Vagas para Economistas

Professor de Economia
 
Inscrições até 08/05/2024

DESCRIÇÃO DA VAGA
Estamos buscando um professor de economia para compor o nosso time.

Introdução à Economia
Curso Profissionalizante
Localidade Cachoeirinha
Horário das 19h. às 22h.
Enviar Currículo: j.pinto@terra.com.br

A estrutura dos Arranjos Produtivos no estado

 

fernanda sperotto

 

Fernanda Queiroz Sperotto
Economista, pesquisadora da FEE
Corecon/RS Nº 6857

 

O que é um Arranjo Produtivo Local (APL)?
Um APL caracteriza-se pela concentração territorial de empresas de um mesmo setor produtivo e/ou de setores complementares, na qual são perceptíveis, em maior ou menor grau, laços de articulação, cooperação, interação e aprendizagem entre os diversos atores locais (empresas, associações, poder público, escolas técnicas e profissionalizantes, universidades, instituições financeiras, dentre outros).

Quantos APLs estão identificados no Brasil?
Segundo o Observatório Brasileiro de APLs, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), existem no País 790 aglomerações. Entre os estados, os destaques são 82 APLs em Goiás, 73 em São Paulo e 65 em Minas Gerais. O Rio Grande do Sul e o Paraná, nessa classificação, encontram-se na 6ª posição, com 34 APLs cada um, enquanto que Santa Catariana, com 25 APLs, está na 9ª posição. É válido lembrar que essas posições são ilustrativas. Quaisquer comparações, entre estados ou APLs, necessitam de análises mais minuciosas, que vão muito além da contagem de arranjos.

De que forma estão estruturadas as aglomerações existentes no RS?
Dos 32 APLs existentes no Rio Grande do Sul, 27 deles são enquadrados, ou seja, já fazem parte do Projeto APL conduzido pela Agência Gaúcha de Desenvolvimento e Promoção do Investimento (AGDI), e cinco são reconhecidos, que dizer, solicitaram seu reconhecimento à Entidade, mais precisamente, ao Núcleo de Ações Transversais (NEAT) –, porém, ainda não integram o Projeto APLs. É importante destacar que tanto o enquadramento como o reconhecimento pressupõem a apresentação de documentos que comprovem a existência de vínculos de cooperação (empresas e/ou produtores), de ações coletivas realizadas e de uma governança local.

Quais são os APLs considerados enquadrados e quais são os reconhecidos?
Os APLs enquadrados são o da Agroindústria Familiar, do Corede Celeiro; Agroindústria Familiar, da Região das Missões; Agroindústria Familiar e Diversidade, do Médio Alto Uruguai e do Rio da Várzea; Agroindústria Familiar e Alimentos, do Vale do Rio Pardo; Agroindústria Familiar, do Vale do Taquari; Alimentos, da Região Sul; Audiovisual; Complexo Industrial da Saúde; Eletroeletrônico de Automação e Controle; Máquinas e Equipamentos Industriais; Metalmecânico, da Região Central; Metalmecânico e Automotivo, da Serra Gaúcha; Metalmecânico Pós-colheita; Moveleiro, da Serra Gaúcha; Pedras, Gemas e Joias; Polo de Moda da Serra Gaúcha; Polo Naval e de Energia de Rio Grande e Entorno; Tecnologia da Informação e Comunicação da Região Central; Tecnologia da Informação da Serra Gaúcha; Leite do Corede Fronteira Noroeste; Tecnologia da Informação e Comunicação da Região Norte; Apicultura do Vale do Jaguari; Polo de Defesa de Santa Maria; Polo de Moda do Norte Gaúcho; Vitivinícola da Serra Gaúcha; Ovinos e Turismo, do Alto Camaquã; e o Pré-Colheita, do Alto Jacuí e Produção. Os APLs reconhecidos são o Setor Têxtil e do Vestuário, da Região do Alto Uruguai Gaúcho; Polo Naval, do Jacuí; Agroindústria Familiar, do Litoral; Móveis, de Torres; e Leite, de Santana do Livramento.

Que setores da economia estão beneficiados pelos APLs do RS?
A princípio, todos os setores são potenciais proponentes. No Rio Grande do Sul, o setor industrial é o que possui mais aglomerações. As atividades são bem diversificadas. Temos APLs de agroindústria familiar, de segmentos mais tradicionais da nossa economia, como o metalmecânico, automotivo, máquinas e equipamentos agrícolas, móveis, leite, vinhos, etc, e, também, de outros mais tecnológicos, como o Complexo Industrial da Saúde, Eletroeletrônico de Automação e Controle, Tecnologia da Informação e Comunicação e Polo de Defesa.

