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Professor de Economia
 
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DESCRIÇÃO DA VAGA
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Introdução à Economia
Curso Profissionalizante
Localidade Cachoeirinha
Horário das 19h. às 22h.
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O impacto chinês no mercado brasileiro: seria a crise mundial?

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Julcemar Bruno Zilli
Economista
Corecon/RS nº 7452

 

O que está acontecendo com a economia chinesa? Trata-se de uma bolha?
O crescimento apresentado pela China nos últimos 10 anos foi sempre superior a 10% ao ano, indicando que, em média, de 10 em 10 anos sua economia teria capacidade de dobrar de tamanho. Entretanto, em 2015 o avanço econômico chinês foi da ordem de 7% ao ano, abaixo do esperado, sendo a menor taxa anual para o país em 25 anos. Os ganhos observados com Produto Interno Bruto (PIB) chinês fizeram com que os governantes buscassem mudanças no perfil de sua economia, tentando passar de um modelo exportador para uma economia voltada ao consumo interno. Isso tudo foi possível porque o Banco Central da China se comprometeu a apoiar o crescimento sustentável do país e passou a limitar investimentos do exterior. As exportações, que apoiavam a economia chinesa, passaram a cair e o governo precisou desvalorizar o Yuan. Diante do menor crescimento verificado na China, a procura por commodities, como o petróleo, minério de ferro, soja, açúcar, reduziu-se, afetando boa parte dos países exportadores, especialmente o Brasil, que é um parceiro comercial na comercialização de produtos para a China.

Não se trata de uma “bolha” chinesa?
Não se trata de uma “bolha”, visto que o crescimento continua existindo, a menores taxas, mas, mesmo assim, crescendo mais do que todas as demais nações. Trata-se de um processo necessário para ajustar as taxas de crescimento elevadas que se verificaram nos últimos anos. Portanto, os avanços da China aqueceram as economias emergentes, gerando dependência significativa ao país asiático, especialmente, e isso tem conjecturado expectativas sobre como a China irá se inserir nesse novo cenário de crescimento mais modesto e como os países que se tornaram dependentes da China vão se comportar perante essa nova realidade econômica.

Por que a crise das bolsas chinesas tem abalado os mercados internacionais?
As preocupações em torno da economia chinesa têm afetado os mercados internacionais porque provocam fuga de ativos considerados mais arriscados, interferindo negativamente nas cotações das principais bolsas de valores do mundo. A forte turbulência nos mercados ocorre porque há indicações de que a desaceleração da economia chinesa poderá ser maior do que vêm indicando as projeções para o PIB oficial. Análogo a isso, as ações governamentais de socorro à bolsa chinesa vêm afastando os poupadores e atraindo mais especulação. O movimento recente do Banco Central da China de desvalorizar o Yuan também levou a um choque negativo no desejo de risco e elevou a preocupação de contaminação no crescimento global, mesmo que o governo também esteja “guerreando” para alcançar a média anual de crescimento econômico de ao menos 6,5% ao ano, entre 2016 e 2020. O Fundo Monetário Internacional (FMI) tem registrado que a desaceleração da China e a forte queda de seu mercado acionário não é o anúncio de uma crise, mas apenas um ajuste “necessário”, devido às elevadas taxas de crescimento verificadas, que se tornaram insustentáveis no longo prazo. Portanto, a redução nos contratos internacionais de commodities tem impactado na cotação das ações das empresas porque a lucratividade das empresas tenderá a reduzir-se pela menor demanda de produtos da China. Assim, o mercado acionário apresenta reduções nos valores das ações, afetando os indicadores de negócios e valores das principais bolsas de valores mundiais.

