo Biden poderá retomar à Organização Mundial do Comércio (OMC), abrindo caminho para uma negociação com a China, portanto, uma estratégia bem diferente da tradicionalmente utilizada por Trump. Lógico que a chegada de Biden não tornará a China uma aliada, mas, no entanto, a negociação com instituições multilaterais, da OMC à Organização Mundial da Saúde (OMS), passará a ser mais factível.

E onde o Brasil entra neste novo cenário?

O governo Bolsonaro não tem proposta de retomada da economia. Estamos numa crise de seis anos. O número da previsão do PIB divulgado recentemente pelo IBGE demonstra que nós saímos da recessão técnica, mas, de qualquer maneira, essa movimentação não significa que o Brasil volte ao período anterior à pandemia. E, pior, nós não temos a capacidade de resiliência. O mundo com o Biden provavelmente vá apresentar uma recuperação em formato de letra K, na queda até o fundo do poço e uma linha de recuperação quando sobe, chegando até à metade do caminho da saída, e. aí, uma parte da atividade econômica se recupera e a outra permanece na crise. Então, a expectativa que se trabalha, no cenário mundial, é de aumento da desigualdade social, onde os mais ricos se recuperariam e os mais pobres ficariam mais pobres ainda. E o Brasil, não tendo um programa de crescimento, vai enfrentar ainda mais sérios problemas com o déficit público, que não para de crescer. Lembremos que o ministro Guedes disse, pouco antes das eleições, que, se vier a segunda onda para o Brasil, será estendido o auxílio emergencial. Só que, a partir de agora, qualquer dinheiro que for destinado com esse propósito irá fazer com o déficit público quebre qualquer compromisso com o ajuste das contas públicas ao longo de 2021. Neste momento, o maior problema do Brasil é justamente a dívida pública, já que os gastos não param de crescer e chegarão a 100% do PIB, gerando uma incerteza muito grande junto às agências de riscos internacionais, com a séria possibilidade de rebaixamento da nota do risco Brasil.

Neste momento, o mais importante seria atração de investimentos imediatos para o Brasil?

O Brasil precisa, mais do que nunca, de investimentos estrangeiros, chinês e norte-americano, inclusive, até para garantir a retomada da economia, que estamos esperando há seis anos. Toda essa visão do Biden para buscar a retomada da economia mundial, vai pregar otimismo e reações positivas nas bolsas, nos preços do petróleo e nas commodities em âmbito mundial. Mas, para o Brasil se beneficiar desse quadro, terá que convergir para a agenda americana em termos de sustentabilidade, de contas públicas, com uma proposta convincente que mostre aos investidores internacionais que o País tem um caminho definido para sair da crise. O Brasil, nesta época da pandemia, teve saldos comerciais expressivos porque as importações caíram e, como os chineses são responsáveis por 40% do nosso agronegócio, temos que continuar negociando com a China e os EUA, principalmente porque sabemos, e eles também sabem, que o Brasil é ator importante na alimentação global. Então, o Bolsonaro pode dispor dessa carta na manga, que ele precisa utilizar para que o País possa aproveitar, através de um projeto econômico coerente, e encontrar o caminho da retomada do crescimento. Imagino que, nesse cenário internacional que está aí, teremos alguma agenda global, de grande impacto, com a liderança de Biden, algo como um centro global de negociação para a saída da crise, com a aglutinação das principais lideranças mundiais.

O Brasil só se beneficiará se tiver um programa de recuperação?

Após a vacinação de todos e dos testes necessários, eu imagino que poderemos vivenciar um mundo com a inclusão da África, e o Biden estará acessível a isso. O Brasil só vai se beneficiar se tiver um programa para a retomada, com uma proposta para as contas públicas, além de alguma certeza de que a dívida pública voltará a ficar dentro do controle. A partir daí, trabalhando a sustentabilidade, numa agenda convergente para aquela que o Biden tem se referido sistematicamente, eu penso que o caminho estaria mais ou menos sinalizado. Mas a proposta tem que ser clara e condizente.

Mas o Bolsonaro tem que amenizar o seu discurso?

O que o Bolsonaro diz, ou deixa de dizer, não tem a menor importância porque não chega a ter qualquer relevância no cenário global. Percebo, por exemplo, que o vice-presidente Mourão sempre teve uma agenda convergente para as negociações internacionais. Então, é preciso minimizar o discurso do Bolsonaro, e as propostas surradas do Paulo Guedes, já que nenhum deles tem demonstrado estar articulado com alguma agenda de retomada da economia.