Em que regiões do estado têm se concentrado as principais aglomerações?
Ainda que estejam espalhadas pelo estado, verifica-se uma maior concentração dessas aglomerações no eixo Porto Alegre-Caxias do Sul, e, especialmente, no Corede Serra. Dos 27 APLs enquadrados, oito reconhecidos contemplam pelo menos um dos municípios do Corede da Serra.

Qual a tendência desses APLs?
Esta é uma pergunta difícil de responder, pois o surgimento e o amadurecimento de uma aglomeração produtiva dependem de vários aspectos, tanto de natureza local (elementos histórico-culturais) como de natureza externa (políticas governamentais de incentivo). O Estado, desde 1999, vem, em maior ou menor grau, incentivando e executando ações de estímulo aos APLs. Como exemplo, cabe lembrar o Programa de Apoio aos Sistemas Locais de Produção e o Projeto APLs. Desde então, observa-se que vem aumentando o número dessas aglomerações. Porém, embora haja APLs consagrados, como o Moveleiro da Serra, e muitos em desenvolvimento – como os APLs Complexo Industrial da Saúde, Pré-colheita Alto Jacuí e Produção (máquinas e equipamentos agrícolas) e o APL Pedras, Gemas e Joias –, é importante ressaltar que algumas aglomerações ainda se encontram em estágios incipientes.

O ambiente para investimentos e o mercado de capitais

 

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José Junior de Oliveira
Economista, analista de Mercado de Capitais, presidente da Apimec-Sul
Corecon/RS Nº 5500

 

Qual a função da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec)?

A Apimec, pelo lado do analista, é a entidade nacional responsável pela certificação e fiscalização dos profissionais que atuam no mercado de capitais, o que permite conceder o chamado CNPI, que é o Certificado Nacional do Profissional de Investimento do Mercado de Capitais, cujo poder de certificação foi outorgado à Apimec pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), órgão governamental que fiscaliza o mercado de capitais no Brasil. Esta certificação profissional funciona como um “selo de qualidade” para os profissionais que atuam no mercado de capitais. Desde as provas, avaliação e o acompanhamento sobre se os profissionais estão agindo de maneira adequada no mercado é realizado pela Apimec Nacional, com sede em São Paulo. Temos, também, uma atuação forte na questão da educação financeira. A Apimec tem a responsabilidade de treinar e qualificar profissionais e investidores através de cursos voltados ao mercado que vão desde a Introdução ao Mercado de Capitais até o MBA em Mercado de Capitais. Os cursos abordam investimentos em ações, mercado financeiro, renda fixa, debêntures, títulos públicos, títulos privados, enfim, todas as alternativas de investimento existentes no mercado, de forma que possam entender essas operações, suas perspectivas de retorno e os riscos envolvidos em cada uma delas. O carro chefe da Apimec é a educação do mercado, já que, para investir no mercado de capitais, é preciso entender como funciona.

Qual o perfil dos candidatos aos cursos?
O perfil é variado. Quando a bolsa estava num período bem positivo no Brasil, até 2008, por exemplo, tínhamos além de economistas, administradores e contadores, médicos, advogados, engenheiros e profissionais de outras áreas que frequentavam desde os cursos mais básicos até os mais aprofundados, para entender o funcionamento do mercado de capitais e investir seus recursos de maneira diversificada. Entretanto, os profissionais formados em áreas mais relacionadas com finanças, como é o caso dos economistas, com certeza têm mais afinidade com os conteúdos propostos.

Como funciona a relação com as empresas?
A Apimec tem essa função, de certificação, educação e fiscalização, mas também tem a relação com as empresas de capital aberto, ou seja, as empresas com ações negociadas na bola de valores, que se dá através de reuniões para divulgação de resultados. As empresas de capital aberto, divulgam seus resultados e vêm a público, através da Apimec, onde os analistas têm um conhecimento mais profundo do mercado e onde conseguimos ter essa proximidade, saber o que estão fazendo na área de gestão, investimentos, planejamento, cenários, enriquecendo e subsidiando os analistas em suas análises e os investidores no processo de tomada de decisões e posicionamentos sobre a realidade que envolve o mercado.

