Vagas para Economistas

Professor de Economia
 
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DESCRIÇÃO DA VAGA
Estamos buscando um professor de economia para compor o nosso time.

Introdução à Economia
Curso Profissionalizante
Localidade Cachoeirinha
Horário das 19h. às 22h.
Enviar Currículo: j.pinto@terra.com.br

“Precisamos de um ‘Plano Real’ de combate à criminalidade”

 

Pery Francisco Shikida
Economista, professor da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste),
Membro do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP)

Corecon-PR Nº 6195


Por que a teoria econômica foi estudar o crime?

A etimologia da palavra Economia vem do grego “Oikos”, que significa Casa, e “Nomos”, Regra/Norma/Lei. Logo, Economia quer dizer, em tempo verbal, regrar, do ponto de vista material, a casa, com foco na obtenção e utilização dos recursos necessários ao bem-estar dos moradores daquela casa. Ocorre que há, infelizmente, as “casas” da ilicitude, que procuram lucrar com atividades econômicas ilegais, como são as organizações criminosas. Portanto, a Ciência Econômica pode perfeitamente estudar o comportamento dos consumidores e fornecedores desse mercado ilícito.

Qual o objetivo dessa Pesquisa, que vens realizando junto a presidiários do Brasil e de fora do país?

Cito aqui o Juiz Federal, Dr. Matheus Gaspar, de Foz do Iguaçu, que fez o prefácio no meu livro “Memórias de um pesquisador no cárcere”. Sou pesquisador da economia do crime “de piso”, remetendo ao termo japonês “gemba”, usado em logística ou engenharia de produção como “chão de fábrica”, “lugar da verdade”, “onde as coisas acontecem”. Isto posto, o nosso maior escopo foi obter dados diretamente na base, ou seja, ouvindo quem de fato praticou os delitos. Obviamente, a criminalidade e a falta de segurança geram reflexos contraproducentes na economia em geral, mas não se trata só disso. A análise econômica do crime é relacionada a estudos de microeconomia e análise econômica do Direito e, no ambiente de escassez, as pessoas buscam maximizar os resultados de suas escolhas, estando sujeitas aos incentivos. Então, três perguntas básicas nortearam todos nossos trabalhos no Brasil: Quais as circunstâncias econômicas da escolha ocupacional entre o setor legal e ilegal da economia? Por que as pessoas decidem cometer crimes, de natureza econômica? Neste caso, o crime compensa?

Quais as principais conclusões?

Vou falar das nossas principais conclusões de 21 anos de pesquisa que procuraram contribuir para o entendimento da criminalidade, a partir de dados primários, obtidos via aplicação de questionários/entrevistas com presos (as) cujas violações foram oriundas de crimes econômicos, como tráfico de drogas, roubo, furto, etc. Como resultado, para expressiva parcela desses presos entrevistados em diversos estabelecimentos penais, os retornos econômicos foram maiores do que os custos do delito, o que significa dizer que o crime, de foco financeiro - que busca dinheiro, lucro - está, lamentavelmente, compensando.

Qual o custo do crime e da violência para o Estado?

O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) estimou que a violência custa 10,5% do Produto Interno Bruto nacional. O Atlas da Violência, de 2019, disse que o custo da violência no Brasil chegou a 5,9% do PIB de 2016. Então, está entre 5,9% e 10,5% do PIB nacional. Qualquer que seja a estimativa posta, é muito alta.

Qual o perfil do criminoso brasileiro?

Lembre-se, sempre perfil médio, pois isto irá depender muito do local em que se esteja fazendo a pesquisa, sobretudo em um país continental como o nosso, com variações de cor de pele, escolaridade, entre outros. Mas, normalmente é jovem, cor depende muito da região em que foi feita a pesquisa, se diz religioso (mas não praticante) e “solteiro” (mas normalmente teve outras uniões desfeitas), filho de pais também separados, parou de estudar cedo, declarou ter trabalhado e ganhava entre um e três salários mínimos, faz uso de bebida alcoólica, fumo e drogas ilícitas. De modo geral, o perfil sócio demográfico das pessoas pesquisadas mostrou que as três grandes travas morais, religião, família e educação - não estanques entre si, frisa-se, que contribuem para tolher a migração para o crime econômico - estão bem fragilizadas.

O que leva o bandido a migrar para o crime?

