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Desprezo pela Ciência

O anúncio do corte de R$ 600 milhões no orçamento da ciência brasileira demonstra o pouco interesse ou desconhecimento que esta inquestionável área do conhecimento tem contribuído para o desenvolvimento econômico e social do país.

A ciência tem permitido a todos nós compreender um pouco sobre a natureza, sobre a maneira de eliminar doenças, melhorar a nossa alimentação, avançar na questão energética, produzir mais alimentos e tantas outras questões que tem nos permitido viver mais e com qualidade.

Tem sido através da ciência que a expectativa de vida da população vem aumentando desde o século 19, graças às vacinas, melhor condições de parto e medicamentos para doenças como câncer e problemas cardíacos. A ciência tem nos permitido viver mais do que os nossos antepassados. Os dirigentes brasileiros mesmo não reconhecendo o valor da ciência, devem saber que o país produz, em média, um pouco mais de 2% de tudo o que se publica nas boas revistas científica internacional e na área de ciências agrárias somos responsáveis por quase 5% do que é publicado.

Não há dúvida de que os avanços do agronegócio brasileiro é fruto da ciência e tecnologia gerada pelos cientistas brasileiros que proporcionou ao país, até agosto, U$S 10,90 bilhões e vem aumentando e já representa 26,6% do PIB. Nos países desenvolvidos, o dinheiro que financia a ciência nas universidades é público. Nos Estados Unidos 60% dos recursos para o desenvolvimento da ciência vêm do governo. Na Europa são 77% dos recursos públicos direcionado à ciência. O Brasil investe 2,26% do PIB em ciência, abaixo da média mundial.

O nosso país é rico em recursos naturais e por falta de estudos e pesquisas em várias áreas, exporta estes recursos para o mercado internacional na forma bruta e, muitas vezes os importa já processados. Em manter-se este desprezo pela ciência, o Brasil vai depender de investimentos de capital privado no desenvolvimento da ciência e tecnologia, até porque, o setor científico tem potencial para gerar empregos, produção tecnológica e conseqüentemente aumento na qualidade de vida da população.

Do contrário, os destacados cérebros brasileiros, dedicados a pesquisa continuarão deixando o país em busca de oportunidades no exterior. A notícia do corte de recursos já está provocando certa apreensão entre os pesquisadores da USP, UFMG e UNICAMP, as principais universidades que produzem conhecimento, entre outras tantas que desenvolvem estudos em estágios avançados, que podem resultar em perda de dinheiro e tempo.

A própria EMBRAPA, reconhecida internacionalmente pela qualidade das pesquisas que tem gerado e contribuído para o desenvolvimento da agropecuária do país, com seus 2.424 pesquisadores, 84% com doutorado ou pós-doutorado cursado no país e no exterior, vêem ameaçados seus milhares de projetos em desenvolvimento em função dos cortes orçamentários anunciados.

Em 2020 o governo brasileiro gastou R$ 6 bilhões na compra de vacinas contra a Covid-19, e deverá continuar dependente de quem as produz por muito tempo, mesmo que os nossos institutos de pesquisa médica tenham conhecimento para produz-las. O que está faltando é investimentos em estruturas físicas e equipamentos, ou seja, o entendimento que o método científico tem o papel de melhorar a qualidade de vida da sociedade em conjunto num ambiente democrático transparente.

Quem decide desprezar a ciência age como um negacionista, uma espécie de negar a realidade como forma de escapar de uma verdade desconfortável. Na ciência, o negacionismo é definido como rejeição de conceitos básicos, incontestáveis e apoiados por consenso científico em favor de idéias tanto radicais quanto controversas. O desmonte da ciência no Brasil revela, não só a falta de vontade política, mas uma falta de visão em relação ao papel da ciência em gerar bem-estar e riquezas.

Artigo de autoria do conselheiro do Corecon-RS e diretor da Associação Comercial de Pelotas (ACP), economista João Carlos Medeiros Madail, publicado no Diário Popular de Pelotas, edição do dia 20/10/21.