Orçamento familiar em debate para 2023

Viver é uma dádiva divina, mas do ponto de vista ecológico, sociológico ou econômico, viver tem um custo, pois pressupõe o uso de diferentes tipos de recursos, seja para produzir alimentos, vestimentas, medicamentos, moradia, instrução, lazer e tantas outras necessidades primárias ou secundárias. Como diz a frase popular que remonta as décadas de 1930 e 1940, "there is no free lunch", ou "não existe essa coisa de almoço grátis", tradução literal que expressa a ideia de que é impossível conseguir algo sem dar nada em troca.

Para muitas pessoas, sejam elas de qualquer classe social, lidar com o dinheiro representa grande dificuldade. Quando se trata de pessoa assalariada, responsável pela manutenção dos familiares com uma única fonte de renda, a dificuldade aumenta quando chegam as contas do aluguel, conta de água, de luz, fatura de cartões, boletos, mercado de alimentos e outros tantos nem sempre previsíveis. Nesse caso e em outros tantos, o importante é criar um orçamento familiar no sentido de organizar a saúde financeira e evitar percalços.

De maneira geral, o orçamento familiar nada mais é do que a organização e o controle de todas as finanças da família. Nele devem ser levadas em consideração todas as despesas da casa, assim como a renda total. Nada melhor para debater com a família a questão orçamentária no início de um novo ano. O planejamento financeiro familiar é fundamental para fazer o melhor uso do dinheiro e não enfrentar dificuldades. Entende-se que a primeira ação a ser colocada em prática é reunir a família que se beneficia diretamente do recurso que a sustenta para que compreendam a importância de criar e seguir um orçamento. Todos podem contribuir com o processo elencando objetivos e definindo metas e traçando estratégias para que o orçamento possa ser cumprido.

Para melhor organização e visualização das ações de gastos, é recomendável que se utilize aplicativos, planilhas do Excel ou, em último caso, cadernos comuns, acessíveis a todos para os registros pontuais de todo o tipo de gasto. De posse da receita advinda da principal fonte ou possíveis complementos, comparada às despesas reais, a família terá a facilidade de rever certos gastos que possam comprometer o orçamento. A primeira experiência com os registros orçamentários proporcionará à família traçar o diagnóstico das suas finanças, promovendo mudanças ou priorizando aquilo que for realmente necessário. Os itens que não possuem tanta necessidade devem ser descartados por um período, até atingir o objetivo final.

Educadores financeiros sugerem que as pessoas priorizem seu controle financeiro a partir da renda líquida que recebem e recomendam: controlar o impulso no uso do cartão de crédito; reduzir luxos, sabendo dosar gastos e aproveitando melhor os ganhos; agir de imediato, não prorrogando iniciativas para o próximo mês e deixando de usufruir da felicidade o mais rápido. Pessoas que conseguem viver dentro dos seus orçamentos são pessoas felizes, têm qualidade de vida, são seguras, conseguem planejar o futuro com entusiasmo.

Existem vários estudos sobre educação financeira disponíveis nas redes sociais ou cursos presenciais recomendados para quem tem dificuldades de lidar melhor com o dinheiro. O dinheiro não é a única possibilidade de conseguir algumas coisas, mas é a possibilidade mais viável para muitas formas de satisfação, e também a mais prática. Com dinheiro você tem a possibilidade de troca imediata por algo que possa lhe trazer realização pessoal. O dinheiro tem a capacidade de mediar a satisfação das necessidades humanas, individuais e sociais, alienadas historicamente ao sistema da apropriação individual da riqueza na sociedade moderna.

Artigo de autoria do Diretor da Associação Comercial de Pelotas (ACP) e ex-conselheiro do Corecon-RS, economista João Carlos Medeiros Madail, publicado no Diário Popular de Pelotas, edição do dia 29/12/22.

Ano novo com esperanças renovadas

 

As esperanças são renovadas em cada ano novo. As promessas são realizadas nas vidas pessoais e profissionais. As variáveis incontroláveis e as variáveis controláveis são diagnosticadas e os resultados dos anos anteriores são analisados, a saber: Quais as conquistas? Quais as decepções? Quais as ações e produções de bens/ou serviços que precisamos eliminar, ampliar, reduzir ou criar? Em primeiro instância, salvo melhor juízo, o verbo adaptar é a grande alternativa para sobreviver. É necessário lembrar que o passado não pode ser modificado, apenas analisado, servindo de base para compreender o presente e para evitar erros no futuro. O novo sempre vem. Às vezes pode construir, ampliar, reduzir, dividir, destruir. Na realidade, a vida é como ela é. Sem juízo de valor. Cada ação tem uma reação e a omissão precisa ser analisada para aceitá-la ou não. São permitidas análises de fatos e/ou suas versões, reconhecendo que, às vezes, não representam as realidades.

Convém salientar que nem sempre alcançamos nossos objetivos. Muitas pessoas querem alcançar o inatingível, incompatível com a possibilidade pessoal e/ou profissional. Entretanto, existem as superações dos objetivos materiais e imateriais que contribuem para a melhoria contínua da sociedade. São identificados as contribuições dos visionários, dos pesquisadores, dos criativos, dos inovadores, dos empreendedores, dos empresários, dos artistas, dos gestores, entre outros profissionais das mais diversas formações acadêmicas e dos políticos. Todos buscam melhorias contínuas para atendimentos das necessidades ilimitadas dos seres humanos.

Na vida pessoal, as escolhas podem determinar os caminhos que foram percorridos, assim como as continuações em busca da felicidade pessoal e do grupo familiar. Na vida profissional, também, as escolhas do passado determinaram as situações atuais e são indispensáveis adaptações para atingirem novos objetivos, principalmente enfrentando os desafios que se apresentam. Na economia de mercado, atender demandas e estruturar oferta visando os atingimentos dos objetivos e das metas para o ano novo são as condições para que as empresas e entidades cumpram seus papéis na sociedade. A cadeia produtiva do fenômeno turístico contribui e pode aumentar a contribuição na geração de emprego, renda, impostos e autoestima do núcleo receptor. Naturalmente, os investidores, gestores e operadores devem buscar suas responsabilidades, seus valores identificados nas suas organizações econômicas com ou sem fins lucrativos, através da Visão, Missão, buscando alternativas para contribuir para o presente e para um futuro melhor para todos. Será? Respeitam-se todas as opiniões contrárias. São reflexões. Podem ser úteis. Feliz e próspero 2023, com saúde e muitas realizações.