Como a Apimec está vendo esse momento de instabilidade econômica?
Com muita cautela. Depois de muitos anos tentando derrubar a inflação, o Brasil conquistou estabilidade na economia através do Plano Real. O País conseguiu ter uma moeda forte e estável, que proporciona um planejamento de longo prazo, ambiente propício para fazer reformas essenciais, como as reformas da previdência e tributaria, para melhorar o ambiente de negócios e, consequentemente, fazer a economia crescer. Hoje, talvez não dê pra se dizer que estejamos pessimistas, mas estamos bastante cautelosos. Desde 2008, com exceção de 2009, quando o mercado de capitais teve uma retomada, não vemos mais as empresas procurando o mercado de capitais para emitir ações de forma a captar recursos de longo prazo e investir nos seus negócios. O que percebemos é uma economia que não cresce, sem perspectivas, com descontrole nas contas públicas, um governo gastando mais do que arrecada e inflação em elevação, fatos que nos deixam com um cenário de curto e médio prazo bem preocupante. Isso nos coloca numa situação de pessimismo, já que os resultados serão o enfraquecimento do nível da atividade econômica e consequente aumento do desemprego. Neste contexto, o mercado de capitais que poderia ser o propulsor do crescimento e desenvolvimento, com recursos dos investidores sendo canalizados para as empresas, de forma que pudessem alocar os recursos no setor produtivo, gerando negócios, empregos, renda e crescimento, observa-se, nos últimos anos, uma redução do mercado e de uma importante fonte de financiamento de longo prazo.

Vocês sentem essa ansiedade nas reuniões com as empresas?
Sentimos muita ansiedade e um certo desânimo. O cenário que vislumbramos é de pessimismo. Não vemos perspectivas de um ambiente econômico e político que permita retomar os investimentos. O País tem muitas reformas para fazer. O governo tem que fazer o dever de casa, arrumando suas contas através de um ajuste fiscal crível que permita maior estabilidade econômica e controle da dívida pública, que hoje se encontra em torno de 66% do PIB, já tem projeção de ultrapassar os 80% do PIB em 2018. Como está hoje, os juros tendem a permanecer em patamares elevados e o risco aumentar. Aliás, isso já nos custou o rebaixamento do nível de risco da dívida brasileira para grau especulativo pelas principais agências de rating internacionais. Não podemos deixar de ressaltar que a economia brasileira praticamente não cresceu em 2014 (PIB 0,1%) e em 2015 (PIB -3,8%), e a perspectiva para 2016 é negativa. Nos últimos dois anos, os empresários simplesmente não investiram, em função das incertezas que são muito grandes, principalmente porque esse ambiente de instabilidade política e econômica é extremamente ruim para a economia do País.

Qual a orientação da Apimec para o investidor, nesse momento de instabilidade e incertezas?
Ser cauteloso, conservador, fugir do risco. Aquele que quer investir em ações hoje, tem boas opções, mas deve olhar com muito cuidado. Investir nas empresas mais sólidas, com perspectivas de geração de valor no médio e longo prazos e fazer uma análise mais detalhada. Enfim, optar por investimentos que sejam menos arriscados. Caso não queira investir em ações, por entender que o risco pode ser elevado, o interessante é procurar investimentos mais conservadores, como títulos de renda fixa de instituições de menor risco ou até mesmo títulos da dívida pública.

Como explica essa resposta tão instantânea do mercado a determinadas ações politicas do governo, como impeachment, posses, decisões do Judiciário, entre outras, que têm provocado constantes oscilações dos preços da moeda e da bolsa de valores no mercado?
Atualmente, o mercado de capitais está extremamente influenciado pelo ambiente político. Qualquer perspectiva de mudança no cenário altera o humor dos investidores. A expectativa do mercado é que o país tenha um rumo para a economia com um ajuste nas contas públicas, controle da inflação e retomadas do investimento e do nível de emprego. Ou seja, um cenário econômico que propicie o ambiente de negócios. Diante disso, qualquer possibilidade de alteração no rumo do país, com mudanças na política econômica com planejamento de longo prazo, menos intervenções por parte do governo e menor influência política leva a uma reação dos investidores e isso faz com que o mercado fique mais volátil. O mercado quer uma regulação que seja adequada para os negócios acontecerem, e não de intervenções nos setores, ou mudanças nas regras de determinados setores sem o devido conhecimento das suas peculiaridades ou complexidades, isso pode causar problemas estruturais. Quando o governo intervém no mercado a todo o momento, como por exemplo, estabelecendo taxas de retorno de determinados investimentos, os investidores não se sentem seguros e confortáveis para alocar seus recursos e os empresários ficam com receito de investir, já que não tem perspectiva na economia e não tem segurança jurídica nos negócios, do ponto de vista de investimento e de retorno. Um governo que faz concessões do serviço público e quer determinar até a taxa de retorno que o empresário pode ter, é muito difícil de encontrar a empatia do setor. Esse ambiente de negócios sem a definição clara das regras está muito complicado.