Sobre isso, um apontamento que merece menção é a relativa menor importância das dificuldades econômicas (dificuldade financeira/endividamento; ajudar no orçamento familiar/estava desempregado) como causa de migração para o crime lucrativo. A pobreza e distribuição de renda foram itens que sequer apareceram para os pesquisados como causas para este tipo de crime. Fica a recomendação de que o reconhecimento dos motivos da migração para o ilícito econômico não precisa de dados fictícios para se sustentar e, pior, pode inverter premissas vitais para o combate do próprio crime. Em nossos trabalhos, o crime econômico foi cometido porque os benefícios financeiros foram bem superiores aos seus custos, sendo o tráfico de drogas, roubo e furto os delitos mais frequentes e motivados, principalmente, pela ideia de ganho fácil, cobiça, ambição e ganância.

O criminoso é uma vítima da sociedade?

É o contrário. A sociedade é que é vítima do criminoso!

Na concepção do bandido, qual a chance de sucesso de seu crime?

Em média, 95% a chance de sucesso de um delinquente no crime econômico. Alta demais, e o Brasil precisa combater isto. Porém, em nossos trabalhos, tivemos a revelação de que a longevidade desses delinquentes é muito baixa (25,5 anos, em média), haja vista morrerem cedo e quase sempre vitimados de forma violenta.

Quais os tipos de crimes que mais compensam financeiramente no Brasil?

O ganho médio do contrabando de cigarros equivale a 49,3% do ganho médio do tráfico, por exemplo. Mas o bandido raciocina sobre o benefício/custo e o risco também. Para ele, contrabando não dá cadeia (se for primário, poderá ter pena de prestação de serviços e/ou pecuniária), mas ganha menos. Por isto que muita gente tem ido para o contrabando de cigarros, por exemplo. Analisando o crime do colarinho branco, as cifras movimentadas nesta área são estratosféricas.

Qual a diferença entre o criminoso do colarinho branco e os demais?

As travas morais, como religião, família e educação, dos criminosos do colarinho branco, em média, não estão fragilizadas. Porém, a ideia de ganho fácil, cobiça, ambição e ganância é acima da média. A certeza da impunidade para os criminosos do colarinho branco é outra peculiaridade.

Como dissuadir a ação criminosa?

A balança dos incentivos e dissuasão está, lamentavelmente, favorável ao crime, pois as travas morais do delinqüente, que funcionam como “bússolas morais”, estão fragilizadas, como é o caso da Família-Escola-Religião. Há total desrespeito dos bandidos pelas Instituições polícia, poder judiciário, etc. A análise custo benefício, leis e punições brandas, entre outros, são incentivos às práticas da ilicitude; e, ainda, muitos desses criminosos dizem em nossas entrevistas que “Deus é brasileiro”, zombando até da Divindade maior. O que precisamos fazer? O custo moral decorrente do ato de se desrespeitar a lei deve ser alto - as travas morais devem ser robustas (Família-Escola-Religião: precisamos recuperar este tripé básico do desenvolvimento). Os custos não morais de planejamento e execução, custo de oportunidade, custo esperado de serem detidos e condenados devem ser altos - a dissuasão tem que funcionar. O Estado deve ser uma ameaça crível, as Instituições devem estar consolidadas e serem respeitadas. E Deus não deve ser brasileiro, Ele deve ser Justo e Perfeito.

Que tipo de benefícios a Operação Lava-Jato trouxe ao País?

Vou fazer um comparativo para esta resposta. Quando comecei a pesquisar economia do crime, há 21 anos atrás, aplicando questionários/entrevistas com os bandidos dentro de estabelecimentos penais, praticamente não encontrava qualquer corrupto preso para nossos estudos. Depois da Lava-Jato, este tipo de criminoso começou a aparecer nos estabelecimentos penais com uma frequência jamais vista. Eu considero a Lava-Jato um ponto de inflexão no combate ao crime no Brasil. O corrupto, assim como um traficante ou assaltante, não distingue princípios ou valores quando seu interesse pecuniário prevalece em um ato ilícito. Por esta e outras razões, o corrupto deve ter o mesmo crivo da lei.

O que falta para tornar o crime menos compensador no Brasil?

Exatamente a balança da dissuasão superar os incentivos. Mas para isso, é preciso de um bem articulado “Plano Real” de Combate à Criminalidade. Para tanto, precisará de uma equipe competente para trabalhar este norte, como foi com a equipe de economistas no Plano Real. E temos profissionais para isto, tenho conhecido muitos juízes, desembargadores, promotores, policiais de todas as classes, etc., com competência e expertise para esta finalidade. Precisamos, também, de um poder executivo, legislativo e judiciário imbuídos desse objetivo. Se o Brasil venceu uma inflação galopante, poderá vencer esta guerra contra o crime.

