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Economia global rumo à recessão

O advento da globalização das economias contribuiu nas trocas entre os blocos econômicos com resultados positivos para muitos países que apresentaram significativos desenvolvimentos industriais, com o avanço das novas tecnologias e, por conseguinte, crescimentos econômicos acelerados. A globalização também gerou vantagens competitivas para as empresas que passaram a obter matérias-primas mais baratas. Entretanto, quando tudo parecia normal no cenário econômico mundial, eis que surge a pandemia da Covid-19, freando o ritmo de crescimento global, agravado ainda mais com a guerra entre Rússia e Ucrânia, que não tem prazo para acabar.

Como resultado vive-se um cenário de encarecimento dos preços dos alimentos e do petróleo, que atinge diretamente inúmeros países. Reaparece, então, uma velha vilã há muito esquecida pelos países desenvolvidos que é a inflação. Trata-se da inflação de custo pelo aumento do valor de várias matérias-primas ou insumos importados. A Alemanha está com o nível mais alto em quase meio século, tendo ainda que lidar com uma crise energética derivada do conflito que atinge toda a Europa. Os Estados Unidos e o Reino Unido têm experimentado aumentos de preços não vistos nos últimos 40 anos. A taxa de inflação americana já ultrapassou todas as metas anteriormente estabelecidas e chega a 8,3%. A América Latina, por sua vez, também está sob pressão devida à escalada do custo de vida.

A maneira de controle da inflação é a elevação da taxa de juros, ou seja, tornar o dinheiro mais caro para reduzir a demanda. O Federal Reserve (FED, Banco Central dos Estados Unidos) elevou recentemente a taxa de juros em 0,75%, atingindo a faixa de 3% a 3,35% ao ano. Este foi o quinto aumento em 2022 e, com isso, a taxa chegou ao seu maior nível desde 2008, quando despontou a crise financeira mundial. No Brasil, o Comitê de Política Monetária do Banco Central decidiu na última reunião, em setembro, manter os juros em 13,75%, após 12 aumentos seguidos que elevaram a taxa de juros em 11,75 pontos percentuais desde março de 2021, o maior ciclo de altas desde 1999, quando se colocou em execução o regime de metas da inflação.

A alta de juros provoca vários efeitos na economia dos países. Investidores que comumente aplicam seus recursos financeiros nos países em desenvolvimento, com altos lucros, mesmo com taxas menores, deslocam recursos para os países ricos, como os Estados Unidos, considerados mais seguro para as aplicações. Enfim, a desaceleração ou mesmo a recessão ora vivida nas economias dos países desenvolvidos é uma realidade no cenário atual, visto que, quando os juros sobem, fica mais caro para as empresas e famílias tomarem empréstimos, o que diminui a atividade econômica. Essa desaceleração da economia mundial reduz a demanda por bens e serviços e pode influenciar nas exportações brasileiras até mesmo para a China, que vive contração econômica declarada.

Comprovada a recessão americana, grande parte dos países dependentes direta ou indiretamente desta e de outras economias desenvolvidas também serão impactados, incluindo o Brasil. O próprio Banco Mundial alertou recentemente que os aumentos das taxas de juros nos países podem levar a economia global a uma recessão em 2023. Portanto, os prognósticos para o próximo ano não são bons para a economia mundial, que poderá viver seu pior momento em mais de uma década.

O que está claro, na opinião dos principais líderes de bancos centrais, é que, se dada a escolha entre permitir que a inflação permaneça alta por um período sustentado ou levar a economia para uma recessão, melhor é optar pela recessão. Inflação alta é difícil de superar. Porém, a recessão, mesmo que reduza a atividade econômica por um tempo, superada as causas que a provocaram, poder-se-á voltar a crescer, recuperando a confiança de empresários e consumidores.

Artigo de autoria do conselheiro do Corecon-RS e diretor da Associação Comercial de Pelotas (AC), economista João Carlos Medeiros Madail, publicado no Diário Popular de Pelotas, edição do dia 06/10/22.