Qual a alternativa para o mercado?
A alternativa seria uma mudança na condução da política econômica, independentemente de posições políticas, partidárias e ideológicas do governo. O mercado vislumbra a possibilidade de uma melhora no ambiente econômico, com a possibilidade de utilização do mercado de capitais para financiar o setor produtivo. Para se ter uma ideia, em 2015 e 2016 praticamente não ocorreram aberturas de capital de empresas. Essa importante alternativa de financiamento do setor produtivo não está sendo utilizada no Brasil porque o ambiente econômico não favorece. O cenário atual eleva o risco para os investidores e o país fica paralisado. Na Argentina, por exemplo, a simples mudança do cenário político já trouxe, por si só, expectativas de melhora no ambiente econômico e de negócios, fazendo com que as pessoas voltassem a acreditar e recomeçassem a comprar ações e retomar os investimentos, inclusive diretos na economia. Logicamente, tem que cuidar muito porque há muita especulação financeira no mercado, tanto em relação ao dólar, como às ações. Há de se ter cautela porque após o período de melhora nas expectativas de curto prazo é necessário que sejam retomadas as reformas para se obter resultados de longo prazo. A simples troca de governo ou mudanças pontuais no governo atual não vai resolver o cenário de estabilidade econômica e crescimento sem que seja retomada uma agenda realmente comprometida e positiva.

Nesse momento de incertezas e oscilação do mercado, como as pessoas comuns devem se comportar?
Quem não é investidor, especialista, é melhor e mais seguro ter cautela. Evitar o risco elevado e as oscilações bruscas do mercado. Por exemplo, se um investidor, diante de uma queda repentina das ações de determinada empresa, decide comprar, por entender que o preço está atrativo ou que se desvalorizou a ponto de estar “barata” a ação, e, em seguida, surge mais uma notícia que influencia negativamente as ações da empresa e acontece nova queda, pode haver o risco de maiores perdas ou terá que realizar um prejuízo. Ou seja, se o investidor não acertar o timing, poderá sofrer perdas, pois neste momento, não existe uma tendência no mercado, ele está muito volátil e com riscos mais elevados, ou seja, está muito especulativo. Por isso, além de analisar os preços das ações no mercado, o investidor deve ficar atento aos resultados das empresas e indicadores, tais como: rentabilidade, geração de caixa, endividamento, perspectivas do negócio da companhia no longo prazo. Neste caso, talvez possa ser um momento para comprar ações, mas tem que ser muito criterioso e ter uma prospecção de longo prazo, de cinco ou seis anos. No curto prazo o risco é elevado, ser conservador é mais prudente. Talvez a renda fixa seja mais apropriada para o momento atual.

A renda fixa com bons atrativos é um bom negócio?
A renda fixa tem bons atrativos, como as Letras de Crédito Imobiliários (LCIs) e as Letras de Créditos Agrícolas (LCAs), como boas opções para as pessoas físicas, porque têm isenção de imposto de renda e possuem uma taxa de rentabilidade líquida superior às taxas do Certificado de depósito Interfinanceiro - CDI (benchmark), e ainda são pós-fixadas, ou seja, se o juro subir elas também sobem, fazendo com que o investidor fique protegido quanto ao risco do mercado. Nesses casos, deve-se cuidar apenas a instituição financeira onde estão sendo alocados os recursos, já que os bancos também têm riscos. Os CDBs pós-fixados também, neste momento, podem ser uma boa opção, já que os juros podem subir mais, caso a inflação continuar se elevando. Outra alternativa são os títulos prefixados, onde as taxas de juros são estabelecidas no momento do investimento Adicionalmente, os títulos do Governo, que, mesmo com a dívida pública crescente ainda são títulos que oferecem boa rentabilidade, com baixo risco, tanto os indexados à taxa Selic (pós-fixados), como os prefixados e os títulos indexados à índices de Inflação mais uma taxa prefixada de juros, como as Notas do Tesouro Nacional – Série B - NTN-B. O investidor pode comprar um título público com investimentos a partir de R$ 30, no site do Tesouro Direto (www.tesouro.fazenda.gov.br/tesouro-direto). Para isso vai precisar de uma corretora de valores para intermediar a operação. Enfim, se o investidor tem essa preocupação com a instabilidade, pode comprar títulos de renda fixa, tanto do governo como de instituições financeiras, procurar operar com bancos de baixo risco e, além de proteger seu capital fica protegido da inflação e também fica livre dessas oscilações bruscas do mercado. Pelo menos, até passar esse período de maior risco.