O criminoso empreendedor!

Mauro Salvo

Doutor em Economia, pesquisador em economia do crime, lavagem de dinheiro e financiamento do terrorismo,
Analista do Bacen, ex-vice-presidente do Corecon-RS

Corecon-RS Nº 5630

 

O que estuda a Economia do Crime?

A Teoria Econômica do Crime faz parte de uma escola de pensamento mais amplo, que é a Análise Econômica do Direito (AED), e advoga que o delinquente de crimes que tenham como objetivo a obtenção de ganhos econômicos, como corrupção, roubo, sequestro, tráfico de drogas, contrabando, lavagem de dinheiro, entre outros, age de maneira racional como qualquer outro agente econômico.

Por que a ciência econômica se envolveu com a teoria do crime?

A Ciência Econômica tem como objetivo estudar, analisar, compreender e explicar todos os fenômenos sociais e culturais. Portanto, o comportamento criminoso não poderia ser deixado de fora, visto que, infelizmente, tem ocupado cada vez mais espaço dentre as preocupações da população e de governantes, impactando sobremaneira o bem-estar de todos.

Como funciona o conceito de racionalidade do crime?

O economista Gary Stanley Becker, ganhador do Prêmio Nobel, desenvolveu importante teoria sustentando que a decisão de delinquir é racional, assim o delinquente pondera os possíveis benefícios econômicos do ato criminoso descontando os eventuais custos operacionais para o seu cometimento, a probabilidade de ser pego, e se pego o custo da punição. Outro raciocínio econômico feito pelo criminoso está relacionado com custo de oportunidade entre o ato delituoso e a atividade lícita.

O crime compensa no Brasil? Por que isso acontece?

Quando aplicamos o modelo de Becker ao Brasil, notamos que ele explica muito bem nosso elevado índice de criminalidade dos mais diversos tipos. Aqui, quem não tiver trava moral para o cometimento de ato delituoso encontrará boas oportunidades de retorno econômico em diversos tipos de crime, além de baixa probabilidade de detecção, e, quando detectado, a punição é branda e/ou demorada. Portanto, podemos concluir, com tristeza, que em nosso território o crime compensa, e muitas vezes compensa muito.

Qual a diferença entre o criminoso comum e o criminoso do colarinho branco?

Um dos pontos interessantes na Teoria Econômica do Crime é sua capacidade de explicar, tanto crimes econômicos comuns, como crimes conhecidos como de colarinho branco. De forma resumida, o crime de colarinho branco é aquele cometido por um agente sem restrições socioeconômicas, tais como diretores de grandes estatais, ministros, detentores de cargos eletivos, entre outros. Essa capacidade explicativa da teoria põe por terra o argumento de que seja a pobreza que induz à atividade criminosa. Pois, se assim fosse, não haveria crime de colarinho branco, cujos exemplos a operação Lava Jato nos forneceu muitos. Ou, alternativamente, todos os pobres seriam criminosos, o que está muito longe de ser verdadeiro.

Como investigar e dissuadir a atividade criminosa?

A teoria não somente explica por que há delinquência econômica, como, também, a mesma equação já aponta a solução. Em linhas gerais, se atualmente o benefício do cometimento do ato ilícito supera seu custo, então, para reduzir o índice de criminalidade, tem-se que inverter esta equação. Portanto, a solução seria reduzir o benefício do crime, aumentar o custo operacional de seu cometimento, aumentar a probabilidade de detecção e quando detectado aplicar punição exemplar e o mais célere possível.

Por que o combate e a fiscalização do crime é tão concentrado nas mãos do Poder Executivo?

O combate ao crime econômico também envolve o empenho dos três Poderes. São necessárias leis objetivas e efetivas que prevejam punições dissuasivas elaboradas pelo Legislativo. Assim, os órgãos do poder Executivo, sobre os quais cabe a maior parte das ações de combate e fiscalização, terão enforcement suficiente para monitorar, investigar, detectar e punir. Por fim, caberia ao Judiciário, no momento do julgamento e da dosimetria das penas, ter a compreensão da equação de Becker, para que a punição seja adequadamente dissuasiva.