Mas como não se preocupar com o discurso do Ministro da Economia?

Paulo Guedes teve dois anos pra construir uma agenda de crescimento e não o fez. Os conflitos entre Guedes e outra autoridades têm emperrado algumas alternativas, mas se trata de um quadro mais voltado para o consumo interno, totalmente desligado de uma agenda para a retomada da economia global. Como a economia mundial vai decolar se a vacina chegar, temos que aproveitar e decolar junto. E é aí que entra uma proposta de retomada, de equilibrar as contas públicas, de limitação da dívida em patamares mais aceitáveis e alinhados com os parceiros internacionais tradicionais.

 

Um choque de realidade

 
Roberto Rodolfo Georg Uebel
Economista, professor da ESPM-POA
Corecon-RS Nº 8074

 

 
Que tipo de modificações o presidente eleito dos EUA, Joe Biden, deve imprimir à política internacional?

Qualquer governo que assumisse após a gestão de Donald Trump, mesmo que fosse um republicano, promoveria mudanças na política de seu antecessor. Tudo indica que o governo Biden tem uma agenda para deixar a sua marca. E essa agenda é no campo da economia,  muito atrelada  à questão ambiental, à questão das mudanças climáticas. De levar firmemente os EUA para uma agenda econômica mais verde, se e que se pode chamar assim, mais renovável. Não se pode esquecer que, na última semana, os EUA abandonaram oficialmente o acordo da agenda climática de Paris, que foi uma das primeiras ações, lá do início do governo Trump. E, no dia seguinte, Biden já postou em seu twitter que a primeira medida de seu governo, quando tomar posse, em 20 de janeiro próximo, será retornar ao Acordo de Paris. E essa pegada ambiental, sustentável, ficou muito evidente na campanha eleitoral dele. Então, o que acho que vai predominar, tanto na economia como na política externa do novo governante, é a ideia de preservação ambiental. Aliás, este é o aspecto central da sua política econômica.

E como deve ficar a relação dos EUA com a China?

Sobre essa conturbada relação entre EUA e China, a tendência é de que o novo governo dos EUA deva buscar um tratamento de normalidade entre os dois países. O que se viu, ao longo desses últimos quatro anos da gestão Trump, foi um embate direto e duro dos EUA com a China. Um embate muito mais político e ideológico que comercial. E é claro que esse comportamento acaba respingando diretamente nas relações comerciais dos dois países. Basta lembrar a polêmica questão do 5G, por exemplo, que foi o grande disputa entre eles. Mas o que vejo para este novo cenário é um retorno da normalidade entre Washington e Beijing, relações diplomáticas, cordiais. Lógico que não é uma relação de amizade, de parceria, como a relação dos EUA com o Japão, por exemplo, ou com a Coréia do Sul. É uma volta à normalidade, o que pode e deve estabilizar o comércio entre os dois países e, também, estabilizar a própria economia internacional.

E de que forma o Brasil entra nesse novo cenário?

Eu acredito que o Brasil vá sofrer um choque de realidade, em função das novas políticas a serem adotadas pelo governo Biden no novo cenário mundial. E o choque de realidade é acordar rapidamente para o que estará acontecendo nesse novo cenário mundial. Hoje, o Brasil tem uma agenda de política externa, de política econômica internacional muito própria. Diria, até idealista, para usar um termo mais adequado, que foge da realidade e que existe desde 2019, quando assumiu o  governo Bolsonaro. Porque os EUA, ao longo do governo Trump, apoiaram e garantiram que o Brasil tomasse uma série de proposições internacionais, como um embate com a China, afastar-se do Mercosul,  da União Europeia. Enfim, poderá acordar e redefinir uma política externa comercial mais condizente com a realidade internacional e, evidentemente, retomar uma negociação normal com a China. Fiquei muito preocupado quando, há poucos dias, a China anunciou que irá comprar soja da Tanzânia, um país que não é um dos maiores produtores, mas cuja iniciativa representa  uma sinalização muito clara para o governo brasileiro de cessar manifestações que entendam como desagradáveis ao regime e à sua política internacional. Trata-se de um cenário extremamente preocupante para o Brasil e, especialmente, para nós, do RS. Então, é uma relação de pragmatismo, de acordar para a nova realidade do sistema internacional. Isso não significa que precise ter um alinhamento entre Biden e Bolsonaro, ou entre Bolsonaro e Xi Jinping. É uma questão muito mais de usar uma lente realista para o mundo, o que é muito importante para a política externa brasileira acordar e voltar a olhar num trilho de projeção do Brasil no mundo.