Se for confirmada desaceleração ainda maior da economia chinesa, que tipo de impactos sofrerão as economias do terceiro mundo, entre elas a do Brasil?
Os impactos nas economias emergentes podem ser vistos, principalmente, no comportamento do valor das ações negociadas nas bolsas de valores. No caso brasileiro, as cotações das ações negociadas na Bm&fbovespa têm apresentado quedas seguidas, indicando perda de valor de mercado. Além do impacto no preço de commodities internacionais e menor volume exportado para a China, um menor crescimento chinês pode ocasionar uma fuga maior de recursos das economias emergentes, como o Brasil. A maior incerteza quanto ao encaminhamento do efeito China nas demais economias gera pressão cambial sobre o dólar e, com isso, se desvaloriza a moeda brasileira. O Brasil tem um sistema de fixação de câmbio considerado limitadamente flutuante, sendo que o Banco Central (BACEN) faz intervenções quando as oscilações apresentam elevadas magnitudes. Nesse caso, ocorre a venda de dólares por meio de leilões, que visam inundar o mercado com dólares, controlando sua cotação por meio do uso das reservas cambiais. Felizmente, o Brasil possui elevado estoque de reservas internacionais, o que dá ao país segurança e capacidade para enfrentar essa flutuação cambial sem gerar mais problemas financeiros. Portanto, com a desaceleração da economia chinesa, cada vez mais as empresas deverão encontrar economias alternativas para comercializar seus produtos com o propósito de reduzir sua dependência para com alguns países.

Num momento desses, para onde migra o dinheiro da especulação?
Em momentos de crise os recursos destinados aos investimentos especulativos acabam por serem enviados para países que apresentam baixo risco de crédito, mesmo que, no curto prazo, isso se transforme em menor retorno aos investimentos. Da mesma forma, os fundos de investimentos procuram países que apresentam grau de investimento, o que, infelizmente, o Brasil perdeu no final de 2015. Além disso, os recursos dificilmente são investidos nos setores produtivos das economias para gerar produção e empregos. Esses recursos são aplicados em ativos financeiros de curto prazo em economias com grau de investimento e que apresentam credibilidade econômica, financeira e governamental. Por conseguinte, os recursos serão investidos em ativos pouco produtivos, que apenas geram rentabilidade para o investidor, sem agregar recursos significativos para a sociedade.

O Brasil só teria a perder com essa crise ou pode haver algum tipo de oportunidade?
Sem dúvida, as perdas são maiores do que os ganhos observados com o comportamento da economia chinesa, principalmente, na comercialização de commodities. Além disso, a Bolsa de Valores apresenta índices negativos e gera o “efeito manada”, derrubando as ações de empresas que não estão intimamente ligadas ao comércio com a China. Entretanto, a desvalorização do real aumenta a competitividade das mercadorias brasileiras no exterior, e isso poderá auxiliar os empresários brasileiros na manutenção dos principais negócios. Também, demonstra a importância das empresas comercializarem com outras economias, reduzindo assim, a dependência a poucos compradores. Portanto, os impactos para o Brasil, com a desaceleração econômica da China, afetarão vários setores da economia, inclusive gerando efeito negativo sobre as taxas de emprego.

De que forma essa crise pode afetar estados exportadores como o RS?
Os efeitos da China nas economias exportadores podem ser vistos por meio das reduções nas exportações de produtos. Nesse sentido, como a China é um dos principais países compradores de algumas das matérias primas comercializadas no Estado, como a soja, pedras preciosas, maquinários, carne bovina, suína, avícola, etc, tende-se a sentir alguns problemas socioeconômicos, visto que ocorrerá mais desemprego, menos produção e, automaticamente, redução de renda nos munícipios. Portanto, esses efeitos influenciarão nas finanças do estado porque menos tributos serão gerados e, automaticamente, ocorrerá redução de investimentos nos serviços básicos da população.

Existe saída, via exportação, para a indústria automobilística brasileira?


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Rodrigo Morem da Costa
Economista, Pesquisador da FEE
Corecon/RS nº 6592

 

Essa crise vem sendo sentida na indústria automobilística ou no setor como um todo?
É uma crise que vem afetando o setor automotivo como um todo. A indústria automobilística, no seu processo produtivo, organiza-se através do sistema just in time, que requer a quantidade de insumos demandados no tempo requisitado, trabalhando com um mínimo de estoque. Com isso, as montadoras acabam transferindo esse sistema também aos seus fornecedores, fazendo com que eles se organizem dessa forma. Portanto, é praticamente impossível a queda do desempenho das montadoras não afetar, de modo praticamente simultâneo, os fabricantes de sistemas e fornecedores de autopeças, de partes e componentes.