 

Clique AQUI para acessar a Live, sobre este assunto, ocorrida no dia 14 de julho de 2020, numa promoção do Corecon-RS

Operações compromissadas, política monetária e pandemia

 

Roberto Balau Calazans
Economista, Agente Fiscal aposentado do Tesouro do Estado
Corecon-RS Nº 4155
 

 

Qual a importância das operações compromissadas para adoção da política monetária?

Segundo o próprio Banco Central, em sua Resolução nº 3.339/2006, são operações de curto prazo de venda à vista de títulos com compromisso de recompra, ou de compra à vista de títulos com compromisso de revenda em data futura, anterior ou igual à do vencimento dos títulos objetos da operação, remunerados ao preço de venda acrescida dos juros pactuados nos leilões. Os títulos negociados são considerados garantias dessas operações, sendo custodiados no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic), para o caso de títulos federais. A variação no saldo de operações de venda com compromisso de recompra reflete a execução da política monetária. Portanto, as operações compromissadas expressam a gestão da liquidez da economia exercida pelo BCB, estando separada da gestão da dívida pública em mercado administrada pelo Tesouro Nacional. Em termos práticos, as instituições financeiras e os investidores privados entregam suas reservas monetárias nas operações de venda de títulos federais no mercado secundário, realizadas pelo Banco Central, e este, por sua vez, garante, como lastro da operação, os títulos públicos com o compromisso de recompra dado pelo Banco Central.

Quanto esse tipo de operação representa no universo do PIB brasileiro?

Em 2006, elas representavam 3,2% do PIB e, em abril de 2020, atingiram 17,7%. Esse crescimento expressivo teve como um dos determinantes a compra de reservas cambiais a partir de 2006.

Qual a importância das reservas cambiais brasileira?

O Banco Central assumiu uma política cambial ativa, entre os anos de 2006-2012, de compra de divisas internacionais, gerando uma elevação do seu ativo patrimonial, juntamente, com as operações compromissadas. Nesse período, as reservas cambiais tiveram um incremento de US$ 320,2 bilhões. Em maio último, esse montante alcançou US$ 345,7 bilhões. Essa política visava criar uma proteção contra ataques especulativos a moeda nacional. Com a elevação da participação das reservas cambais no ativo do Banco Central, as oscilações da taxa de câmbio passaram a impactar nos resultados auferidos pela autoridade monetária. Em outras palavras, o valor de mercado desse ativo externo alterou sua participação relativa no ativo do balanço patrimonial, e os resultados, como lucros e perdas, auferidos pelo BCB, creditados em dinheiro ao Tesouro Nacional, passaram a ter significância para o financiamento implícito do Tesouro. A utilização do resultado do Banco Central para transferência em dinheiro para o Tesouro Nacional ocorreu a partir de 2008, sendo objeto de forte crítica quanto à sua prudência. Em 2019, tal prática foi revogada pela Lei n.º 13.820/2019. A nova lei voltou a exigir a constituição de reservas na apuração do resultado positivo do balanço semestral do Banco Central, observando-se que a equalização cambial (mantida) seria destinada à constituição dessa reserva.

Qual sua opinião sobre a venda de reservas internacionais?

A política de compra de reservas internacionais tem um elevado custo de manutenção. Em 2015, o colateral era de R$ 200 bilhões, segundo cálculo de vários economistas. Isto é, para manter um elevado volume de reservas, há um custo bem superior ao superávit médio gerado pelo setor público brasileiro, que chegou a cerca de R$ 85 bilhões, entre 2002-2013. Atualizando esse cálculo para 2019, o custo continua na ordem de R$ 110 bilhões, ajudado pela queda da significativa da taxa Selic. A venda de reservas cambiais exige algumas condições, como alerta o economista Pellegrini ao estudar o tema. Primeiro, é determinar o nível ótimo de reservas a serem mantidas. Segundo, é que sua venda deve ser feita de modo gradual e programado. Em momentos de fragilidade econômica, são necessários instrumentos adicionais como hedge a volatilidade cambial. Terceiro, é a taxa de câmbio da venda. Com desvalorização, o ganho cambial ajuda a superar o custo de carregamento das reservas internacionais. Na minha opinião, o assunto não deve ser descartado, todavia, é muito difícil determinar qual o cenário econômico que enfrentaremos adiante. E o volume de reserva protege a economia nacional contra o risco de ataques especulativos.

Quais os principais problemas da política macroeconômica adotada pelos últimos governos brasileiros?