Isso vai exigir uma mudança bem efetiva de postura do Brasil com relação à sua política internacional. Existe ambiente interno favorável para isso?

Bom, é uma questão interessante. A China possui um regime de caráter autoritário, mas tem recursos para comprar do Brasil.  Acho que hoje não tem ambiente favorável para isso. Mas o Brasil vai ter que se reposicionar, sob o risco de ficar isolado. Por mais questionável que seja o posicionamento do Ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, ou se troca o ministro já no governo Biden, ou ele volta a defender suas posições do passado, quando foi um dos maiores defensores do Mercosul, do comércio com a China. Então, é muito mais que uma readequação de discurso. É o Brasil se voltar novamente para o mundo.

Cenário desafiador para os próximos prefeitos

 

Leonardo Busatto
Economista, Auditor-Fiscal da Sefaz-RS,
Ex-Secretário da Fazenda de Porto Alegre
Corecon-RS Nº 8544

 

 

Qual o principal desafio que os novos gestores municipais deverão ter nestes próximos meses?

O principal desafio é uma conjugação de dois fatores. O primeiro, principalmente a partir de 2021, é enfrentar as dificuldades impostas por uma base de receitas próprias, como ISS, IPTU e ITBI, e de transferências, como ICMS, IPVA, FPM, etc., bem deprimida, que reduziu muito com a crise decorrente da pandemia, mas que, neste ano de 2020, ainda não foi tão sentida, em função do auxílio federal recebida. Esse auxílio , que foi criado para mitigar os impactos da pandemia nas receitas dos estados e municípios, mascarou um pouco o efeito nas finanças dos municípios e não há nada que sinalize que, a partir do próximo ano, haverá nova ajuda. Imagina um cenário com redução da arrecadação tributária superior a 15%, como é a estimativa para o caso de Porto Alegre, gerando uma receita inferior inclusive aos patamares de 2019.

E qual o outro desafio?

Conjugado a esse fator, existe toda uma pressão de despesa, que foi criada principalmente na área da saúde, mas, também, na área social, em função da pandemia, sendo que nem toda ela é um custo ou uma despesa que se poderá reduzir. Em muitos casos, as estruturas foram aumentadas, como a questão de leitos, equipamentos, médicos. Da mesma forma, na área social, como esses modelos de transferência de renda, onde nem todos eles vão conseguir regredir a períodos pré-pandemia.

Por que não poderão ser reduzidas ou extintas?

Primeiro, porque não se sabe ao certo até quando essa pandemia vai manter seus efeitos e, segundo, porque é muito difícil, depois que se ter criado uma estrutura física, como novos hospitais e leitos, com promessa, inclusive, de ficarem como legados para a cidade. Então, teremos que conjugar um ano que teve uma receita tributária bem deprimida com um aumento de estrutura de gastos, que deverá ser custeado de alguma maneira e, pior, sem uma perspectiva de novas receitas extraordinárias. Esses dias li uma entrevista do Secretário de Orçamento do Estado de São Paulo, que disse que as pessoas estão com a falsa impressão de que o pior já passou na questão das finanças públicas, enquanto o pior está por vir em 2021. Ele tem toda a razão.

Então esses municípios que têm hospitais de referência serão mais prejudicados que os municípios menores?

Existem problemas tanto nos grandes municípios como nos pequenos. Os grandes municípios tiveram que investir mais nas estruturas hospitalares e, consequentemente, sofreram maior pressão na parte da despesa. Mas, por outro lado, também receberam mais recursos na área da saúde para aplicar. O problema, nos casos desses municípios maiores, está em manter essas estruturas, ou, pelo menos, parte dessa estruturas que foram criadas, sem a continuidade do recurso federal. Em compensação, têm uma capacidade de recuperação da sua própria receita tributária maior porque dependem menos de transferências. Já, os municípios menores, que vivem basicamente de transferências, com pouca geração de receita própria, não possuem base tributária própria pra se recuperarem de maneira mais rápida. Talvez os gestores não estejam captando esse problema porque ainda não estão sofrendo com isso. Mas quando os próximos prefeitos assumirem seus postos, no início do próximo ano e olharem para a previsão de receita, se darão conta do tamanho do problema. Insisto que alguma medida deve ser costurada, em nível nacional, para minimizar os efeitos da pandemia, até que a situação desses municípios volte a um patamar de mínima normalidade.

Como os novos prefeitos, que assumem em janeiro próximo, conseguirão enfrentar esse novo cenário?