 Artigo de autoria do economista Abdon Barretto Filho, mestre em Comunicação Social e presidente da ABF - Comunicação e Marketing, publicado no Correio do Povo, edição de 29 de dezembro de 2020. 

Origem da desigualdade social no Brasil

Que o Brasil é um país extremamente desigual, não há qualquer dúvida, mas nunca foi pior do que se apresenta nos dias atuais. A desigualdade social representa a diferença no padrão de vida e nas condições de acesso a direitos, bens e serviços entre integrantes de uma sociedade. Pode se manifestar de diferentes formas, no âmbito econômico, escolar, profissional, de raça, gênero, orientação sexual, nacionalidade, capacidade étnica, etc.

As duas principais consequências da desigualdade social no Brasil são a pobreza e a miséria. Segundo o IBGE, em novembro de 2020 quase 52 milhões de brasileiros viviam na pobreza e a desigualdade social tem total relação com essa realidade. Não é preciso recorrer a indicadores sociais para vivenciar o crescimento da pobreza em todos os cantos do País. É certo que a pandemia concorreu para o aumento da desigualdade no primeiro trimestre de 2022 e pouco recuperou no decorrer do ano. O número de pessoas que dormem nas calçadas, vasculham lixeiras na esperança de encontrar algum alimento, portam cartazes nos cruzamentos expondo seus desesperos na esperança de ajuda, seja da forma que for, aumenta a cada dia. Nunca se viu tantos apelos nos meios de comunicação pedindo contribuições para entidades que se preocupam em amenizar a fome de milhares de compatriotas, rejeitados ou invisíveis para muitos.

A questão a ser respondida é se o Brasil sempre foi socialmente desigual. Historiadores explicam que a maneira de colonização é o que determina o que a gente é, como vive hoje e o preço que está pagando por se desenvolver com base na escravidão e na grande propriedade. Ao resgatar a história da desigualdade na América do Sul, percebe-se que no início do século 20 o nosso continente era muito parecido com a Europa, mas por lá tudo mudou com certa rapidez. Desta forma, a questão não é só entender os motivos pelos quais a América Latina continua desigual, mas os motivos pelos quais ela continua assim e o que não foi feito para mudar.

É possível que algum líder dos tantos que surgiram na América ou no Brasil não tenha pensado em alguma forma de distribuir a renda entre seus compatriotas. Entretanto, a ação se torna complicada numa sociedade em que uma grande parte da população é submissa, composta por uma desigualdade quantitativa diferente que não pode ser ignorada. Por outro lado, o que não se consegue entender é que mesmo países que, nas mesmas condições que pareciam que não mudariam, conseguiram ser diferentes em 20 anos.

É certo que a desigualdade social tem crescido entre os países desenvolvidos nos últimos 30 anos e reduziu parte do crescimento econômico, mas no Brasil a situação é dramática e não é pior em função de importantes programas de transferência de renda como o Bolsa Família que, segundo o Ipea, já eliminou 15% da pobreza e 25% da extrema pobreza entre os beneficiários e reduziu em 10% a desigualdade de renda no País. Mesmo assim, o que se constata é o aumento da favelização, desigualdade alimentar, falta de saneamento básico, ensino de baixa qualidade, menos formação, desemprego, precariedade na saúde pública e no transporte público. Enquanto isso, os 10% mais ricos no Brasil possuem quase 80% do patrimônio privado do País. A concentração de capital é ainda maior na faixa dos ultra ricos, onde 1% dos mais abastados da população possuía, em 2021, praticamente a metade (48,9%) da riqueza nacional. Nos Estados Unidos o mesmo 1% dos mais ricos detém (35%) da fortuna americana, considerado razoável.

Há um fio de esperança advindo do Banco Mundial que afirma que o momento atual é estratégico para o Brasil, passadas duas crises - a recessão econômica de 2014-2016 e a pandemia - e diante do novo ciclo de políticas públicas prometidas pelo novo governo que começa em 2023. Que sejam urgentes, pois quem tem fome não pode esperar.​

 

Artigo de autoria do conselheiro do Corecon-RS e diretor da Associação Comercial de Pelotas (ACP), economista João Carlos Medeiros Madail, publicado no Diário Popular de Pelotas, edição do dia 29/12/22.

O que esperar para o mercado acionário do Brasil em 2023?

Os mercados financeiros registram ao longo de sua história oscilações de altos e baixos, eventos que nunca deixarão de acontecer uma vez que fazem parte dos ciclos econômicos que acompanhamos periodicamente. Como exemplo temos o crash da Bolsa de Valores de Nova York em 1929, a crise do subprime nos Estados Unidos em 2008, no qual o Ibovespa teve uma queda de 43,8% no ano e, agora, a crise decorrente da pandemia de Covid-19, com a tentativa de ajuste dos mercados globais aos efeitos na macroeconomia, como o aumento da inflação, taxa de desemprego e de juros etc.

São nessas situações em que o mercado faz suas correções nos preços dos ativos, e pode ser que os ajustes sejam tão drásticos que surgem oportunidades de reversão do mercado para compra de ativos muito desvalorizados. O investimento em ações deve-se ter como premissa básica que a aplicação seja de longo prazo, onde o tempo minimizará os efeitos da volatilidade. Neste ponto surge uma pergunta: Porque muitos investidores perdem dinheiro com suas ações e desistem do mercado? Em muitos casos, são investidores que aplicam de maneira especulativa e no curto prazo, pensando que a Bolsa de Valores é um cassino onde pode-se ganhar dinheiro rapidamente, e, na verdade, não é bem isso. Quando se investe em ações, você está sendo sócio da empresa e será beneficiado com o seu crescimento e resultados futuros. O que todo investidor deve fazer é uma boa análise da empresa em que aplicará seu dinheiro, analisar seu setor e a sua gestão corporativa, utilizando indicadores fundamentalistas e, também, uma análise qualitativa.

Veja que em duas décadas, de 2000 até 2021, o Ibovespa subiu mais de 580% contra 285% da inflação acumulada no mesmo período. Assim, por exemplo, um investidor que tivesse uma carteira com as ações que meramente acompanhassem o desempenho do Ibovespa nesse período, teria uma rentabilidade aproximada de 76,6% no ano.

Atualmente, com a crise econômica global, vemos que o índice das bolsas de valores mundiais caiu drasticamente, e o preço das ações de boas empresas sofreram ajustes além do necessário, mostrando que em 2023 pode ocorrer um processo de reversão da queda, o que abre caminho para a compra de ações muito desvalorizadas.