O que aconteceu com o setor automotivo brasileiro?
Após o grande crescimento ocorrido do ano de 2003 ao de 2012, a partir de setembro de 2013, o setor automotivo brasileiro vem experimentando sucessivas e intensas quedas em seu desempenho, culminando com um cenário de crise. Tanto que de uma redução de 0,8% nas vendas de veículos de janeiro a novembro de 2013, comparado ao mesmo período do ano anterior, o setor chegou a uma queda de 8,4% em 2014 e de 25,2% em 2015. Com base neste cenário, ocorreram ajustes na produção, que acabou encolhendo 50% de setembro de 2013 a outubro de 2015, e no emprego no setor automotivo, com redução drástica do emprego formal e adoções de medidas de readequação, como lay-offs, férias coletivas, adesões ao Plano de Proteção ao Emprego e outras.

O que explica essa retração?  
Entre outros fatores, estão a crise política, a desaceleração da economia, o aumento do desemprego, as restrições ao crédito e a elevação nos preços dos veículos. Somado a isso, as exportações caíram, de setembro de 2013 a novembro de 2015, 38,3% em quantidade e 44,7% em valor.

E a que se deveu a queda das exportações?
Esse movimento de queda das exportações está relacionado principalmente à crise econômica e de evasão de divisas internacionais, com imposição de barreiras por parte da Argentina, que respondeu por 70% das exportações brasileiras na média de 2011 a 2014. Soma-se a isto, o baixo dinamismo do comércio internacional na América Latina, desde 2009.

O que aconteceu no Brasil a partir de 2013, com a retração mais intensa do setor automobilístico, pode ser caracterizado como o início de uma grande bolha no setor?
O mercado brasileiro apresenta potencial para o crescimento do setor. A indústria automobilística percebe os cinco habitantes por  veiculo como um potencial de crescimento das vendas, já que o nível de saturação do mercado – considerando os países mais desenvolvidos – fica abaixo de dois habitantes por veiculo. Então, considerando o tamanho da economia brasileira, há a percepção de que existe oportunidades para o aumento do mercado. Então, mais do que uma bolha, o que vem ocorrendo no setor no momento atual é uma redução da demanda por veículos automotores: no mercado nacional, em razão da crise econômica e política do Brasil; e no mercado externo, devido às dificuldades da Argentina e da desaceleração do comércio internacional na América Latina após a crise financeira mundial de 2009.

O que está sendo feito para superar essas dificuldades do setor?
Em função da desaceleração da economia brasileira, foi lançado, em junho de 2015, o Plano Nacional de Exportações (PNE), que tem como um dos principais objetivos a retomada de seu crescimento via exportações. Nesse contexto, o aumento das exportações da indústria automobilística, por seu peso na economia, elevado número elos de encadeamento com outras atividades econômicas em seu complexo de produção e por sua média-alta intensidade tecnológica, surge como um dos alvos preferenciais no PNE. Assim, foram renovados acordos de exportação com a Argentina, México, Uruguai e Colômbia e estão sendo feitas negociações com o Paraguai. As montadoras estão pleiteando, também, a abertura de negociações com o Peru e o Equador.

Por que a América Latina e a África são boas opções de exportações para o setor brasileiro?
Isso está ligado à forma de organização internacional da cadeia de valor da indústria automobilística. Desde a metade dos anos 1990 ela vem se organizando em bases regionais, com produção automotiva em suas principais economias. Isso se deve a esta indústria ser de média-alta intensidade tecnológica e intensiva em capitais, gerando elevados custos fixos, que requerem larga escala de vendas para a sustentabilidade financeira das empresas. Além disto, a organização em bases regionais visa mitigar o risco de queda nas exportações, por desvalorizações cambiais ou medidas protecionistas por países individuais, bem como promover maior adaptação dos veículos ao mercado local. Assim, o Brasil foi escolhido como plataforma regional de produção, por seu tamanho, inserção no Mercosul, e proximidade com as nações da América Latina, para atender à demanda dessa região. No caso da África, a produção ocorre em alguns países, mas é relativamente pequena. Assim, as vendas internacionais brasileiras tendem a se concentrar mais na América do Sul, onde estão as maiores economias, com exceção do México. Em relação a este país, sua produção se destina a atender à demanda dos EUA, do Canadá e da própria classe alta mexicana, o que lhes retira a escala necessária para produzir os veículos mais simples, os chamados “populares”. Então, é ai que entram as exportações do Brasil para o México.