Cada cidade tem uma perspectiva diferenciada, mas uma questão que vai ter que ser tratada, especialmente nos casos dos grandes municípios, é a da previdência dos servidores públicos. Em todos eles, praticamente existe um déficit previdenciário com crescimento muito acima da capacidade da receita, especialmente num período pós-pandemia. E isso se agrava quando se sabe que a grande parte desses municípios não fez as reformas que a União e alguns estados, como o RS, fizeram para os seus servidores públicos, centradas basicamente na questão da idade mínima para aposentadoria, e, no curto prazo, na questão das alíquotas, o que acabou gerando um alívio no aporte necessário por parte do Tesouro.

E qual a saída pelo lado da receita?

Em que pese todo o debate nacional ocorrido neste ano de 2020, em torno de receita e despesa, fatalmente terá que se retomar a discussão no que tange à grande parte dos municípios brasileiros. Se, por um lado, o País terá que buscar novamente estimular sua economia, da mesma forma, cada município terá que se voltar para a sua própria realidade. Tem-se que considerar que muitas empresas acabaram fechando ou reduzindo muito suas atividades e não se sabe ao certo até que ponto elas conseguirão recuperar a sua capacidade de gerar riqueza, de gerar receita, que é a base tributária. A base tributária do país é praticamente decorrente do PIB e dos agentes privados. Então, teremos, também, que tentar algo nesse sentido.

Qual a solução?

Eu até diria que se fosse possível, deveria se fazer um grande pacto ou uma grande movimento entre os prefeitos que estão entrando, os governadores que já estão aí e o governo federal, pra avançar em algumas reformas que podem minimizar esses efeitos da pandemia e acelerar a recuperação das economias, como reforma administrativa e, especialmente, a tributária. O Brasil tem um modelo federativo de cima pra baixo.

Que tipos de reformas seriam necessárias para a busca imediata desse equilíbrio fiscal?

A reforma da previdência foi feita, mas ainda existe uma questão gravíssima no país, que é a questão tributária. O modelo tributário que alguns chamam de manicômio tributário, é um dos nossos maiores problemas. Com um sistema tributário extremamente complexo, as pessoas não sabem exatamente o que pagam e as empresas têm um custo absurdo para seguirem a legislação vigente. Somado a isso, a judicialização na questão tributária do país, com centenas de milhares de processos, gerados pelas lacunas e problemas de legislação. Uma tributação extremamente regressiva, excessivamente baseada nos tributos indiretos de consumo e não no patrimônio e renda, afetando demasiadamente os mais pobres. Sem contar o problema sério de competências, onde muitos dos municípios acabam abrindo mão de querer tributar para viverem de transferências. Então, uma reforma tributária, que deveria ser de cima para baixo, que atingisse estados e municípios, seria fundamental para amenizar os impactos da crise deixada pela pandemia. Se não avançarmos nisso, continuaremos com todos os problemas de injustiça, de complexidade, que acaba beneficiando os maus pagadores e os mais ricos, que são os grandes beneficiados por todo esse processo.

Logo depois das eleições seria o melhor momento para isso?

Acredito que sim, porque os novos prefeitos têm quatro anos para governar. E, para terem um bom desempenho, precisariam recuperar rapidamente a sua capacidade de prestar serviços. Em 2021, muitos prefeitos assumirão seus cargos com as contas numa situação de insolvência e com as mínimas condições de aprimorar esses serviços.

 

A viabilidade econômico-financeira em tempos de crise



Rogério Tolfo
Economista, consultor de empresas, especialista em projetos e estudos
de viabilidade econômico-financeira, ex-presidente do Corecon-RS

O que é projeto de viabilidade econômico-financeira?

É um estudo técnico em que é verificada a viabilidade econômica do projeto, ou seja, o impacto que uma determinada ação ou investimento trará, a médio e longo prazos, para a empresa em termos de rentabilidade, nos diversos cenários em que é possível analisar e projetar. A parte financeira está relacionada com a geração de caixa dessa ação ou investimento, e o retorno do investimento, em termos de prazo, valor presente líquido e taxa interna de retorno.

Quais apspectos um projeto de viabilidade econômico-financeira pode contemplar?

Normalmente, um projeto de viabilidade econômico-financeira contempla sumário executivo, apresentação e caracterização da empresa, abertura das ações ou investimentos a serem realizados, aspectos técnicos, análise do mercado onde a empresa atua, balanços e aspectos históricos relacionados às peças contábeis, projeções e seus critérios. Da mesma forma, faz parte do projeto a demonstração da avaliação econômico-financeira e da necessidade de capital de giro incremental. A propósito, as projeções podem ser analisadas através de cenários diferentes, desde o mais conservador até o mais otimista.