Tomando como base o indicador mais utilizado mundialmente que é o P/L (Preço/Lucro), e usando como parâmetro o Ibovespa, observa-se que o P/L em agosto de 2022 estava em 7 vezes, ou seja, o preço da ação representa 7 vezes o seu lucro anual. Esse é o menor número desde a crise de 2008, o que significa que o risco implícito no mercado de ações no Brasil está próximo dos maiores níveis da história.

Para exemplificar o investimento de longo prazo, tomamos como base a Petrobras-PETR4 (26/01/2016 - Preço R$ 4,21), Gerdau-GGBR4 (26/01/2016 - Preço R$3,27) e a Randon S.A-RAPT4 (15/02/2016 - Preço R$ 1,74). Estas ações, sem incluir os dividendos, tiveram de retorno, aproximadamente, os respectivos números: 487%, 862% e 392%, tendo como base a data de 09/12/2022.

Afirmar que 2023 é um bom ano para começar a investir em ações de longo prazo, é pensar que houve correções acima da média em ações de boas empresas, e que a economia global converge aos poucos para uma estabilização na taxa de juros a nível mundial, o que impactaria em uma recuperação gradual do crescimento do PIB mundial, assim como uma sinalização positiva para o mercado de ações.

Não devemos esquecer que o investimento em ações é renda variável, o que, por definição, é uma aplicação de risco, mas que pode ser minimizada com um bom planejador financeiro e através de administradores com credibilidade e competência.

 

Artigo de autoria do economista e investidor autônomo, Manoel Gil Costa Soares.

Déficit estrutural do Brasil


O Brasil possui um déficit estrutural de muito difícil solução, porque as maiores despesas estão na área social, onde carências básicas não podem deixar de ser atendidas. Para atendê-las, a Constituição vinculou para a Seguridade Social (Previdência Saúde e Assistência Social), 2/3 da arrecadação tributária, mas a União acaba despendendo 80% de toda sua receita líquida. Restam no final muito pouco recurso livre, o que conduz inexoravelmente ao déficit.

Os gastos primários (sem os juros) passaram de 13,7% do PIB em 1991 para 22,7% em 2021, com leve estabilização com o teto de gastos, mas que, em consequência, deixou de atender áreas fundamentais, como na Educação e na Saúde. A cada ano é despendido uma parcela maior do PIB, que deveria ser o limite.

E isso é reflexo de dois fatores: o PIB baixo e o excesso de gastos. O PIB cresceu apenas 2% ao ano desde 2002, e o de 2022 (se crescer 2,6% neste ano) é o mesmo de 2013. Recentemente ocorreram a grande queda, de 7% de 2015-2016 e a de 3,9% em 2020, causada pela covid.

Pelo lado dos gastos, a Constituição de 1988 criou benefícios suecos com recursos moçambicanos, na linguagem de Roberto Campos. Foram criadas regras por demais permissivas para aposentadorias e pensões, sem as contribuições correspondentes, em muitos casos.

Seguidamente, são ampliadas essas vantagens, muitas vezes para os entes federados cumprirem, mas que acabam no final recaindo sobre a União.

A partir de 1998 foram feitas muitas reformas, culminando com a maior em 2019, que, ainda, deixou intocáveis alguns benefícios, e as grandes mudanças que fez só surtirão maiores efeitos com o passar dos anos.

O resultado disso é que cada governo que entra culpa o anterior, e toma medidas para resolver os reflexos presentes da crise, que cada vez se avoluma mais, refletindo-se na dívida pública, que aumenta para financiar os déficits e conter a inflação também resultante desse processo.

A dívida bruta do setor público alcançou R$ R$ 7 trilhões em 2022, ou 80,3% do PIB, depois de 74,4% em 2019, 88,6% em 2020, com a pandemia, que gerou um déficit fiscal de mais de um trilhão de reais. Nos últimos 15 anos os juros foram, em média, 4,3% do PIB.

A PEC que está sendo discutida atualmente é retrato disso. E, se aprovada como pretendida, aumentará em mais 2,3% do PIB os gastos primários. E assim vai. Até quando só Deus sabe!

Para ler o texto completo, com tabelas e gráficos, clique aqui

Artigo de autoria do economista Darcy Francisco Carvalho dos Santos, especialista em finanças públicas e conselheiro do Corecon-RS, publicado no site financars.com.br  em 5 de dezembro de 2022. 

 

Impactos da Bolsa de Valores na vida das pessoas

Bolsa de Valores é uma instituição que permite a negociação de ações de empresas, além de outros títulos de dívida e derivativos. Em outras palavras, a Bolsa reúne empresas num local virtual onde os investidores encontram as “ações” que desejam adquirir. Isso ocorre na mais perfeita transparência e segurança para quem investe.

É importante que se compreenda que os impactos da Bolsa de Valores influenciam diretamente no desenvolvimento econômico do País e das pessoas. O dinheiro que circula nos investimentos resulta em recursos para que as empresas possam expandir as suas atividades empresariais, seja na aquisição de máquinas, equipamentos, novas construções, abrindo novas filiais, ou seja, contribuindo para a geração de empregos em diversos setores, no aumento da produção e, consequentemente, incentivando o desenvolvimento da economia.

A Bolsa tem sido uma das alternativas para a aplicação de recursos por parte das pessoas nas empresas. Pessoas comuns que dispõem de algumas reservas financeiras podem aplicar e gerar rendas extras para projetos de médio ou longo prazos ou uma forma de previdência privada. Esta instituição tem regras que exigem que as empresas com ações na instituição obedeçam a aspectos sociais, ambientais e de governança, o que atraem não só os investidores, mas a população em geral, atenta a este quesito de transparência no ambiente das organizações, que significa maior respeito ao ambiente e as pessoas. O certo é que, quanto mais desenvolvido o mercado financeiro e a Bolsa de Valores, maiores serão as possibilidades de empregos, salários e a qualidade de vida da população.

O mecanismo de funcionamento da Bolsa se baseia na lei da oferta e da procura. Quando um estrangeiro ingressa no Brasil ele troca seus dólares por reais. Isto faz com que a cotação da moeda estrangeira caia, pois haverá mais dólares disponíveis no mercado. Ele poderá comprar ações na Bolsa com os reais disponíveis, o que provocará a suba das ações. O contrário disso também é verdadeiro, o que explica as oscilações no valor do dólar ou das ações.