A melhora das exportações, apesar de ser positiva, não é o suficiente para tirar o setor da crise?
Os acordos comerciais estabelecidos no âmbito do PNE, juntamente com a desvalorização cambial, tendem a ser positivos para as exportações de veículos, mas insuficiente para tirar o setor da crise no curto prazo, considerando o próximo ano. O primeiro fator é que as exportações hoje respondem por apenas 15% de veículos produzidos aqui no Brasil. O segundo ponto é que, com a queda das vendas, acumularam-se estoques elevados de veículos prontos nos pátios das montadoras, e elas necessitam, agora, vender esse excesso para poder recuperar a produção e o nível de emprego. E num terceiro aspecto, o dinamismo da América do Sul no próximo ano tende a ter um desempenho fraco. Destaca-se o caso da Argentina, destino de 70% das nossas exportações, cuja projeção de crescimento do PIB em 2016 é de apenas 0,8%, de acordo com a CEPAL. Assim, a meu ver, a saída da crise do setor automotivo passa mais pela recuperação do mercado brasileiro, mediante estabilização política, ajuste fiscal e retomada das políticas de desenvolvimento econômico e social.

Quando vamos retornar aquele patamar de crescimento atingido em 2012?
Neste momento é muito difícil de prever, em função do quadro de forte incerteza e da crise econômica brasileira. Mas há espaço para crescimento, na medida em que melhorar o desempenho da economia brasileira e o mercado externo vier a se fortalecer com um câmbio competitivo.

O Corecon e a sociedade gaúcha

 

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Simone Magalhães
Economista, presidente do Corecon/RS
Corecon/RS nº 6352

 

Quais os seus planos frente ao Corecon/RS?

Nosso objetivo maior é valorização da profissão do Economista. Temos hoje, no Rio Grande do Sul 18 cursos de Ciências Econômicas, e a nossa meta é fortalecer a relação com essas universidades, estreitando esse convívio, aproximando-se  cada vez mais dos estudantes de Economia e, também, dos profissionais economistas de todo o estado. Queremos dar todos os subsídios e apoio para as associações de economistas do interior, que já têm um histórico de relações com suas cidades e com os diversos segmentos dentro das comunidades em que estão inseridos. E isso, para nós, é muito importante.  Vamos dar continuidade a um projeto especial do Corecon/RS, que é o fortalecimento da participação do Economista no mercado de trabalho, tanto da área publica quanto da área privada.

E, neste contexto, qual a importância da função do Corecon como órgão fiscalizador?

Não apenas o Corecon do Rio Grande do Sul, como os de outros estados, também têm uma função importante como órgão fiscalizador legal da atividade do Economista no mercado de trabalho. Temos uma área de fiscalização, onde verificamos e acompanhamos os profissionais de Economia, assim como empresas da área, que atuam no mercado sem o devido registro no órgão superior da categoria. Existem bacharéis em Economia que não estão registrados nos conselhos regionais, e, portanto, não podem, por força de Lei, se intitular economistas sem o devido registro. Mas a nossa função também é de esclarecer sobre a importância de o profissional estar registrado no seu órgão de representação máxima para o exercício legal e o fortalecimento de sua profissão.

Com o passar do tempo, o perfil das atividades vão se modificando. Como estão as funções privativas dos economistas?

Hoje, no Brasil, o Economista atua em 49 áreas macros de atividades. Cada uma dessas áreas divide-se em diversas outras, micros. Nós temos, por exemplo, Perícia na área econômico-financeira, que é uma atividade  especifica do Economista, avaliação de empresas, progressos de avaliação, de investimentos, entre outras, extremamente específicas, em que o Economista tem sido bastante atuante. Ainda, tanto na iniciativa privada como na iniciativa pública, o Economista tem uma função de gestor. Afinal,  para que possamos executar nossa atividade, a gestão dos trabalhos e da equipe é fundamental. O profissional da Economia, hoje, é muito demandado também para levar o esclarecimento à população sobre a realidade dos acontecimentos no dia a dia. E as pessoas têm que estar bem informadas sobre questões básicas que a envolvem na sua rotina de vida, como o seu controle financeiro, da sua família, enfim, que vão lhe proporcionar maior crescimento e qualidade de vida. E a nossa função, além de informar, é esclarecer a sociedade sobre as melhores alternativas para o enfrentamento, por exemplo, da crise que vivenciamos.

Quais os planos do Corecon/RS para o interior do estado?