Durante o século passado, fatos marcantes aconteceram em termos de política econômica, como as foram as iniciativas do governo central em emitir dívida mobiliária do Tesouro Nacional para fins de capitalização de bancos públicos, em especial o BNDES. O objetivo era conceder crédito subsidiado a determinadas empresas nacionais, além da opção pela acumulação de montantes significativos de reservas internacionais. Vários desacertos de política econômica, em especial no governo Dilma, encaminharam a maior recessão da história brasileira e a elevação da dívida bruta do governo e dos juros nominais a partir de 2014. Entre 2014 e 2019, o setor público brasileiro passou a incorrer em pesados déficits primários, e vários entes subnacionais aumentaram sua fragilidade financeira devido à queda acentuada de receitas primárias e à elevação de despesas primárias, em especial os estados com dívidas elevadas, como Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, entre outros. A implantação do teto de gasto, a Reforma Previdência e a queda significativa da taxa Selic, agora em 2,25% ao ano, representam a retomada do caminho da responsabilidade fiscal. A pandemia causada pelo coronavírus freou o ritmo de crescimento na economia que vinha acontecendo ao final de 2019.

Qual o caminho a seguir?

Após a pandemia, a recuperação da renda e do emprego passam a ser o objetivo da política econômica. Existem dois caminhos a seguir. Primeiro, seria uma saída bem conhecida, que é ampliar os gastos públicos e anular o teto de gastos, mas que traria, junto, o risco de dominância fiscal e expansão explosiva da dívida. O segundo é manter os gastos verificados com pandemia de forma temporária, retomando o ritmo de reformas estruturais e dando continuidade à queda dos juros nominais. Nesse sentido, será muito importante realizar a reforma tributária e obter receitas de privatizações, manter o teto de gasto, expandir os fundos complementares de previdência e reformular da renda mínima. Deveria ser incluída uma regra para a sustentabilidade fiscal, em especial para os governos subnacionais, definindo-a como a âncora da política fiscal de médio e longo prazo.

Qual a importância da responsabilidade fiscal, no momento em que se busca recuperar a economia?

Como já referi antes, a questão primordial agora é recuperar a renda e o emprego. O Auxílio Emergencial foi uma importante iniciativa para proteção social, e parece que o governo federal pretende aprimorá-lo, unificando vários programas sociais. Isso se coaduna bem com a doutrina liberal. Ainda que o déficit primário seja elevado em 2020, impõe-se manter a busca de sua redução mediante as reformas estruturais em debate no Congresso Nacional, em especial a Reforma Tributária. Há uma corrente que insiste em políticas de gastos sem levar em conta que o estado brasileiro está quebrado. A Lei de Responsabilidade Fiscal é uma conquista de finanças públicas e deve ser aprimorada mediante a criação de um conselho que coordene as políticas fiscais dos entes federados. A crise da pandemia tem demonstrado a necessidade de uma mínima coordenação fiscal entre os Poderes da República e as instâncias de controle.

 

Educação financeira sustentável para crianças  


Mariliane Chaves Caramão
Economista, Educadora financeira, Coordenadora do Projeto Repense
Corecon-RS Nº 8698


O que é o Projeto Repense?

É a adaptação da educação financeira a um projeto lúdico-pedagógico no nível pré-escolar. São oficinas, totalmente práticas, com atividades que constroem as bases para que a criança possa lidar com o dinheiro de forma saudável quando adulta. Ela experimenta a repercussão de planejar, economizar, poupar e realizar por meio de estímulos variados. Desenvolve um comportamento econômico que aprimora o bem-estar, melhora suas escolhas e a capacidade de adiar recompensas.

Por que é considerado um projeto de educação financeira sustentável?

O termo sustentável aqui envolve recursos monetários e naturais. O primeiro porque a estrutura financeira de “ganhar” mais do que gastar deve se prolongar no tempo. O segundo porque precisamos desenvolver um olhar de mais comprometimento com o meio ambiente, respeitando o limite dos recursos. A maneira de gerir ambos é apresentada através dos 5R’s. Eles entram como fator motivador e também de responsabilidade para comprometer com um consumo consciente. Só assim podemos pensar em desenvolvimento.

Que tipo de benefícios um projeto dessa natureza pode trazer para a sociedade como um todo? 

Educação financeira é conhecimento e conscientização sobre escolhas associadas à administração do dinheiro. Um método que vise apenas recursos monetários, vai focar sobretudo nas necessidades individuais. No entanto, se despertamos nas crianças, desde cedo, a mentalidade de interdependência, de que o individual influencia no coletivo, incentivando ações feitas propositalmente, é provável que o impacto macroeconômico seja maior, contribuindo para reduzir desigualdades.