Em qualquer ambiente de negócios, a segurança política, jurídica e fiscal é determinante para quem investe. No caso da Bolsa, fatores recentes têm impactado no seu comportamento, como, por exemplo, declarações de lideranças com influência direta na economia do País. O que se viu nos últimos dias foi a reação negativa do mercado às declarações do atual presidente eleito, ao afirmar que o seu governo aumentará gastos públicos. O mercado reagiu imediatamente à declaração. O dólar valorizou, os juros futuros dispararam e o Ibovespa – principal indicador da Bolsa de Valores – caiu assustadoramente. O Ibovespa fechou o dia com uma queda de mais de 3,7%, na casa dos 109.350 pontos (cada ponto equivale a R$ 1, ou seja, se o índice estivesse em cem mil pontos, isso representaria um portfólio de R$ 100 mil de ações negociadas), patamar que não atingia desde 30 de setembro, antes do primeiro turno das eleições presidenciais.

Como os brasileiros têm se interessado cada vez mais por formas alternativas de fazer o dinheiro render, além da tradicional caderneta de poupança que costuma ter rendimento considerado mais baixo, é bom entender o que é a Bolsa de Valores e buscar informações sobre as ferramentas disponíveis no mercado que podem contribuir no processo de investir.

Não há dúvida que a economia influencia a vida de todos, seja você um investidor ou não. Todas as movimentações que ocorrem no contexto econômico têm suas consequências. Investimentos financeiros têm seus riscos, mesmo aqueles conservadores como poupança e títulos públicos, o importante é estar atento aos acontecimentos que envolvem a economia como um todo, ou acontecimentos pontuais provocados por pessoas influentes na política e na economia do País ou mesmo nas turbulências do mercado financeiro mundial.​

 

Artigo de autoria do conselheiro do Corecon-RS e diretor da Associação Comercial de Pelotas (ACP), economista João Carlos Medeiros Madail, publicado no Diário Popular de Pelotas, edição do dia 01/12/22.

O que nós podemos fazer para mudar o mundo?

Em 2000, as Nações Unidas, ao analisarem os maiores problemas mundiais, elegeram um conjunto de objetivos e metas que deveriam ser atingidas até 2015, que ficaram conhecidos com os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.

Foram apresentados os 8 jeitos de mudar o mundo, a saber: Erradicar extrema pobreza e a fome; Atingir o ensino básico universal; Promover a igualdade de gêneros e a autonomia das mulheres; Reduzir a mortalidade infantil; Melhorar a saúde materna; Combater o HIV/AIDS, a Malária e outras doenças; Garantir a sustentabilidade ambiental;  Estabelecer uma parceria global para o desenvolvimento.

Infelizmente, mesmo com os investimentos realizados pelas Nações integrantes, os objetivos não foram alcançadas no prazo previsto. Além disso, com a Pandemia do Covid-19 as dificuldades aumentaram. Atualmente, os cenários apresentam problemas que ainda estão prejudicando bilhões de pessoas. Existem problemas que ampliaram os riscos para os 8 bilhões de habitantes da Terra. 

É lamentável identificar que a erradicação da extrema pobreza e a fome ainda estão pautadas nas Políticas Públicas de muitos países, assim como a garantia da sustentabilidade ambiental. As notícias na imprensa assustam e alertam sobre os aumentos dos desafios e as indispensáveis ações públicas e privadas para serem agilizadas.

Os avanços tecnológicos, as políticas públicas e o empreendedorismo são fundamentais na busca da melhoria contínua, incluindo fazer o bem sem a olhar a quem. O Brasil sempre esteve comprometido com a concretização dos Objetivos do milênio e, em parceria com as Nações Unidas, vem desenvolvendo estratégias para alcançá-los. É obvio que, com as grandes mudanças, a sociedade civil tem ampliado sua atuação para melhorar os indicadores. 

Cada um dos 8 jeitos de mudar o mundo apresentado precisa do comprometimento na busca de melhores dias para os habitantes do planeta azul. As Nações Unidas convidam e os resultados deverão ser alcançados com as participações e para o bem de todos.

Será que existem pessoas que não concordam com as propostas? Alguns dos políticos eleitos ou reeleitos poderão ignorar quaisquer das propostas Algum empreendedor ou empresário poderia ignorar os 8 jeitos de mudar mundo? Espero que os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio sejam incluídos em todos os Programas dos Partidos Políticos nacionais e nas Políticas Públicas dos próximos Governos para que os indicadores sociais e econômicos sejam melhorados.

Será? Respeitam-se todas as opiniões contrárias. São reflexões. Podem ser úteis. Pensem nisso.


Artigo de autoria do economista Abdon Barretto Filho, mestre em Comunicação Social e presidente da ABF - Comunicação e Marketing, publicado no Site www.peloscaminhosdoriogrande.com.br

Futuro do Capitalismo

O sistema capitalista começou a ser praticado no século 8, como alternativa ao sistema feudal, que entrara em decadência em consequência da fome, das guerras e da peste negra que se alastrava na Europa Ocidental. Com o surgimento da Burguesia - classe social que detinha os meios de produção, as pessoas fugiam em massa dos feudos agrícolas, provocando o êxodo rural, concentrando-se nas cidades em busca de melhores condições para viver. O surgimento da moeda, o desenvolvimento das cidades medievais e da intensificação das atividades comerciais, foi essencial para que o sistema feudal entrasse em declínio. Surge aí o capitalismo, um sistema econômico no qual o principal objetivo se dá pela obtenção do lucro e da proteção privada. O acúmulo de capital, tanto pelos governos quanto pelos indivíduos, é representado na forma de bens e dinheiro.

O primeiro país a adotar o sistema capitalista foi a Inglaterra, em 1760, tendo como marco inicial a introdução da máquina a vapor na produção, o que deu início a transição de uma produção manufatureira para uma produção industrial. Daí em diante, em função do sucesso da produção em massa e da maior oferta de produtos para o consumo, o capitalismo se expandiu para quase todo o mundo, marcando a sua existência definitiva a partir do século 15. Na sua trajetória o capitalismo está dividido em três fases; o capitalismo comercial, o capitalismo industrial, o capitalismo financeiro e o capitalismo informacional. Atualmente está na sua terceira fase; o capitalismo financeiro, caracterizado pela especulação financeira em torno de ações de empresas, juros etc. Mesmo que se considere o capitalismo como um sistema econômico, é necessário se ter em mente que o modo de produção vai interferir diretamente em aspectos políticos, sociais e econômicos, ou seja, o sistema vai influenciar na organização de todos os aspectos de uma sociedade.