Hoje, nós temos a Associação dos Economistas da Região Sul do Rio Grande do Sul, a Aeconsul, cuja sede está situada na cidade de Pelotas, além da Delegacia Regional, também naquele município. Temos a Associação dos Economistas da Serra Gaúcha, a Ecoserra, localizada na cidade de Caxias do Sul, onde também está localizada a nossa Delegacia Regional. Em Passo Fundo, temos a Asseplam, Associação dos Economistas do Planalto Médio, que, no ano passado completou 50 anos de existência. Vamos ver a possibilidade de reativar a Associação dos Economistas dos Vales do Taquari e Rio Pardo, que até poucos meses funcionava na cidade de Lajeado. Queremos, portanto, dar todos os subsídios e apoio para essas associações de economistas, que já têm um histórico de relações com suas cidades e com os diversos segmentos das comunidades em que estão inseridos. Temos, ainda, um programa de interiorização, em que visitamos as principais cidades do interior do Rio Grande do Sul, reunindo-nos com as universidades, prefeitos, juízes, empresários e com a sociedade como um todo, levando ao conhecimento das pessoas a real importância da atividade do Economista, a situação do mercado de trabalho e a importância do Corecon/RS nesse contexto. Temos, ainda, a Semana do Economista, que acontece na primeira semana de agosto e que possui um forte envolvimento das entidades representativas de nossa categoria com as universidades, oportunidade em que os economistas de todo o estado mobilizam-se em torno das melhores alternativas de atender, através de sua atividade, à sociedade como um todo.

Que propostas tem o Corecon/RS na área de qualificação e cursos?

É fato que nenhuma graduação, seja do curso de Ciências Econômicas, como dos outros cursos, prepara totalmente o profissional para o mercado, que está a cada dia mais concorrido e exigente. Nos anos anteriores, um trabalho de qualificação já vinha sendo feito, através de cursos realizados em universidades, no próprio Corecon/RS, ou de convênios com faculdades. Exemplo disso é o convênio com a Fadergs, em que nossos economistas têm desconto para participarem de qualquer curso de pós-graduação. Pretendemos intensificar o número de cursos, tanto na capital quanto no interior do estado, com o apoio das universidades na formação de turmas, e ampliar o número de convênios com instituições de ensino, interação esta que é fundamental para a melhor qualificação dos nossos profissionais. Estamos, também, estudando a criação de outras frentes de qualificação.

Reservas internacionais e impactos macroeconômicos

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Caroline Pelisser
Economista
Corecon/RS nº 8362

 

 

Qual é a importância, para um país emergente, como o Brasil, de um estoque robusto de reservas internacionais?

O estoque de reservas internacionais de um país funciona principalmente como um mecanismo de autoproteção contra crises financeiras. Com um alto estoque de reservas internacionais, os países formam um “seguro anti-crise”, garantindo a liquidez na economia em momentos de colapso, podendo evitar a desvalorização excessiva de sua moeda e ter maior margem de manobra para a continuidade de políticas macroeconômicas. Um alto estoque de reservas internacionais também funciona como um indicativo favorável externo, melhorando a confiança dos investidores ao sinalizar que o país está preparado para enfrentar turbulências financeiras. Por exemplo, entre abril e maio de 2008, o estoque de reservas internacionais foi um dos fatores determinantes, porém não único, para o Brasil receber das agências de risco independentes S&P (Standard & Poors) e Fitch, o chamado investment grade, um título atribuído a países que possuem a recomendação de investimento devido à solidez de suas economias. Com essa classificação, o país deixou de ter sua nota de crédito soberana considerada como grau especulativo e passou integrar um grupo de países avaliados como seguros para investimentos externos.

Como ocorreu a evolução do processo de acumulação de reservas internacionais no Brasil? Qual é o patamar atual?