A teoria econômica e o combate ao crime


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Mauro Salvo
Economista
Corecon/RS Nº 5630

 

 

De que forma a teoria econômica pode contribuir para a elucidação de crimes?
Gary Becker, com o artigo seminal de 1968, “Crime and punishment: an economic approach”, impôs um marco à abordagem sobre os determinantes da criminalidade ao desenvolver um modelo formal em que o ato criminoso decorreria de uma avaliação racional em torno dos benefícios e custos esperados, comparados aos resultados da alocação do seu tempo no mercado de trabalho formal. A partir de Gary Becker, os economistas vêm ficando cada vez mais convencidos de que incentivos de ordem econômica podem ser fatores determinantes no envolvimento dos indivíduos com o crime, pelo menos no que diz respeito aos delitos contra a propriedade.

Quando se pode classificar um crime de econômico?
São os crimes que de alguma forma ferem o direito à propriedade. Ocorrem sempre que um indivíduo ou organização criminosa se apropria de forma indevida da renda ou riqueza de terceiros. Pode ocorrer mediante fraude, como crimes de colarinho branco, ou com uso da força, através de roubos e sequestros. É importante ressaltar, no entanto, que não são classificados como econômicos os crimes passionais, ou por intolerância religiosa ou racial, por exemplo.

Do que trata a teoria econômica do crime?
A ideia central é a de que às ações ilícitas dos criminosos de carreira subentenda uma avaliação individual, da parte deles, da relação custo/benefício em delinquir. Segundo essa teoria, o cometimento da ação criminosa, na avaliação do potencial delinquente, dependeria de três fatores: o tamanho da recompensa proporcionada pelo cometimento do crime (caso a ação criminosa seja exitosa); a probabilidade de ser preso e condenado; e o rigor da pena a cumprir (caso a ação malogre). Ou seja, quanto maior o tamanho da recompensa potencial em delinquir, maiores serão os índices de criminalidade, enquanto que, ao contrário, quanto maiores as probabilidades de prisão e de apenamento rigoroso, menores serão os índices de criminalidade.

Como pode ser aplicada a Teoria Econômica do Crime?
A teoria nos ajuda a compreender o comportamento do criminoso. Dessa forma, em muitos casos, podemos prevê-lo e identificá-lo. A teoria tem se mostrado eficaz quando aplicada aos chamados crimes contra o patrimônio, como sonegação fiscal, lavagem de dinheiro, corrupção, roubos ou furtos entre os outros.

A Teoria Econômica do Crime pode ajudar a aprimorar as leis e a combater o crime?
Ao identificarmos mais precisamente as motivações, ou incentivos, dos criminosos, podemos formular leis e normas que desincentivem tais condutas, bem como monitorar comportamentos atípicos. A estratégia básica seria aumentar os custos do ilícito e a percepção da probabilidade de punição.

A onda de corrupção que vem tomando conta das manchetes dos jornais é considerada crime econômico?
Sim. A corrupção é um tipo clássico entre os crimes econômicos, por tratar-se de uma apropriação indevida de recursos. Economias que enfrentam elevada ocorrência deste tipo de crime tendem a apresentar maiores ineficiências nos processos produtivos, provocando danos a sua competitividade. Outro aspecto negativo é que pode tornar o país desinteressante para investimentos eficientes e produtivos e atrair capitais de má qualidade. O superfaturamento das despesas públicas, sejam elas serviços, obras, aquisição de materiais e equipamentos é um dos casos clássicos. Outro caso recorrente é a cobrança de propina para obter alguma facilidade de órgãos públicos, tais como fraudar uma licitação ou a obtenção de alguma licença entre outros. O problema da corrupção é que tal prática não é eficiente do ponto de vista macroeconômico e social. Quando endêmica, gera desincentivos, pois afugentam os bons investimentos, inibem o desenvolvimento de inovações, aumentam os custos de transação e reduzem a concorrência. Em suma, os recursos econômicos deixam de ser alocados de maneira otimizada, reduzindo o bem-estar em decorrência da concentração da renda e da riqueza. Dessa forma, a corrupção é mais do que um desvio ético e moral, constitui-se também um crime econômico.