Não há dúvida de que grande parte da população mundial se beneficiou e ainda se beneficia dos resultados do capitalismo. Em apenas 200 anos, 85% da população mundial vivia em extrema pobreza - com menos um dólar por dia, hoje esse índice está em 16%. Apesar disso, o capitalismo, hoje, está em constante ataque por várias razões; os detentores do poder econômico buscam tão somente a maximização do lucro a qualquer preço, sem medir as consequências do sacrifício das pessoas ou das nações impossibilitadas de participar do sucesso de uma camada cada vez mais concentrada de beneficiários. Assim como já tivemos nos feudos três classes distintas; a Nobreza, a classe mais alta, proprietária de terras que determinavam as regras dentro dos feudos; o Clero, composto pelos membros da Igreja Católica, instituição poderosa que, além de evangelizar era grande proprietária de terras e os Servos, trabalhadores dos feudos que tinham tão somente o direito a salários, ou trabalhavam em troca de lugar para viver e se alimentar. No capitalismo segue-se no mesmo ritmo.

A voracidade pelo lucro em função da produção em massa e da necessidade de consumo dos oito bilhões de habitantes do planeta, já se discute até quando haverá matéria prima na natureza para sustentar o sistema, visto que a exploração constante e desenfreada tem deixado um saldo de devastação profunda no meio ambiente. Além disso, o fato mais importante atribuído ao sistema capitalista é a intensificação das desigualdades sociais. A busca incessante por lucros faz com que haja a exploração do trabalho humano por parte dos donos dos meios de produção. Isso ocorre com mais intensidade pela ausência de oportunidades de empregos. Como existe uma grande e crescente oferta de trabalhadores os salários consequentemente são baixos, além da modernização da produção que retira um número elevado de postos de trabalho. Quem sabe um novo sistema possa surgir em que as pessoas possam ser mais importantes do que elas realmente são, ou que os valores humanos estejam acima dos valores materiais.


Artigo de autoria do conselheiro do Corecon-RS e diretor da Associação Comercial de Pelotas (ACP), economista João Carlos Medeiros Madail, publicado no Diário Popular de Pelotas, edição do dia 17/11/22.

 

Empregos gerados nas campanhas eleitorais

No período destinado às campanhas eleitorais dos vários candidatos à presidência da República, governadores, Congresso Nacional e Assembleias Legislativas, geraram empregos para inúmeras pessoas, mesmo que temporários. Assim como a pandemia acabou com várias atividades de ambulantes e pequenos negócios, ocasionando situações de desespero para famílias que dependiam do pouco que ganhavam para sobreviverem, eis que surgem as campanhas eleitorais, abrindo espaços de trabalho para milhares de pessoas no país inteiro, mesmo que por um curto período de tempo.

Além da escolha dos representantes políticos, há que se considerar a festa da democracia protagonizada por eleitores e candidatos. Além do objetivo maior, a eleição deste ano teve caráter empregatício oportuno, isto porque foi necessário contar com muitas pessoas para levar as pautas políticas para a população no planejamento e execução da campanha. Não se tem ideia do número de colaboradores beneficiados, de alguma forma, com atividades contratadas pelos candidatos. Sabe-se que a campanha movimentou empresas gráficas e pequenos negócios de todo o país, sejam na confecção de impressos ou artesanatos direcionados à campanha, cabos eleitorais, pessoas encarregadas de obter votos para os candidatos ou partidos políticos, mesmo que este tipo de trabalho não tenha reconhecimento de vínculo empregatício.

Em muitos casos famílias inteiras circularam pelos calçadões ou mesmo nos bairros mais numerosos das cidades empunhando bandeiras ou distribuindo os conhecidos “santinhos” ou se aglomerando nas esquinas movimentadas dos centros urbanos, tremulando bandeiras. Não se tem registros do número de pessoas que trabalharam nesta campanha eleitoral, entretanto, pela intensa movimentação das pessoas e pelo expressivo número de candidatos, pode se afirmar que foram milhares em todo o país. Sabe-se que a maioria das pessoas atuou como tarefeiro ou diarista e outros tantos contratados com registro nas carteiras.

Assim como há um limite para gastos nas campanhas, o Tribunal Superior Eleitoral limita o número de pessoas que podem ser contratadas para uma campanha. Esse número varia de acordo com o tamanho do eleitorado do Estado e a partir do cargo escolhido. Para deputado estadual, são previstos gastos de até R$ 1,2 milhão e 3.355 funcionários contratados. O cargo de deputado federal já prevê um gasto máximo maior, de R$ 3,1 milhões e 6.709 pessoas contratadas.

As redes sociais também movimentaram sobremaneira as campanhas eleitorais. A tarefa dos cabos eleitorais tem evoluído nos últimos tempos, pois competem com as novas formas de campanha online. Nos últimos pleitos, em 2018 e 2022, as redes sociais tiveram um papel de destaque, mudando a forma de comunicação do candidato com o seu eleitor. Neste último não foi diferente. Incorporou novos profissionais na campanha, sejam operadores de sistemas, especialistas na criação de cards e outras formas de comunicação virtual, profissionais de marketing político e eleitoral, enfim uma gama de pessoas ávidas por trabalho.

A tendência é que nas próximas campanhas políticas a presença desses profissionais se intensifique, mas engana-se, porém, quem pensa que é só realizar o incremento da campanha que a mágica da vitória acontece. O conteúdo impulsionado precisa ser bom e convincente para convencer o eleitor. O candidato que não tiver conteúdo ou uma boa presença de vídeo ou boas ideias ou ainda não esteja engajado de corpo e alma na campanha, certamente não obterá êxito. Quando o produto é ruim não tem comunicação que faça milagre. Um exemplo de sucesso, próximo dos pelotenses é a conduta de Eduardo Leite (PSDB). Ele demonstra preparo político tem boa presença de vídeo, ótimo argumento o que o faz dele um político vencedor desde o seu primeiro mandato como vereador em Pelotas.​

 

Artigo de autoria do conselheiro do Corecon-RS e diretor da Associação Comercial de Pelotas (AC), economista João Carlos Medeiros Madail, publicado no Diário Popular de Pelotas, edição do dia 10/11/22.