O Brasil vem apresentando uma tendência de acumulação intensiva de reservas cambiais tal como os demais países emergentes. No final dos anos 1980, o País experimentou um processo gradual de intensificação da abertura econômica, percebendo, com maior nitidez, os impactos da dinâmica do sistema financeiro internacional, determinando a composição dos fluxos de capitais destinados à economia nacional. A partir de 2003, a combinação entre melhoria na renda dos países desenvolvidos e aumento no preço das commodities gerou ampliação da liquidez internacional e o acúmulo intensivo de reservas nas economias emergentes. Aproveitando-se do cenário externo favorável, o Brasil, especialmente em 2004, registrou uma melhora significativa nas contas externas, pagando seus compromissos com o FMI e registrando um avanço gradual nos indicadores de vulnerabilidade e no perfil de financiamento externo, observando uma onda de aumento dos influxos de capitais. Tal cenário favoreceu ainda mais o aumento das reservas internacionais, assim como a redução da dívida de curto prazo. Para se ter ideia, as reservas cambiais brasileiras saltaram de 2,1% do PIB em 1990 para 7,9% do PIB em 2007. Atualmente, encontram-se no patamar de US$ 369 bilhões, levando-se em conta o conceito liquidez, com base em novembro/2015, ou 20% do Produto Interno Bruto, acumulado nos últimos 12 meses, com base em novembro/2015.


A manutenção dessas reservas tem custos para o País?

Para inferir sobre o custo das reservas internacionais deve-se considerar uma análise acerca da sua aquisição e financiamento. Uma das maneiras básicas de financiamento das reservas, comumente utilizada pelas autoridades monetárias é a compra direta de moeda estrangeira através da venda de moeda nacional. Essa escolha de financiamento, pode incorrer em efeito duplamente custoso para o país. Caso não sejam realizadas operações de esterilização, a base monetária será aumentada, causando problemas inflacionários e alterações no câmbio. Entretanto, se a esterilização for feita, a base monetária não sofrerá alteração, mas esta operação também incorrerá em custos. A esterilização cambial, de forma sintética, funciona da seguinte maneira: o Banco Central (BC) compra moeda estrangeira efetuando o pagamento em moeda nacional, o que, por consequência, aumenta a base monetária. Para enxugar essa base monetária, o BC conduz operações no mercado aberto, geralmente por meio da venda de títulos públicos, o que ocasiona aumento da dívida pública e, possivelmente, a sua proporção em relação ao PIB, que está diretamente associada ao risco dos títulos do governo, acarretando em entraves ao endividamento público, bem como influenciando as taxas de juros para a aquisição desses títulos. É importante perceber, que o aumento da dívida pública será tanto maior quanto maior for o diferencial entre a taxa de juros interna e externa. Isso ocorre porque o BC investe suas reservas internacionais especialmente em títulos do governo americano, recebendo em troca juros muito baixos. Dessa forma, o custo fiscal da manutenção de reservas cambiais pode ser interpretado basicamente como a diferença entre o retorno das aplicações em reservas em instituições financeiras internacionais, que geralmente são muito baixos, e os altos juros pagos pela dívida pública interna. Além disso, pode-se pensar também em um custo de oportunidade, dado que quando a autoridade monetária decide acumular ativos em moeda estrangeira significa que ela decidiu, ao mesmo tempo, não acumular ativos em moeda nacional.

Existe um debate sobre o nível ótimo de reservas. Em que consiste este debate e por que ele é importante?

Quando se fala em acumulação de reservas internacionais, normalmente, a associação feita quase de forma instantânea relaciona-se a aspectos puramente benéficos, de autoproteção contra crises financeiras e garantia de liquidez. Contudo, essa análise superficial negligencia um aspecto macroeconômico importante: o custo das reservas internacionais. Esses custos são altos demais para serem negligenciados. Nesse contexto, o debate acerca de um nível ótimo consiste em ponderar o acúmulo de reservas internacionais avaliando o seu custo-benefício. Uma análise sob essa perspectiva é, no mínimo, necessária, principalmente em um país como o nosso, onde há acumulação intensiva de reservas internacionais sem uma regra ou uma racionalidade explícita. A avaliação da estratégia de acumulação de reservas internacionais, ponderando os custos envolvidos e também seus impactos macroeconômicos pode contribuir para uma maior eficiência dos gastos públicos, dado que aproxima o impacto da retenção desses ativos no orçamento fiscal. Além disso, é importante notar que a acumulação de reservas internacionais acima do nível adequado, além de representar desperdícios, pode, também afetar negativamente o desempenho macroeconômico. Em suma, uma análise acerca do nível ótimo de reservas pode sinalizar a necessidade de uma reavaliação da estratégia de acumulação intensiva e um gerenciamento mais eficiente no que se refere a essa política.

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