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A contradição entre a força do agronegócio e a fome no Brasil

O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de alimentos e um dos maiores exportadores para o planeta, devendo manter esta condição nos próximos anos, devido ao ritmo de crescimento que vem apresentando no segmento agropecuário. Ao mesmo tempo em que cresce a oferta de alimentos no país, cresce o numero de brasileiros que passam fome. Nos últimos 30 anos, a história da produção agrícola no Brasil evolui de forma exponencial. Muitos dos espaços férteis nos estados do Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso do Sul, deram respostas imediatas à produção com tecnologia advinda da pesquisa. Nesse sentido, a EMBRAPA, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, tem participação direta nessa conquista, que não para de crescer com avanços no conhecimento praticados em novos espaços como cerrados no Centro-Oeste, antes considerado zonas marginais para cultivos e exploração pecuária.

O primeiro desafio na produção de alimentos abundantes e baratos para uma crescente população urbana foi atendido. Numa segunda etapa, ocorreu com a exploração de grandes áreas na produção de grãos e pecuária para atender o mercado externo e com isso somar divisas para a importação de bens de capital para a indústria, a princípio plenamente atingida. A contradição, nesse caso é constatar que, enquanto milhões de brasileiros passam fome as exportações de alimentos decolam num ritmo crescente.

Embora integre a cadeia produtiva do país, o agronegócio é um mercado dominado globalmente por um seleto grupo de multinacionais. Juntas, as empresas ADM, Bunge, Cargill e Louis Dreyfus, controlam 70% da produção, comercialização e transporte de produtos agrícolas. O setor é marcado por sucessivas aquisições entre grandes marcas, que aumentam a concentração dos mercados de sementes, agroquímicos e terras. Nessa configuração, o foco do agronegócio está no atendimento da demanda global por commodities, que vivem um boom de preços. Os resultados expressivos alcançados pelo segmento no Brasil se justificam também pela desvalorização do real que torna os produtos mais competitivos no exterior. A exportação do agronegócio brasileiro, de certa forma, não compete com o mercado interno.

No cotidiano os brasileiros contam com os alimentos advindos da chamada “agricultura familiar”, responsável por 70% dos alimentos que chegam à sua mesa. Por se tratar de um segmento produtivo, importante para a segurança alimentar no país deveria merecer atenção especial das políticas do governo, da mesma forma que ocorre com o agronegócio. Mesmo sem a atenção que merece, os agricultores familiares têm alcançado contribuições relevantes na produção de hortaliças, frutas e legumes. Esse segmento já sofria antes e durante a pandemia, mas continuou produzindo, enquanto a quase totalidade dos brasileiros, por imposição ficou em casa.

Embora o aumento da fome tenha relação direta com os efeitos econômicos da pandemia, a situação já vinha se agravando nos últimos anos, onde a insegurança alimentar nos lares dos brasileiros das classes menos favorecidas já era sentido. O problema do custo alto dos alimentos hoje é uma questão não só brasileira, mas mundial, ocasionado pela alta dos insumos, problemas climáticos severos como a seca ou excesso de chuvas, agravado pela inflação, guerra na Ucrânia, custo do petrôleo, alto índice de desemprego e, principalmente pouco apoio político a quem continua produzindo.

Os próximos mandatários do país terão aos seus encargos definições importantes a fazer nas próximas décadas; manter o agronegócio no mesmo ritmo sem esquecer-se da produção interna de alimentos para assegurar um futuro mais justo e sustentável para toda a população brasileira, independente das classes sociais. 

Artigo de autoria do conselheiro do Corecon-RS e diretor da Associação Comercial de Pelotas (ACP), economista João Carlos Medeiros Madail, publicado no Diário Popular de Pelotas, no dia 14/07/2022.