As instituições financeiras e o Prêmio Nobel de Economia de 2022

O  capitalismo, ou mais exatamente, o sistema de livre mercado, é a forma mais eficaz de organizar a produção e distribuição que os seres  humanos encontraram. Embora os livres mercados, especialmente os livres mercados financeiros, engordem a carteira das pessoas, não conseguiram, surpreendentemente, conquistar seus corações e mentes. Os mercados financeiros são um dos mais criticados e menos  entendidos elementos do sistema capitalista.

… mercados financeiros sadios e concorrenciais são uma ferramenta extraordinariamente eficaz para difundir oportunidades e  combater a pobreza. Dado seu papel no financiamento de novas ideias, os mercados financeiros mantêm vivo o processo de “destruição” criadora que contesta velhas ideias e organizações e as substitui por outras, novas e melhores. Sem mercados financeiros vibrantes, inovadores, a economia inevitavelmente se petrificaria e declinaria – Rajan & Zingales (2004)

A percepção da importância da intermediação financeira para o crescimento econômico é bastante antiga na economia, remontado a trabalhos clássicos na economia devidos a Bagehot (1873);  Schumpeter (1911); John Hicks (1969) e Gurley e Shaw (1956, 1960). Contudo, como destacam Rajan e Zingales na passagem  acima, é pouco conhecida. O Prêmio Nobel deste ano veio destacar este ponto e mostrar a importância e a relevância das instituições financeiras para a economia. É disto que este artigo irá tratar.

Os intermediários financeiros podem ser definidos como instituições que procuram servir as necessidades tanto dos poupadores (emprestadores) quanto dos tomadores de empréstimos (investidores). Além disso, eles proporcionam uma variedade de serviços específicos os quais os poupadores e os investidores valorizam separadamente. O setor bancário especificamente consiste em todas as corporações de um país engajadas na intermedição financeira numa dada economia.

A intermediação financeira é considerada uma atividade produtiva na qual os bancos e outras instituições financeiras obtém fundos com o propósito de canalizar os mesmos para outras unidades econômicas  (famílias, empresas, governos, entidades não governamentais etc.) através de empréstimos, realizando, assim, uma realocação dos recursos na economia, tanto contemporaneamente como intertemporalmente. À medida em que se estabelecem condições para a intermediação financeira, os agentes econômicos superavitários, cujos rendimentos correntes sejam superiores aos seus gastos totais, poderão canalizar suas disponibilidades de caixa aos agentes econômicos deficitários, cujos gastos totais em consumo e investimento são superiores as disponibilidades imediatas. Este sistema de canalização de recursos dos agentes superavitários para os agentes deficitários estimulará ainda mais as atividades econômicas, pois gera condições para a expansão da demanda agregada, na forma de mais consumo e investimento.

As pessoas que poupam não são a mesmas que investem. Para que a poupança de uns se transforme em investimento de outros se deve produzir um encontro e um acordo das partes sobre os termos das trocas, o qual envolve elevados custos de transação, monitoração e informação. Devido às especificidades do sistema financeiro, ele é capaz de obter economias de escala na operação de financiamento e na redução dos problemas de assimetria de informação (ou seja, quando uma das partes do contrato possui mais informação do que a outra). Isto torna o processo de financiamento mais eficiente, elevando o nível de investimento e de crescimento da economia.

Os bancos (enquanto instituições depositárias) desempenham um importante papel na  canalização de recursos para os tomadores de empréstimos com oportunidades de investimento produtivos. Eles são importantes, também, na medida em que asseguram que o sistema financeiro e a economia funcionem bem e de modo eficiente. Os bancos reduzem os custos de transação ao prestarem  serviços de liquidez,  compartilhamento de risco e informação. No que diz respeito especificamente à liquidez, temos que os intermediários financeiros podem facilitar a forma como os ativos podem ser transformados em moeda.  Além disso, como intermediários financeiros, eles reduzem a assimetria de informação existente entre as partes. Os intermediários financeiros, na medida em que coletam e usam as informações dos poupadores e tomadores de empréstimos, ajudam a determinar os preços das ações, títulos e outros ativos financeiros, o que pode ajudar os agentes econômicos em suas decisões de poupar e investir e assim melhorar a alocação da poupança numa economia. A incorporação de toda a informação disponível nos preços dos ativos constitui-se numa importante característica de um funcionamento de um mercado financeiro.

Neste ano, o prêmio Nobel de Economia foi concedido a três destacados economistas que trataram desta importante questão – a intermediação financeira. Eles, com seus artigos e pesquisas, iniciadas principalmente no inicio dos anos 1980, nos ajudaram a entender a importância dos bancos numa economia de mercado e, de modo particular, qual a sua relevância durante as crises financeiras (especialmente a de 1929 e a recente de 2007-2009). Douglas Diamond, professor de Economia da Universidade de Chicago dividiu o prêmio com Ben Bernanke da Brookings Institution e Philip Dybvig da Universidade de Washington em St. Louis. Neste artigo, vamos nos concentrar principalmente nos trabalho de Douglas Diamond e especialmente naquele que trata da questão da intermediação financeira.

Os trabalhos do professor Diamond mudaram a forma como as pessoas veem os bancos e estabeleceu novas bases para como banqueiros centrais, reguladores, formuladores de políticas econômicas, principalmente referentes ao sistema financeiro, e acadêmicos abordam as finanças modernas. O professor Diamond fez contribuições significativas para o campo da economia e para compreensão do importante papel das instituições financeiras para a Economia. Ele é conhecido por sua pesquisa sobre intermediários financeiros, crises financeiras e liquidez. Sua agenda de pesquisa nos últimos 40 anos tem  se concentrado em explicar o que os bancos fazem, porque eles fazem isso (empréstimos) e as consequências desses arranjos institucionais para a economia.

No artigo “Intermediação Financeira e Monitoramento Delegado”, que se constituiu num artigo baseado em sua dissertação de doutorado defendida na Universidade de Yale,  e publicado em 1984, ele mostra como certos ativos bancários  especiais (especiais porque monitoravam informações especiais sobre mutuários de negócios, ou seja, buscam lidar com os problemas de assimetria de informação pós contratual – problemas de risco moral) os forçaram a se financiar com passivos de dívida (depósitos) em vez de patrimônio e também levam os bancos a diversificar seus empréstimos. Um pouco mais tarde, ele e Philip H. Dybvig desenvolveram o agora chamado modelo Diamond-Dybvig, “Bank Runs, Deposit Insurance, and Liquidity”, publicado em 1983. O modelo Diamond-Dybvig (1983) mostra como os bancos se especializam em criar passivos líquidos (depósitos) para financiar ativos ilíquidos (como empréstimos empresariais) podem ser instáveis e dar origem a corridas bancárias (bank runs). Isso destaca o fato de que, como os passivos especiais dos bancos, combinados com ativos ilíquidos, explicam o papel dos bancos na economia, por que eles podem gerar uma significativa instabilidade na economia e por que eles necessitariam de uma rede de segurança do governo (como o seguro de depósito) mais do que outros mutuários.