O que é priorizado na elaboração desse tipo de projeto numa empresa?

Prioriza-se demonstrar principalmente as variáveis que tendem a ser impactadas com as ações ou investimentos a serem realizados, como receitas, custos, despesas, capacidade de produção ou de vendas, e seu impacto na rentabilidade e na geração de caixa do negócio. É sempre bom lembrar que essas premissas, se bem calculadas, tendem a gerar uma avaliação econômico-financeira confiável, o que gera segurança. Mesmo considerando que a fonte de recursos (própria ou financiada), não seja relevante na avaliação econômico-financeira de um projeto, cabe sempre atentar para a capacidade de pagamento do financiamento, caso seja essa a sua opção, bem como inserir os juros e encargos nas projeções. Importante destacar que um projeto bem elaborado pode demonstrar que a empresa tende a ser bem ou mal sucedida ou, mesmo, indicar que pode ser necessário repensar algumas premissas para colocá-lo em operação.

Qual a diferença do foco de análise de um projeto de viabilidade de uma empresa, num momento de crise do mercado, para um contexto de estabilidade ou crescimento econômico?

A maior e grande diferença é a dificuldade de se traçar cenários em momentos de crise. Essa situação ficou bem evidenciada com a pandemia, quando as empresas tiveram muitas dificuldades em projetar receitas, custos, despesas, resultados e vendas em geral, pois estavam situadas em mercados que sofreram grande impacto com as ações de contenção da pandemia, realizadas pelos governos. Assim, em cenários de crise, cabe ser ainda mais detalhista nas projeções e conter qualquer tendência otimista, visto que há muitas incertezas. Costumamos dizer que o papel aceita tudo. Ou seja, projeções mal realizadas, utilizando variáveis e premissas equivocadas, tendem a gerar uma inviabilidade prática do projeto, mesmo que o estudo demonstre que o mesmo tende a ser bem sucedido.

Quando uma empresa deve providenciar um projeto ou estudo de viabilidade econômico-financeira?

Sempre que uma empresa for realizar ações que alterem a sua realidade, o seu momento, cabe fazer um estudo ou projeto. Ações simples podem gerar estudos simples. Por exemplo, a compra de um equipamento de maior produtividade em uma indústria, com o objetivo de desativar outro equipamento existente, pode gerar um estudo simples, demonstrando a redução de custos que vai ser gerada e o prazo em que essa redução de gastos paga o investimento. E ações de grande magnitude tendem a gerar estudos completos e detalhados, como a abertura de uma filial, para ampliar vendas e produção. Essa nova unidade tem que ser viável econômica e financeiramente para compensar o ato de investir.

Realizar projetos de viabilidade é uma prática usual nas empresas?

Infelizmente não. Mas está melhorando. Grandes empresas normalmente possuem departamento de estudos e projetos, que contam com economistas e outros profissionais contratados ou terceirizados para estudar as ações e projetos da empresa e seus impactos na companhia. O maior problema está nas micro, pequenas e médias empresas, que muitas vezes investem em ações e/ou projetos, mas não realizam o estudo ou o fazem sem atender os critérios técnicos adequados. Daí, a importância dos profissionais habilitados para assessorar essas empresas, como o economista. Projetos mal concebidos econômica e financeiramente podem não só inviabilizar a ação em si como toda a empresa. Ter um projeto qualificado também é um investimento

Qual a sugestão para o estudante e o profissional da Economia que queiram se especializar na área?

Para os estudantes, importante começar cedo, ainda na faculdade. Muitas delas possuem empresas júnior, que são habilitadas a fazer esse tipo de trabalho e contam com o apoio dos professores. Para profissionais já formados, importante analisar cases de sucesso existentes no mercado ou conversar com profissionais experientes que atuam a tempo no mercado. Há empresas de consultoria, especializadas em elaborar tais estudos. Também há espaço em bancos e na área pública. O economista sai da faculdade em condições técnicas de fazer um projeto, e a experiência vem com o tempo. Atuo na área há mais de 25 anos e considero fascinante o fato de que, ao elaborarmos um projeto, usamos um verdadeiro arsenal de ferramentas vistos na faculdade de economia, analisamos mercados, usamos a experiência e, também, aprendemos, já que cada situação contém suas especificidades.

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