Como iniciar a educação financeira com crianças já a partir de três anos de idade?

As fortes conexões neurais que se formam na infância são a base do desenvolvimento cognitivo. A partir da maturação da chamada função executiva, identificada pelo desenvolvimento da linguagem, as crianças estão aptas a compreender intencionalidade, comprometimento, prioridade, correlação. Então serão capazes de processar uma informação de forma significativa. No que se refere à psicologia econômica, Richard Thaler, entre outros estudiosos, explica operações mentais associadas à tomada de decisão. Dentro disso, é necessário trabalhar a capacidade emocional em tolerar sentimentos desagradáveis. Adiar a recompensa é uma habilidade necessária para concluir um planejamento, por exemplo. Então, as atividades que desenvolvem essa “musculatura” financeira são as indicadas.

 

De que forma a criança nessa idade pode exercitar a educação financeira?

Um bom exemplo seria o controle de pequenas quantias em dinheiro. Em tempos de distanciamento social, até gerenciar a carga de um eletrônico é um exercício. Tudo que envolva uma construção custo-benefício é válido. Preciso frisar, principalmente como mãe, que acredito que qualquer atividade a ser realizada deve respeitar o limite do entendimento da criança, e motivar, apresentando sugestões. No Repense, trago a economia circular, que é uma grande aposta para repensar o atual modelo de produção. Para os adultos pode ser ainda muito abstrato, mas, para crianças, é natural. 

Ainda falta muito para as escolas brasileiras terem a inclusão da educação financeira em seus currículos?  

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), no processo de modernização, incluiu a educação financeira como tema transversal nos currículos de todas as escolas do país. Para o ensino fundamental, o prazo para implementação seria 2020. Para o ensino médio, até 2022. Tema transversal significa alinhar com as disciplinas tradicionais. Teoricamente, é muito bom e inclusive os livros que foram elaborados são de ótima qualidade. Porém, um entrave é a falta de um programa de formação dos professores. Se o professor realmente não praticar a educação financeira, então compromete o aprendizado do estudante, em função da falta de identificação.

Qual a importância da educação financeira para as famílias?

É de importância máxima. Os pais são os principais modelos para os filhos. Família financeiramente consciente consegue maior engajamento de todos na organização do orçamento e realiza mais. Sem educação financeira, as dificuldades desse relacionamento que envolve dinheiro residem na linguagem que se usa e na importância que se atribui. É comum a preocupação em dialogar que surja em momentos críticos e desapareça com a estabilidade. Nossa cultura não favorece ao entendimento do dinheiro como um meio para se alcançar o que deseja. Então gera muitos conflitos.

Como a educação financeira contribuiria nesses momentos de crise?

A orientação para planejar, não desperdiçar e consumir adequadamente é permanente. A questão de poupar já é mais recente, mas extremamente importante. Independentemente da renda, famílias que tempos atrás identificaram um motivo para poupar, tiveram uma flexibilidade agora. E isso reflete diretamente no comportamento diante da crise. Torna-se muito complicado ter que perceber estando endividado, inadimplente. Alguma reserva de dinheiro acaba preservando a saúde tanto física quanto emocional e permitindo escolhas melhores.

Como fazer para conhecer mais sobre o Projeto Repen$e?

Atualmente, temos um perfil no Instagram, @repense_educacao_financeira. Em breve, os interessados poderão também acessar o site repensekids.com.br

O que mais sugeres às pessoas que queiram conhecer melhor a educação financeira?

É interessante a quantidade de pessoas que despertaram para a educação financeira e buscam mais conhecimento. No entanto, a falta de regulamentação, aliado ao sentido de urgência pode induzir a erros. Alguns sites oficiais possuem cursos e vídeos com orientações básicas para iniciar.
Plataforma educacional do governo federal: https://www.escolavirtual.gov.br/catalogo#inicio-listagem-cursos
Curso: Gestão de Finanças Pessoais.
Vídeos da série “Eu e meu dinheiro”:
Eu vou levar - http://youtu.be/FdTip4SdWMw
Filhos da Mama - http://youtu.be/HQ2HZdJNhm8
Escola Nacional de Defesa do Consumidor: https://www.defesadoconsumidor.gov.br/escolanacional/
Curso: Educação Financeira para Consumidores
Plataforma vida e dinheiro - vinculada à Comissão de Valores Mobiliários http://ead.vidaedinheiro.org.br/

Curso: Finanças sem segredos

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