Por que os investidores primeiro emprestam aos bancos que depois emprestam aos tomadores de empréstimos [borrowers], ao invés de  emprestar diretamente? Qual é a tecnologia financeira que permite aos bancos servirem como intermediários financeiros? Estas são as principais questões que Diamond  (1984) formulou em seu clássico artigo – Financial Intermediation and Delegated Monitoring. Para Diamond (1984) os intermediários financeiros são agentes, ou grupos de agentes, que são delegados pelos correntistas para monitorar os investimentos em ativos financeiros. Os intermediários financeiros emitem títulos a fim de comprar outros títulos. Os custos de monitoramento e de fazer cumprir os contratos de dívida emitidos diretamente pelo investidor é a razão pela qual o levantamento de fundos através de um intermediário financeiro pode ser superior a outras  formas alternativas de empréstimo. Estes custos  foram definidos por Bernanke (1983) como sendo os custos pelos quais são canalizados os fundos dos  poupadores/emprestadores para os “bons tomadores de empréstimos”, sendo que tais custos referem-se aos custos de filtragem (screening),  monitoramento, contábeis, bem como as perdas esperadas infligidas pelos “maus tomadores de empréstimos”. Os bancos, assim, buscam operar com procedimentos que minimizem estes custos desenvolvendo uma expertise com relação a avaliação dos potenciais tomadores de empréstimos, estabelecendo relações de longo prazo com os consumidores e oferecendo condições de financiamento que encorajem os potenciais tomadores de empréstimos e investidores a se auto selecionarem.

A ideia básica por traz da delegação monitorada (delegated monitoring) é que os poupadores não teriam tempo, inclinação ou expertise para monitorar os tomadores de empréstimos dado o  risco de não pagamento dos empréstimos. Assim, eles se engajam num financiamento indireto (usando um intermediário financeiro – os bancos) ao invés de concederem um empréstimo direto aos tomadores de empréstimo. Além disso, temos que o monitoramento dos tomadores de empréstimos pelos bancos envolvem retornos crescentes de escala, os quais reforçam a visão de que de que ela é mais eficientemente desempenhada por especialistas intermediários do que por outras instituições. Segundo Diamond (1986)-  os intermediários financeiros são agentes, ou grupos de agentes, a qual  são delegadas a autoridade para investir em ativos financeiros. Em particular, eles emitem títulos para comprar outros títulos. Um primeiro passo na compreensão dos intermediários é descrever as características dos mercados financeiros onde desempenham um papel importante e destacar o que lhes permite fornecer serviços benéficos. É importante entender os contratos financeiros escritos por intermediários, como os contratos diferem daqueles que não envolvem um intermediário, e por que estes são contratos financeiros ideais.  

Diamond (1984), em outras palavras, desenvolveu uma teoria da intermediação financeira  que está baseada no pressuposto que os agentes econômicos buscam minimizar os custos de produção de informação para resolver problemas de incentivo que ocorrem devidos aos problemas de risco moral (moral hazard)  – que são problemas pós-contratuais devido a existência de assimetria de informação. Ele considera e leva em conta os custos de prover incentivos para uma monitoração delegada por um intermediário financeiro. Assim, para  Diamond (1984) a principal característica dos bancos é a de agir como um monitor delgado dos tomadores de empréstimos, em nome dos emprestadores (depositantes), na presença de custos de monitoração não desprezíveis. Deste modo, os bancos geram um benefício social líquido para a sociedade, explorando as economias de escala no processamento de informações que envolvem a monitoração e o enforcement dos contratos com os tomadores de empréstimos.

Os bancos reduzem os chamados custos de delegação através de uma adequada e ampla diversificação de seu portfólio de empréstimos. Segundo ele, a diversificação do portfólio da carteira de empréstimos numa instituição financeira é uma tecnologia de engenharia financeira que facilita a transformação bancária dos empréstimos que necessitam de um monitoramento  e enforcement  (fazer cumprir) dispendioso que envolve o cumprimentos de contratos bancários.

O modelo de intermediação financeira de Diamond (1984) é um modelo baseado no conceito de  de assimetria de informação ex-post (moral hazard) entre emprestadores potenciais e um empresário neutro ao risco que necessita obter capital para projetos arriscados.  Neste contexto, os contratos de dívida são vistos com contratos ótimos entre os empresários e os emprestadores.

O modelo de Diamond (1984) foca-se num intermediário financeiro que obtêm fundos de vários emprestadores (depositantes), e que promete a eles obter um dado padrão de retornos, ele também empresta aos empresários e aloca recursos no monitoramento e no cumprimento dos contratos os quais são menos custosos do que aqueles sem monitoramento. Assim, os bancos monitorariam as informações dos empresários tomadores de empréstimo, e receberiam pagamentos deles as quais não são observadas pelos depositantes. Na realidade, Diamond (1984), estava lidando com um dos principais problemas enfrentados por um poupador líquido, ao aplicar diretamente nos instrumentos financeiros emitidos por uma empresa, que é o alto custo de coleta de informações e seu monitoramento.

Os poupadores individuais são obrigados a monitorar as atividades das empresas de maneira oportuna e  completa, após adquirir seus títulos. Se não o fizerem, eles ficam sujeitos aos custos de agência (agency costs), ou seja, o risco de que os proprietários ou administradores da empresa usem o dinheiro do poupador de maneira contrária às promessas contidas na cláusula contratual de emissão dos títulos. A solução para estes problemas de agência envolveria a aplicação de fundos de um grande número de pequenos depositantes (poupadores) numa única instituição financeira –  um banco. Essa instituição financeira, agora,  agrupa esses fundos e investe nos instrumentos financeiros diretos ou primários emitidos por empresas.