O difícil equilíbrio da Previdência

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Darcy Francisco Carvalho dos Santos
Corecon/RS Nº 3755
Economista, vice-presidente Corecon/RS

 

 

Qual o déficit atual da previdência pública do Estado?
O déficit da previdência pública gaúcha estava, em 2015, em R$ 8,5 bilhões. Da receita corrente líquida, que é a receita que pertence ao Estado, são gastos 38% com inativos e pensionistas. Como desse valor, uma parte é paga pelos funcionários, fica faltando em torno de 34%. Ou seja, de cada R$ 3,00 que o Estado arrecada, R$ 1,00 ele gasta com a Previdência. O déficit está em torno de 26% da receita corrente líquida, um pouco menor, porque tem a contribuição patronal do Estado.


Qual é o grande problema das aposentadorias?
O grande problema do Estado são as chamadas aposentadorias especiais. Tomando como referência o servidor do sexo masculino, em que a exigência é de 35 anos de contribuição e 60 anos de idade, 87% dos servidores estaduais são beneficiados por aposentadorias especiais, que permitem a inatividade com 10 ou cinco anos a menos, tanto na contribuição como na idade. Os professores, por exemplo, cujas mulheres correspondem a 90% dos casos, se aposentam com 10 anos a menos, com idade mínima de 50 anos. Outro caso é o dos policiais, que entram na inatividade com 30 anos para o homem e 25 anos para a mulher, sem idade mínima. Esse é o grande problema, tanto que o atual fundo de previdência, criado para solucionar o problema, quando chegar na década de 2080, estará com déficit enorme, sem qualquer tipo de solução, se, pelo menos, não se fizer algo com relação à idade mínima. Ele apenas substituirá o atual sistema de repartição deficitário. A referência da década de 2080 é porque, quando se fala em previdência, fala-se em cenário de longo prazo.

O que pode ser feito de imediato?
Tem que aumentar a idade mínima porque a alíquota já está em 13,25% e o Supremo entende que desconto superior a 14% já e confisco. Não tem sentido se imaginar que, enquanto nos países desenvolvidos os trabalhadores, tanto homem como mulher, se aposentem com 65 ou 67 anos, no serviço público estadual do RS, a metade dos servidores se aposente de idade mínima de 50 anos e uma quarta parte sem essa exigência.


As reformas da Previdência não resolveram esse problema?
As reformas da Previdência de 1998 e de 2003, embora tenham apresentado alguns avanços, mexeram pouco na idade mínima. Ficou estabelecido que o trabalhador, a partir dali, passaria a se aposentar pela média de contribuição. No entanto, ao mesmo tempo em que fez isso, criou uma exceção. Quem, por exemplo, tiver 20 anos de serviço público, 10 anos na carreira e cinco no cargo, ficará beneficiado pela integralidade e pela paridade. Então, uma mexida forte na previdência, embora gerando descontentamentos, deverá acabar com essa exceção, estabelecendo a média das contribuições desde já.


Qual a idade ideal para a aposentadoria, de forma que não afetasse o equilíbrio da Previdência?
Acho que a idade ideal seria uns 65 anos para o homem e, para a mulher, talvez um pouco menos, algo em torno de 63 anos. Nós estamos atualmente com 60 para o homem e 55 para a mulher. Mas volto a insistir que o problema maior são as aposentadorias especiais, no caso as do professor e dos policiais civis e militares, que correspondem a, aproximadamente, a 73% dos servidores. Se não mudarmos isso, nunca vamos alcançar o equilíbrio. A alíquota de contribuição necessária ao equilíbrio para uma professora deveria ser de 60%, ou seja, 40% sob responsabilidade do Governo e 20% dela, ou 30% de cada parte. No caso dos militares, a quem não é exigida a idade mínima, a contribuição seria ainda maior. Não existe equilíbrio atuarial para o cenário que está aí. Temos consciência de que Previdência é algo que mexe com sentimentos, mas se alguém receber benefício sem o pagamento respectivo, outras pessoas terão que pagar por isso, por meio de impostos. Em economia não existe nada de graça em caráter permanente. A conta, cedo ou tarde, ela chega.

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