A instituição financeira de grande porte passa, então, a ter um maior incentivo para coletar informações e monitorar as atividades das empresas, porque tem muito mais a perder do que qualquer investidor individual. Isto reduz significativamente o problema do carona (free rider) que ocorre quando cada investidor individual deixa aos outros a tarefa de coletar informações e monitorar as atividades das empresas. Assim, as empresas atribuiriam aos intermediários financeiros o papel de fiscal delegado para atuar em seu nome. Com isto  os intermediários financeiros passam a ter maiores incentivos para coletar informações além de terem um custo médio da coleta de informações menor e uma maior expertise ao longo do tempo. Além dos maiores incentivos para o monitoramento da redução dos custos decorrentes do monitoramento os bancos podem vir a desenvolver novos tipos de títulos para o mercado secundário que lhes permitam um monitoramento mais eficaz. Assim, seriam gerados uma gama mais ampla de contratos que iria melhorar a capacidade de monitoramento dos intermediários financeiros.

Quando os contratos de empréstimos bancários são de curto prazo, o banco transforma-se praticamente num insider em relação a empresa. Assim, ele passa a exercer a função de monitoramento com maior frequência e elimina a necessidade de condições relativamente inflexíveis e de cumprimento complicado encontradas nos contratos de emissão de obrigações. Portanto, agindo como um monitor delegado e produzindo uma informação mais abundante, confiável e pertinente sobre os tomadores de empréstimos, os bancos podem reduzir significativamente o grau de imperfeição referentes assimetrias de informação entre as fontes e os usuários finais de fundos da economia. Como consequência, temos que os poupadores e tomadores de empréstimos recebem  benefícios da informação gerada pelos banco quando analisam os retornos dos ativos financeiros, pois na medida em que eles são informados, isto irá afetar os retornos e os preços dos ativos, contribuindo para uma melhor alocação dos recursos finaceiros na economia. A incorporação da informação disponível no retorno de um ativo é a característica que distingue o bom funcionamento de um mercado financeiro (teoria dos mercado eficientes).

A medida em que o número de títulos na carteira de ativos de uma instituição financeira aumenta, o risco da carteira diminui (embora num ritmo decrescente). Essa diversificação de risco permite a uma instituição financeira predizer com maior precisão o retorno esperado de sua carteira.

Uma  instituição financeira diversificada pode ser capaz de gerar um retorno livre de risco em seus ativos e assim adquire a capacidade, com credibilidade, de cumprir sua promessa de oferecimento de instrumentos de alta liquidez e risco reduzido aos depositantes. Isto amplia o papel dos bancos na economia e gera maiores empréstimos e financiamentos para a realização de investimentos de curto, médio e longo prazos. Portanto, se um intermediário financeiro for grande o suficiente para obter ganhos com o processo de diversificação e monitoramento, seus instrumentos financeiros tenderão a ser encarados como líquidos e atraentes pelos pequenos poupadores, em comparação com os investimentos diretos no mercado de capitais.

Deste modo, vemos que a delegação monitorada reduz os custos
de transação na intermediação financeira, pois muitos dos custos de uma transação financeira são indivisíveis. Quando muitos poupadores emprestam a uma única instituição financeira, e delegam o poder de conceder empréstimos, ele pode fazer o empréstimos por todos eles, aos invés de cada um deles fazer o mesmo trabalho independentemente. Além disso a delegação monitorada permite a especialização que é uma das chaves para o aumento da produtividade da economia. Um  indivíduo pode emprestar somente ocasionalmente, e fazendo isto, adquire pouca experiência. Contudo, as instituições financeiras, representando muito emprestadores e emprestado frequentemente, adquirem experiência e know-how com relação aos empréstimos. Outro ponto importante é que as instituições financeiras estariam numa posição de barganha  mais forte, pois  a capacidade de empréstimo está concentrada em suas mão  e elas podem negociar melhores termos para os empréstimos e obter melhores garantia (colaterais)  do que um único e pequeno poupador. Por fim, é mais provável que o tomador de empréstimos revele as informações importantes e estratégicas sobre seus negócios e investimentos a uma única instituição financeira do que a vários pequenos emprestadores.

O problema de seleção adversa para os bancos implica que eles devem separar os créditos bons dos ruins antes de conceder o empréstimos. Se um banco concentra seus empréstimos a firmas de um determinado setor, o banco acumula conhecimento sobre esses setores e, portanto, estaria mais capacitado para prever quais as firmas  que poderão fazer pagamentos seus débitos em tempo hábil.

O monitoramento das atividade dos tomadores de empréstimos para verificar e impor o cumprimento das cláusulas restritivas faz com que os emprestadores se certifiquem  de que eles não estão  se arriscando à suas custas. A necessidade de os bancos e outras instituições financeiras se engajarem em filtragem e monitoramento explica por que se gasta tanto dinheiro em auditoria e atividades de coleta de informações. Uma outra forma de os bancos  e outras instituições financeiras obterem informações sobre seus tomadores de empréstimos é através de relações de longo prazo com seus clientes. Este é um princípio importante da administração de crédito. As relações de longo prazo beneficiam tanto os clientes quanto ao banco. Uma firma ou cliente que tenha um relacionamento prévio com o banco de longa data terá mais facilidade de obter um empréstimo com taxas de juros mais baixas porque o banco pode determinar mais facilmente se o possível tomador é um bom risco de crédito, gastando menos em monitoramento.

Os bancos também acumulam relações de longo prazo com seus clientes emitindo e criando linha de crédito especiais a clientes comerciais. Uma linha de crédito é um compromisso prévio de um banco em conceder empréstimos a uma firma até um determinando limite e com uma taxa de juros que esteja atrelada à taxa de juros de algum mercado. Um acordo de linha de crédito é um método poderoso para a redução de custos do banco com a filtragem e a coleta de informações.

Assim, finalizando este artigo, vemos que as contribuições dos três autores e a de Douglas Diamond, aqui analisada com mais detalhe, busca destacar a importante e relevante contribuição destes economistas para o mundo em que vivemos e fazer com que sejam desenvolvidas instituições e abordagens que tornem as instituições financeiras mais eficientes e menos sujeitas a crises como as que ocorrem em 1929 e a recente de 2007-2009. O Prêmio Nobel de Economia atribuído ao professor Diamond foi realmente merecido tanto pela relevância do tema para o contexto hodierno, como pelas pesquisas realizadas e contribuições suas contribuições seminais e originais. Assim, vale a leitura deste artigos para os interessados no tema e, principalmente, aos economistas que pesquisam, trabalham e atuam no mercado financeiro tanto diretamente como em sua regulação.

 

Artigo de autoria do economista Giácomo Balbinotto Neto, professor do Departamento de Economia e Relações Internacionais da UFRGS.

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